Capítulo XXXIII

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O dia estava ameno, a neve estava derretida pela floresta, os pássaros cantavam.

Corri por horas, sem parar, e quando o fazia, não ficava por mais de cinco minutos.

Durante a longa corrida cheia de obstáculos como raízes altas, terra escorregadia e troncos jogados, usei boa parte do tempo para pensar, embora ainda estivesse alerta; as espadas pesadas em minhas costas, convidando a pegá-las ao menor sinal de perigo.

Uma chama crescente de amor e esperança enchia meu peito a medida que a mágoa e o pesadelo se dissipava. A medida que eu entendia que, não importava o que acontecesse, Rhys ainda estaria comigo, e que ele, de fato, me amava, mesmo diante de todas as circuntâncias.

Eu era o alvo o tempo todo, eu era a missão que tanto falavam. Por isso todos me olhavam torto, por isso alguns lançavam olhares reprovadores quando souberam que estávamos juntos. E mesmo assim, sendo líder, Rhys não se importou com isso, com a discórdia de seu povo, e permaneceu comigo.

Ele passou por cima de si mesmo, do ódio e da dor, por várias vezes, e usou todos os recursos para me proteger, mesmo os mais extremos. E em momento algum ele me deixou pensar que eu era fraca, que eu não poderia passar por aquilo. Não. Ele acreditou em mim quando todos me julgavam indefesa, inclusive eu mesma, e então me mostrou que eu podia ser quem eu quisesse ser, sem necessidade de mudar por ninguém, a não ser por mim.

E eu percebi que eu deixei que o castelo entrasse na minha cabeça e me moldassem da forma que queria. Eu me deixei confiar neles quando se mostraram educados. Aceitei meu destino quando vi que nem tudo era tão ruim como presumi lá dentro. E simplesmente fiquei surda para a pessoa dentro de mim que gritava a cada vez que estava sendo mais sufocada por aquela minha nova versão construída por outras pessoas. Fiquei cega para a verdade que estavam me moldando.

E quando meu sorriso e meus pensamentos hesitaram enquanto eu andava sobre o tapete vermelho do casamento, eu escutei eu mesma, lá dentro, dizendo que eu seria completamente infeliz se continuasse. E Rhydian me tirou de lá.

E eu percebi, tempos depois, que não se deve aceitar que te mudem apenas para que os agrade. A única pessoa que eu deveria agradar, era a mim mesma.

Com tantos pensamentos na cabeça as horas passaram rápido enquanto eu corria e suava, e torcia para encontrar Rhys ou para que as pessoas tivessem recuperado Nevra e tudo estivesse bem.

Mas então eu vi, de longe, a fumaça subindo por entre as árvores. E quando me aproximei, os portões estavam completamente abertos e uma fumaça tóxica circulava todo o perímetro em uma densa névoa, como se o ataque tivesse acontecido há apenas algumas horas atrás.

Comecei a tossir e puxei e levantei o braço, cobrindo o rosto, enquanto a outra mão estava pronta para pegar a espada ao menor sinal de perigo.

Mas parecia que tudo estava vazio.

Avancei pelos portões, tentando enxergar em meio a névoa de fumaça. Senti uma dor profunda ao pisar no asfalto velho e ver algumas casas destruídas. Casas que fizeram parte da minha vida durante os últimos meses. Onde tive uma vida tão tranquila quanto intensa. Onde meus amigos moravam. Meu povo.

A maioria das portas foram arrombadas, as janelas quebradas e os móveis revirados, jogados nas ruas. Senti as lágrimas turvando meus olhos enquanto outra crise de tosse me atacou.

Gritei o nome de Rhys.

Muitas vezes.

Gritei por Selena e Laurien.

Gritei por Patrick e Peter.

A tosse começava a me deixar fraca quando não consegui segurar o choro que irrompeu de minha garganta.

Se eles não estavam aqui, se haviam lutado, então foram levados.

Ouvi passos correndo atrás de mim e me virei rápido, sacando as espadas, embora estivesse tão fraca pela fumaça tóxica que os cabos pareciam bem mais pesados.

Mais lágrimas rolaram quando vi um dos gêmeos e Dressa correndo em minha direção. Comecei a tossir de novo, e as espadas escaparam de minhas mãos.

— Chloe! Você não pode respirar essa fumaça! — Dressa cobriu meu rosto com uma máscara enquanto uma tontura forte se abateu sobre mim, e o gêmeo me segurou antes que eu caísse. Ele me pegou no colo e começou a correr

— Onde... ele está? — Falei com dificuldade em meio a tosse.

— Evite falar agora. — Instruiu o gêmeo, e logo que saímos da camada de fumaça eu respirei fundo, largando a máscara, sentindo meus pulmões queimarem e minha visão ficar turva. Nem percebi que ainda chorava até sentir meu rosto molhado.

— Onde...? — Não consegui continuar antes que outra crise de tosse me atacasse. Dressa me encarou.

— Eu não sei. — Murmurou ela.

Senti meu coração se partindo. De novo e de novo, e comecei a chorar, sem conseguir ouvir o que mais eles diziam.

— Pare de chorar e forçar os pulmões. — Foi tudo que entendi em meio aos prantos.

Mas não parei.

E senti culpa e vergonha.

Porque eu queria ter lutado ao lado dele. Eu queria ter me rendido naquela noite e assim Rhys não teria continuado me atacando, e eu não teria fugido. Queria ter lembrado que ele prometera jamais me machucar, e assim desconfiar de alguma coisa.

Eu queria ter ficado.

Me senti culpada porque se Rhydian tivesse me matado no castelo, Nevra não teria sido atacada e destruída, contando que jamais saberiam quem fez aquilo.

Me lembrei do meu pesadelo, noites atrás.

Chorei tudo que segurei durante aquelas duas semanas enquanto minha visão escurecia e eu ficava ainda mais fraca.

E em algum momento eu apaguei.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now