Capítulo XXIX

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Os dias pareciam se arrastar, os minutos eram eternos e as horas intermináveis. Tentei mesmo me distrair de novo, como na colina, mas logo na noite do primeiro dia, não pude me controlar mais. Não ter ele ali, aquecendo aquela outra parte da cama era horrível. Não ter seus braços fortes ao meu redor, seus beijos carinhosos, sua voz rouca. Senti um completo vazio quando me deitei e não consegui dormir ali.

Me deitei no sofá. Era insuportável demais não ter ele ao meu lado, mesmo que eu soubesse que ele iria voltar. Eu ficava me lembrando de minha vida mórbida e vazia no orfanato, me sentia solitária demais para suportar voltar a me deitar sem ele. E quando me deitei no sofá duro, velho e um pouco fétido de mofo, eu finalmente consegui pegar no sono. Não sonhei com nada. Nem na noite seguinte, nem mesmo nas outras tantas noites. Foram as cinco semanas mais longas da minha vida, e eu não me conformava de como o tempo parecia contra mim.

Acordei antes do alvorecer no dia previsto para eles chegarem. Laurien acordou pouco depois e ambas pegamos uma manta e nos sentamos sobre pneus velhos, em frente aos portões. Esperamos impacientes. Selena se juntou a nós pouco depois. O céu estava ficando cada vez mais claro, meus dedos doíam com as feridas que acabei provocando ali.

– Sinceramente – Selena começa. – Se for para ficar com as pernas inchadas de tanto andar para lá e para cá, e ficar com os dedos a ponto de sangrar, eu prefiro ficar sozinha. – Laurien e eu olhamos feio para ela que deu de ombros. – Vocês estão horríveis.

Torci o nariz para o comentário. Eu sabia que era verdade. Laurien e eu tínhamos olheiras enormes, os cabelos embaraçados, rugas de tensão e preocupação. Mas, bom, era inevitável quando as pessoas que amávamos estavam do lado de fora das muralhas de Nevra, em território inimigo.

– Não é essa a questão. — Explicou Laurien. — Se você ou Chloe estivesse lá, eu estaria tão preocupada quanto agora. Pessoas importantes, que amamos, nos deixam vulneráveis, isso é inegável, mas há aquelas por quem vale a pena se doar dessa forma. O amor é lindo, de fato, mas é cruel.

— Bom... Contando que Chloe não vá fazer esse tipo de coisa e que você não abandone a cozinha, estou salva de tais preocupações. — Comentou Selena, esticando o corpo.

– E o Oliver? Ele também é Caçador apesar de não ter comparecido a essa missão. – Laurien praticamente grita e Selena lhe dá um beliscão.

– Ele pode estar perto, sua doida! – Minha companheira de preocupação abre um sorriso presunçoso.

– Achei que não se importasse, afinal, você não gosta dele...

– Não gosto, e também não me importo, mas não quero ele ouvindo coisas e se confundindo por aí. – Selena ralha.

– Uma pena, eu já havia criado esperanças. – A voz masculina atrás de nós faz Selena ter um sobressalto, quase caindo do pneu.

Olho para atrás a tempo de ver o homem alto, cabelos ruivos e rosto sardento. Já o vi algumas vezes antes, mas não sabia do seu nome. E pela expressão de espanto e o rubor nas bochechas de Selena, aquele era Oliver.

– Me desculpe o incômodo, meninas, estava pensando em chamar Selena para o café.

Nossa amiga engole em seco, está quase tão vermelha quanto um tomate bem maduro. Ela, por fim, fica de pé, um tanto receosa. Está com dificuldades de se mover ou encontrar um lugar para colocar as mãos e os olhos. Sorrio diante da cena. Me trazia velhas lembranças além de contrariá-la sobre o que ela mesma dizia ainda há pouco.

– Claro. – Ela finalmente diz algo e acompanha o ruivo pelo asfalto.

Laurien e eu observamos atentamente até ambos terem sumido na esquina. Nos entreolhamos e começamos a rir.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now