Capítulo 57 - Vou dar um jeito

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Noah

Seguimos para a sala de reunião, Alejandro parecia impaciente e olhava para Ian de forma estranha, que estava rígido ao meu lado sem emitir som algum.

Nos acomodamos na mesa e puxei a mão de Ian, em busca de suporte e isso deixou o meu pai ainda mais nervoso, se remexendo na cadeira como se tivesse algo dentro da sua cueca.

- Pai - comecei, pigarreando logo em seguida. - Eu e o Ian, a gente... - Mordi o lábio, sentindo minha pele ficar vermelha gradativamente, agora se era de nervosismo ou de vergonha, não sei dizer.

Respira, Noah.

É só respirar...

Decidi pausar esse discurso e começar com o mais difícil: os abusos. Talvez se eu disparasse aquela bomba antes ele se sentiria mal por não ter me dado atenção e aceitaria o meu relacionamento com Ian como se fosse um pedido de desculpas ou algo assim.

Apertei a mão de Ian enquanto eu falava, com os olhos fixos em Alejandro, cujos olhos brilhavam por algo que não pude identificar, porque nunca vi nenhuma expressão verdadeira vindo dele, não com relação a mim.

Relatei todos os abusos, quando começou e o porquê começou. Queria que ele se sentisse culpado por isso, por não ter feito dela a mulher que merecia, por ter me dado esse cargo que era dele sem que eu pudesse sequer escolher e por todas as vezes que pisou em mim, me tratou como lixo como se eu não fosse nada.

Era a vez de ele sentir alguma coisa, nem que fosse uma parcela do que sofri desde os meus sete anos.

Não hesitei em chorar dramaticamente como se eu estivesse participando de uma novela mexicana, queria realmente causar feridas nele, que soubesse o quanto a sua ausência me machucou, o quanto a falta de um pai fazia para mim deixando um buraco imenso e irreversível dentro do meu peito.

- Ela merece estar lá - falei, com a voz embargada. - Só que isso não livra a sua culpa, é por sua culpa que eu tive que estar ao lado dela, fazendo o seu papel, tentando de alguma forma evitar que essa família desmoronasse!

Ian, que estava ao meu lado completamente sem reação, me segurou para que eu não avançasse no meu pai e não tornasse as coisas ainda mais difíceis.

- Por que você nunca esteve presente? Por que todo mundo é mais importante do que eu, pai? Por que você me odeia tanto? - questionei, metralhando-o com perguntas que ele nem se atreveu a responder.

Ele parecia com nó na garganta e consegui ver aquela máscara de superioridade que ele tinha se desmoronando aos poucos, conforme ouvia meu testemunho e absorvia as minhas perguntas acusatórias.

- E-e-eu não te odeio, Noah - conseguiu falar, levantando uma mão e a fechando num punho, repousando-a de volta na perna, certamente sem saber como chegar até mim, porque nunca tinha tentado. Sempre que tentei falar com ele, era enxotado com uma resposta rude ou tratado como um ser insignificante.

- Meu príncipe - Ian sussurrou e logo seu rosto ficou branco quando pareceu lembrar que meu pai estava na sala também, nos observando. - Noah - reformulou com um sorriso amarelo. - Fica calmo, quer que eu pegue uma água ou algo assim?

Não entendi direito o que ele estava querendo me dizer, até que olhei para as minhas mãos e notei o quanto elas tremiam e o quanto eu estava suado como um maldito porco num dia quente.

Credo, eu teria que tomar um banho urgente!

Sim, pensar com coisas ridículas como banho era uma ótima forma de me distrair e me acalmar, de afastar aquela conversa da minha mente e me concentrar em coisas banais da vida, coisas que geralmente me evitavam, porque a minha vida já não tinha mais nada de banal.

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