Capítulo XV

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— Devíamos fazer uma sopa, as noites estão cada vez mais frias. — Sugere Selena. Sorri e assenti.

Selena e Laurien eram as cozinheiras daquele grupo e, após perceber que eu tinha muito tempo livre depois dos treinos, resolvi que precisava de algo para me ocupar e então comecei a ajuda-las. Após três dias pegando dicas sobre temperos e tempo de cozimento, eu quase fazia uma comida tão boa quanto a delas, e criamos uma amizade que fluía melhor a cada dia.

Assim como com Rhys ou Patrick ou Peter. Amigos. Eu criara amizades ali naquele acampamento e me questionava se eu sentiria falta quando partisse, seja lá quando isso fosse acontecer. E por mais que eu negasse a mim mesma, havia dias em que eu não queria ir embora ou pensar em voltar. Havia dias como a véspera, onde Selena e eu fomos colher folhas na horta que mantinham ali perto, e conversamos sobre livros e poesias e melodias, e falamos tanto que já escurecia quando nos lembramos que tínhamos de voltar. Rimos durante boa parte do caminho pelo nosso descuido, e rimos ainda mais quando ambas soltamos um grito alto ao ouvir um barulho e correr, para só então perceber que era um inofensivo esquilo.

E quando o jantar estava pronto e as pessoas vieram comer, elogiando o assado que eu havia feito, não pude esconder o orgulho e a satisfação que me invadira. Ou até mesmo depois disso, quando alguns de nós sentamos ao redor de uma fogueira e contamos histórias, depois falamos sobre espadas e as melhores formas de aplicar golpes, e Patrick e Rhys fizeram demonstrações ao vivo, que rendeu não só conhecimento sobre táticas como muitas risadas.

E naqueles dias... Naqueles dias eu não pensava no Reino. Não pensava no castelo ou no orfanato, porque isso me faria questionar a mim mesma se eu ainda queria desesperadamente voltar para ficar presa no orfanato ou ser a esposa perfeita e dócil do príncipe.

E se eu pensasse, se me questionasse, talvez eu me assustasse com a resposta.

— Vamos para Nevra no fim dessa semana. — Comentou Laurien. — Ainda não conhecemos também, mas Patrick disse que a cozinha é grande e espaçosa, bem diferente dessa, e a horta fica bem atrás. — Ela riu. — Assim vocês duas não precisam se preocupar em fugir de esquilos assassinos quando forem colher alguma coisa.

Revirei os olhos sorrindo enquanto Selena jogou um pedaço de cenoura nela, que agarrou e comeu rindo também.

— Da próxima vez — Disse Selena enquanto cortava alguns legumes. —, você irá sozinha.

Eu ri enquanto pegava os pratos no armário e colocava em pilhas em cima da mesa.

***

Já era quase noite quando Rhys e eu paramos o treino. Meus braços e pernas latejavam, e me abaixei sobre meu próprio corpo para tomar fôlego. Embora eu estivesse suada cabeça aos pés, não arrisquei receber o vento cada vez mais frios ao decorrer dos dias; e permaneci de casaco. Estávamos no Rio Escondido, uma forma de despedir daquele lugar já que no dia seguinte estaríamos indo para Nevra. Respirei fundo, endireitando o corpo, e acompanhei Rhys ao me abaixar perto do rio e lavar o rosto. A água estava bem mais gelada do que quando pulamos ali, há quase um mês atrás.

— Quanto tempo de caminhada até Nevra? — Eu perguntei depois de lhe entregar a espada que usava nos treinos. Rhys molhou os cabelos antes de se levantar e me responder:

— Duas horas e meia, talvez.

Arqueei as sobrancelhas.

— Acho que dispensarei o treino amanhã, então.

— É, acho que posso te dar uma folga. — Disse ele e eu sorri. Nos sentamos em uma das rochas, admirando a água correr enquanto recuperávamos alguma força. — Desmontaremos as barracas pela manhã.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now