Capítulo XXVI

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O espaço do teatro era muito bonito e... gigante! O palco era alto e bem iluminado, as cortinas de veludo roxo com o símbolo do Reino — um botão de rosa — estavam fechadas com elegância. As cadeiras eram de veludo da mesma cor das cortinas, o estofado era macio e eram dispostas como em uma arquibancada, uma fileira mais alta que a outra. O teto era alto e negro, holofotes colocados nas paredes iluminavam o palco, enquanto nós ficávamos em um escuro agradável, iluminados apenas pelas luzes refletidas no palco. Todo o ambiente parecia ser decorado em tons de roxo e lilás e preto.

Tirei a máscara quando nos acomodamos nas cadeiras, no meio da fileira. Com o escuro, ninguém me reconheceria, e ninguém tiraria os olhos da peça para ficar olhando para trás. Eu havia escolhido uma roupa discreta: casaco marrom com capuz, blusa e calças negras e botas acompanhando o tom do casaco.

Evitei olhar ao redor sem a máscara, mas automaticamente meus olhos voam para os assentos ali no alto, em uma espécie de camarote. Aquelas cadeiras... luxuosas e grandes. Quatro delas. Uma delas era para mim. Meu corpo fica tenso, as pessoas vão se colocando em seus lugares, na frente, atrás, mas não consigo desviar os olhos daquela quarta cadeira. Rhys pega minha mão e aperta minunciosamente.

– Eles não virão hoje. – Diz, sussurrando perto do meu ouvido, seguindo meu olhar. – Me certifiquei disso, fique tranquila.

– Estou tranquila. – Tento passar mais confiança do que realmente sinto, mas, no fundo, acho que desejava que eles tivessem ali. Tão perto, mas sem saber, eu estaria um passo a mais na frente deles, um orgulhoso passo. Rhys sorri fraco ao meu lado.

– Você... sabe que era para você, não é? – Ele aponta a quarta cadeira com o queixo, e abaixa tanto o tom da voz que tenho de me inclinar para ouvir.

– Imaginei.

– Instalaram logo depois que você foi para o palácio. – Seu tom parece pesado.

– Ah. – É tudo que consigo soltar.

– Ouvi vocês falarem em palácio? Sabem algo da princesa desaparecida? – Uma voz feminina pergunta atrás de mim, e quando começo a virar o rosto Rhys me lança um olhar de alerta, então começo a tossir e baixo a cabeça.

– Ah, não, não. – Rhys responde, olhando para a mulher, virando um pouco do corpo. Continuo em minha crise de tosse. Se eu não fosse a princesa desaparecida, poderia até atuar naquele palco, minha crise estava verídica demais até para mim. – Minha parceira e eu estávamos comentando que este lugar é um palácio. Você está bem, meu amor?

A tosse, de repente, se torna verdadeira, e levo segundos para parar. Rhys me oferece o braço para encostar a cabeça e eu aceito. Ele propositalmente tapa grande parte do meu rosto no gesto.

– Ah, certo. Sua parceira parece bastante resfriada, está tomando algum remédio, docinho?

Sei que ela está falando comigo, mas continuo olhando para baixo, sob os braços firmes de Rhys. Ele deitou um pouco o rosto, e sua bochecha cobriu minha testa. Senti a barba nascendo, a temperatura quente de sua pele, e meu corpo tratou de responder ao toque. Rhys me segurava com urgência, tenso, como se estivesse me prendendo a ele, para que ninguém mais sequer olhasse para mim.

– Sim, obrigada. – Respondo alterando um pouco a voz.

Antes que ela diga mais alguma coisa, milagrosamente, as luzes se apagam e todos ficam em silêncio enquanto as cortinas se abrem, revelando uma menina baixa de cabelos curtos na altura dos ombros, e então a peça divertida começa, e a mulher atrás de nós não diz mais nada.

***

O sol já estava alto quando me levantei. Rhys não estava em lugar algum da casa. Vesti uma regata azul pardo, uma calça marrom desbotada, e desci para cozinha. Pelo visto, o horário do café já havia se passado, pois a mesa estava cheia de pratos e copos, mas não havia ninguém ali além de Laurien e Selena.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now