Capítulo VIII

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Acordo com o barulho e as vozes vindo do lado de fora da barraca. Antes de sair ajeito os cabelos e calço os tênis de cano médio. Quando abro a barraca e coloco a cabeça para o lado de fora, Peter – Ou Patrick – se abaixa e sorri.


– Bom dia, Chloe, estava te esperando para o café. – Ele percebe minha breve dúvida já que não me lembrava mais qual usava o anel e qual não. – Sou o Peter.

Saio da barraca e sorrio olhando em volta. Não tem muitas pessoas, além de mim e Peter, apenas cinco, mas estavam falando agitadas, sem perceber nós dois ali.
– Podia ter me acordado. – Digo e começo o seguir rumo ao Pântano.

– Não era necessário, e tive ordens para que a deixasse dormir o tempo que quisesse.

– Ordens de quem?

– Não tenho permissão para falar, desculpe.

– Não tem problema. – Sorrio para mostrar minha sinceridade. Seria Rhys?

– E como passou a noite?

– Hã... – Eu não iria falar sobre minha pequena "fuga" e o encontro com Rhys. Talvez ele não queria que ninguém soubesse. Era desnecessário contar. – Foi... agradável.

Ele sorri.
– E onde está seu irmão? – Pergunto olhando em volta, tentando mudar de assunto antes que ele pudesse perguntar mais alguma coisa sobre minha noite.

– Ah, Patrick já está no pântano, está tomando seu café.

– Você já tomou o seu? — Olho para ele. — Ah, por favor, não me diga que ficou me esperando...

– Ainda não, mas não se preocupe. A maioria está se alimentando agora também. – Bem, eu preferia que não estivessem, penso. Odiava ter de ficar sob os olhares de todos, de estar na presença deles. Eu sempre odiei multidões.

– E... O... hum... – Esfrego a nuca, sem graça, sem saber exatamente como entrar no assunto Rhys. – E o líder?

– O que tem ele? – Peter pergunta educado. Ele e o irmão eram, de fato, as pessoas mais amistosas que eu havia encontrado ali até agora.

– Está tomando café também?

– Não, ele está dormindo, teve de ficar acordado até às seis.

– Por quê? – Pergunto, embora já saiba a resposta, mas não queria que ele desconfiasse. Estava um pouco aliviada de não ter de encontrar Rhys no café da manhã.

– Responsabilidades do acampamento, não se preocupe.

– Quem fica no comando enquanto ele dorme ou sai? — Perguntei, apenas pela curiosidade.

– Scar.

Assinto embora eu não soubesse quem era.
Quando chegamos no Pântano, sento ao lado de Peter e Patrick, fazendo confusão de quem era quem, já que estavam com roupas iguais e nenhum dos dois usava o anel do dia anterior, ou qualquer outro acessório que pudesse me ajudar a diferenciar.

– Ali – Peter – ou Patrick – aponta para o homem que estava sentado ao lado de Rhys no dia anterior. – Aquele é Scar.

O homem tinha cabelos grisalhos misturados com loiro e seus olhos eram de um preto chamativo.

Sinto o olhar de alguém sobre mim e olho pra frente, encontrando Dressa na outra mesa, me encarando com a expressão de ódio e revolta. Era claro que ela não gostava de mim, mas não me dei o trabalho de me importar e voltei ao meu prato com frutas e pães.

Acabo de comer e Patrick me acompanha de volta para o acampamento, me pedindo para esperar perto da minha barraca.

– Alguma notícia do meu resgate? – Contive minha curiosidade sobre o assunto desde que acordara, mas agora tinha de perguntar. Estava ansiosa por qualquer informação sobre.

Ele suspira e olha para mim.
– Estamos esperando ainda, Chloe.

Assinto e fico sentada em um tronco perto da minha barraca, como Patrick pediu. Estava controlando minha ansiedade. Esperança, esperança. Repetia em minha mente sem parar quando sentia que poderia perder o controle. Que podia desistir de tudo. Não queria desistir tão fácil.

Patrick demora demais para voltar, então começo andar por ali em volta, as pessoas me ignoravam e eu achava melhor assim. Andei para um pouco além das caixas de roupa, e estou quase voltando quando piso em um buraco enfiando a metade de meu tênis nele. Tiro o pé de lá e me abaixo examinando o local. Havia uma corda minúscula ali, que poderia passar despercebida por qualquer pessoa que não estivesse procurando algo ou prestando atenção.

Pego a corda e a puxo e algo atrás de uma árvore a frente se mexe. Penso em não ir até lá, poderia ser um animal, mas mesmo assim a curiosidade é maior e eu sigo em frente.

Um monte de folhas está escondendo o que se mexeu. Olho em volta e, ao constatar que não tem ninguém, começo a espalhar as folhas para ver o que tem debaixo delas.

É um baú bem velho, não muito grande, que um dia já fora preto e agora está descascado; e as coisas que estavam escritas nele agora estavam distorcidas e empoeiradas, ilegíveis.

Me sento na frente dele passando as mãos na sua parte de cima para tirar o pó, ainda assim, não consigo ler o que estava escrito. O baú devia ter ficado em lugares de terra e mofo por um tempo, e parecia ter dezenas de anos.

A corda que está por dentro do chão – eu, sinceramente, não sei como alguém fez isso – está amarrada na parte de trás do baú, como se para indicar que de todos os montes de folhas ao redor, era ali que estava o baú. O cadeado estava aberto e com marcas, como se alguém tivesse o aberto há pouco tempo.

Abro com cuidado para não fazer barulho e uma poeira dança no ar quando levanto a tampa e me inclino, a fim de ver o que havia ali dentro. Vejo apenas livros.

Mas como sempre fui fascinada por eles, para mim era um tesouro. Havia livros de colecionador ali. Sorrio e me empolgo como uma criança, olhando mais os títulos do fundo. Apesar do local que se encontravam, os livros estavam em ótimo estado, apenas algumas páginas amareladas.

Havia também livros de ciências, com a capa dura e intacta. Outros romances, livros históricos e mais pilhas de livros. Um deles era diferente, e estava no fundo do baú. Sua capa era cinza e instantaneamente me lembrou os olhos de Rhys, e talvez seja por isso que me interessei em ver seu conteúdo.

Tinha uma fita branca o segurando, para que a capa não abrisse, e ele era mais largo que os outros. O pego do fundo da caixa e coloco ao lado de outro que eu selecionara, pronta para abrir e ver o que suas páginas tinham para mostrar.

Mas quando toco na fita branca, ouço um galho se quebrando um pouco adiante.

Guardo tudo na caixa, deixando apenas o livro de capa cinza do lado de fora. Coloco o cadeado de volta, e cubro o baú com as folhas, como o encontrei.

Pego o livro e o abraço, colocando o cabelo por cima deste para que o esconda por completo. Volto correndo para o acampamento e jogo o livro dentro da minha barraca de qualquer jeito. Suspiro aliviada e coloco a cabeça apoiada entre os braços em cima da barraca, gesto de puro alívio.

– O que está fazendo? – Meu coração para e o alívio se esvai no mesmo momento que ouço sua voz. Rhys.

E-eu... Estava...

– Apenas desapareça da minha frente. — Ordenou ele, me interrompendo.

— Se eu conseguisse fugir você não teria mais de se estressar. — Desafio, por um segundo perdendo a noção.

— Você pode tentar, princesa, mas apenas vai se frustrar. — Ele riu com escárnio.

— Eles vão me buscar. — Soltei, mais confiante do que realmente estava com aquela situação. Rhys me olhou sério.

— Em todos os casos, princesa... — Ele desviou os olhos. — Se não vierem, acho que não há mais ninguém que vá te buscar, não é? — Senti o peso de suas palavras e recuei. — E então você ficará até que eu decida o contrário.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now