Capítulo XXIV

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Já haviam se passado duas semanas.

Rhys me treinava, todos dias. Acabei tendo de deixar a cozinha de vez, ajudando nas patrulhas. E treinando.

Rhys me ensinou muitas coisas sobre a floresta, sobre sobrevivência. A neve já havia coberto as árvores e o chão, mas isso não impediu nosso treino, aliás, Rhys ficou feliz de poder me ensinar as coisas no período mais difícil do ano para a floresta.

Minha precisão no arco era quase perfeita. Eu nunca errava.
Eu cacei, peguei uma corsa grande que comemos no jantar. Senti um peso quando a matei, mas Rhys me ajudou com palavras de incentivo. Ou eu sobrevivia, ou a floresta iria se impor contra mim. Foi a primeira vida que tirei.

Rhys me esperava do lado de fora. Eu já não treinava mais de madrugada, até porque Rhys e eu andávamos meio... ocupados nesse horário. Meu treino agora era depois da patrulha, no campo, e eu tinha com quem lutar. Mesmo que a cada golpe acabasse em beijos.

Ajustei o sobretudo azul marinho sobre os ombros e saímos pelos portões, antes dos primeiros raios de sol. Estava frio, a neve havia parado de cair, mas cobria o chão até a altura dos tornozelos, deixando a caminhada mais difícil. Rhys me ensinou novas armadilhas para neve, novos truques para os golpes. Ele me ensinou tudo que sabia.

– É sempre tão calmo assim? – Pergunto. Estávamos em frente ao rio, na Cachoeira Escondida.

A correnteza forte não deixou que a água congelasse, mas não chegamos perto o suficiente para sentir um pingo dela no corpo. Com certeza estaria em uma temperatura de fazer os dentes baterem, ao mínimo contato.

– Bom, que eu me lembre, nunca tive problemas aqui.

– Não... quero dizer as patrulhas. Nosso objetivo é plantar armadilhas para inimigos, perseguir ele, caso apareça, e observar os sinais por onde ele passou. Até hoje nunca vimos nada, nenhum inimigo, nenhum sinal, nada.

– Preferia que tivesse inimigos? – Um sorriso sarcástico brinca em seus lábios, mas seu corpo está tenso.

– Claro que não. – Respondo baixinho, encarando meus próprios pés. Rhys suspira ao meu lado, entrelaçando os dedos nos meus.

– São importantes. As patrulhas. Depois que... do que aconteceu com minha mãe eles atacaram muitas vezes, e talvez haja um motivo para estarem quietos, talvez esperam que baixemos a guarda.

– Foram os Legionários do Norte? – Ouso perguntar depois de algum tempo. Rhys sabia o que eu queria dizer.

– Não. – Ele balança a cabeça. – Não, não foram.

Embora minha curiosidade estivesse apitando, querendo perguntar quem foi, fico calada. Não queria que ele ficasse relembrando aquela época, o que aconteceu, o que ele foi obrigado a assistir, sozinho.

— Quando eles atacaram o acampamento, e você matou aquele Legionário... Foi por que ele tinha visto meu rosto? — Solto o que circulava minha mente há semanas.

— De fato eu não poderia deixa-lo vivo porque ele reconheceu você, por isso quis te matar. Normalmente apenas causam terror e vão embora. Ou ele te mataria, ou, se fosse embora, venderiam a informação para o rei, ou eles mesmo organizariam um ataque maior para te levar e negociar com o castelo, ou o que quer que quisessem. — Estremeci de leve, apertando o casaco ao redor do corpo. — Mas eu mataria, Chloe, mataria para te salvar mesmo que nada mais estivesse em jogo.

Rhys fez círculos tranquilizantes no dorso de minha mão, e sorri para ele antes de colocar a máscara de volta, enquanto voltávamos ao campo de treinamento.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now