Capítulo XX

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Eu odiava escaladas.

Quando finalmente cheguei lá em cima, me sentei ofegante, uma perna de cada lado do muro. Rhys me olhou com preocupação e eu só assenti, em uma conversa silenciosa de que eu estava bem.

Olhei para dentro, para o Reino.

De fato o Centro de Comércios era perto, pelas luzes e movimento mais à frente. Porém, como Rhys dissera, o beco em que iríamos descer e as casas em volta estavam em silêncio, abandonadas. Rhys puxou a escada de corda e jogou ela para o lado de dentro. Ela ainda estava presa e dobrada por cima do muro.

Ótimo. Mais uma vez.

Rhys desceu primeiro com toda a sua elegância e agilidade. Observei, mesmo com a parca luz da lua, seus músculos trabalhando, sua concentração para se manter na corda, a jaqueta se esticando tentando abrir espaço para a carne musculosa, os cabelos tão bem destacados naquele mundo negro.

Ele pulou, silencioso como um felino, e o perdi de vista, pois lá em baixo estava tudo escuro. Comecei a descer, atrapalhada, mas fora melhor que a subida. Quando cheguei a poucos metros do chão, Rhys me pegou pela cintura e me ajudou a descer. Voei no ar por alguns segundos, em seus braços, e quando ele me desceu, sorri mesmo que ele não pudesse ver com a escuridão.

Puxei a máscara negra e cobri a boca, as bochechas e o nariz. A noite estava fria, para minha sorte, ou morreria sufocada ali dentro. Coloquei o capuz tapando bem o rosto e joguei os cabelos para dentro dele. Peguei a mão de Rhys, que entrelaçou os dedos no meu e começou a andar. A lua iluminava um pouco do seu cabelo, e pude ver que estava de cabeça erguida, mas sua mão apertava minunciosamente a minha, em um sinal mínimo de tensão.

Andamos por alguns becos até chegar a uma ruela agitada e iluminada demais, para meu azar. De fato parecia haver um evento programado, já que milhares de mulheres se empoleiravam pelas lojas, admirando e experimentando vestidos. Tentei manter a cabeça baixa enquanto passava por aquela parte movimentada, mas eu nunca estive em um Centro de Comércios, e as milhares de coisas ali me impressionavam.

Rhys caminhou de queixo erguido e os dedos ainda entrelaçados aos meus. Eu estava ao seu lado e pude ver que algumas pessoas olhavam curiosas para seu cabelo, tão chamativo, mas ele parecia não se importar e continuou andando confiante. Já a mim, tremi quando me olharam com mais que curiosidade, com certa dúvida, com certeza pensando que já me viram em algum lugar. Então, abaixei a cabeça e tossi, como Rhys aconselhara.

Me obriguei a manter a cabeça mais baixa e, por fim, saímos das partes mais movimentadas. Rhys parou em um canto e olhou para mim. Mantive o capuz bem seguro enquanto o encarava de volta.

– Pode andar por estas ruas, mas tente não ir muito longe, não andar muito rápido. Discretamente olhe para trás, às vezes, para ver onde estou. Eu vou estar sempre bem atrás de você. Quando escolher o vestido é só olhar para mim e dar um aceno sútil com a cabeça. – Ele sussurra e eu assinto.

Com certa hesitação, ele solta nossos dedos e eu olho ao redor. As ruas não tinham luzes próprias, e a luz fornecida ali era a da lua e a que vinha de dentro das lojas. Era uma ruela bem mais deserta que as outras.

Olhei para Rhys, assentindo mais uma vez. Ele ficou tenso e seu corpo se enrijeceu quando comecei a me virar, afim de explorar o lugar.

Comecei andando pelas ruas, olhando as vitrines, vez ou outra me interessava por algum vestido, mas desistia quando via a loja cheia demais. Andei e virei algumas esquinas, me revezava em tossir, olhar as vitrines e abaixar a cabeça. As vezes olhar para trás, como Rhys instruiu.

Já estava andando a uns dez minutos, acabei em uma ruela pequena e um pouco apertada. As lojas não eram estabelecimentos com vitrine ou coisas do tipo, mas sim barracas de lona formando um casebre com a parte da frente aberta, enquanto as bancadas de cada lado da rua tinham diversos tipos de coisas.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now