Capítulo XVII

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Vez ou outra eu me pegava pensando em como teria sido se o casamento tivesse acabado, se eu não tivesse sido traga para a floresta. Eu teria me tornando princesa e então estaria lidando com minhas responsabilidades como tal. Certa vez Caleb dissera que algumas responsabilidades sobre Legionários iriam ser minhas também, e eu me perguntava se eu teria conhecido Rhys. Se em algum momento eu saberia quem ele era, e o veria como inimigo do Reino, de mim. E até mesmo se eu chegasse a vê-lo quando fosse haver alguma negociação. Eu seria a esposa que fica sentada em uma poltrona confortável no fundo do escritório, isso se eu tivesse permissão para ficar lá. Eu teria sentido alguma coisa ao ver seus olhos cinzentos? Ao me intrigar com seus cabelos esbranquiçados? Ao encará-lo?

Ele teria me odiado por eu governar o Reino que ele despreza?

E minha vida lá dentro... Eu teria me acostumado a todas as regras e elas se tornariam tão naturais para mim quanto se tornaram para a rainha? Eu teria sempre a mesma rotina e faria tudo de modo automático, vivendo em uma vida que não pertencia, me matando mais a cada dia para me encaixar e convencendo a mim mesma que eu tinha de fazer aquilo? Que era meu dever?

Porque foi isso que eu fiz. A cada dia, a cada semana, eu me abandonei para me tornar o que esperavam que eu fosse, esmagando a voz que gritava que eu seria completamente infeliz se eu continuasse a fazer aquilo, e que quando percebesse, já estaria tarde.

Eu fiquei magoada quando Rhys dissera sobre me matar, mas o perdoei, e talvez eu estivesse sendo patética ao me convencer com algumas palavras, mas eu estava bem com isso, estava bem perdoando-o.

No entanto, a ideia de fugir ainda não havia escapado totalmente de minha cabeça, embora eu não estivesse mais tão focada.

Eu não podia ficar para experimentar se Rhys de fato não me machucaria, ou qualquer um ali. Aquela história inteira ainda me era muito estranha, como os guardas que nunca me buscaram, ou o jeito mortal que as pessoas olhavam para mim quando cheguei. Eu precisava de respostas, e eu iria atrás delas quando fugisse.

Talvez depois de descobrir o que estava acontecendo de verdade eu voltasse para Nevra, para Rhys, mas agora eu tinha certeza que jamais voltaria ao castelo. Porque, mesmo que tivessem um motivo excelente para não terem mandado os guardas, eu sentia algo estranho no ar desde que encontrara aquela seringa na sala do rei, embora tivesse a ignorado. Porque eu não queria ser a boneca linda e perfeita de Caleb, aceitando suas desculpas quando me dissesse coisas ruins simplesmente porque era meu dever.

Eu aceitara as desculpas de Rhys, mas porque me importava, porque ele era alguém importante, porque ele me fez me apaixonar, me treinou, me ensinou coisas, e não me forçou um casamento, não disse que eu era inútil e sem benefícios.

E mesmo que ele estivesse me mantendo relativamente presa neste lugar, eu não tinha outro para ir, de qualquer forma.

Não sabia onde era minha casa agora, mas eu encontraria uma.

Respirei fundo e me levantei, enfrentando a água gelada do banho e vestindo um casaco sobre o suéter depois dele. Calcei as botas negras, descendo as escadas logo em seguida e indo direto para a cozinha. Selena e Laurien não estavam lá, mas comecei separando os pratos sem elas.

Minutos depois a porta se abriu e ambas entraram.

— Desculpe o atraso, Chloe, estávamos colhendo flores perto da colina, batemos em sua porta para te convidar, mas acho que estava dormindo.

De fato meu sono havia sido mais pesado na última noite, talvez porque eu mal tenha fechado os olhos na última semana.

— Tudo bem. — Sorri e elas logo se apressaram em me ajudar.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now