Capítulo XI

2.1K 293 27
                                    

Não consigo comer muito durante o almoço. O que Peter me contara não saía da minha cabeça. Eu já desconfiava, mas ainda tudo aquilo estava muito, muito confuso.. Logo depois de me contar, Patrick apareceu e pediu que o irmão fosse em algum lugar, então não pude perguntar mais nada. Mas eu tinha muitas, muitas dúvidas.

Por que não iriam me buscar? Por que não me contaram? Por que eles estão me mantendo aqui? Por que aqueles guardas mentiram? Por que inventaram história da troca?

Para cada resposta, era uma nova pergunta.

Eu sabia que mais perguntas viriam quando eu mesma fiz aquela pergunta a Peter, mas eu precisava mesmo saber. Informação sempre era importante.

— Não vai comer? — Tenho um leve sobressalto quando Patrick me pergunta, me arrancando de meus pensamentos. Eu mal havia comido duas colheres cheias.

— Estou um pouco sem fome. — Sorrio sem-graça.

— Não precisa comer, se não quiser.

— Vou tentar mais um pouco, obrigada.

Ele assente e volta ao seu próprio prato. Bom, eu não queria desperdiçar comida, então fiz um esforço e engoli algumas colheres. Rhys não estava ali, talvez devesse estar descansando, como sugeri. Ele disse que esteve fora, provavelmente enquanto eu dormia. O que ele estaria fazendo? Resolvendo com os guardas para que não me buscassem? Teria ele dito que não queria mais a troca?

Termino de comer com certa demora, Patrick me leva de volta ao acampamento enquanto seu irmão sai pela floresta.

— Escute, Chloe — Ele diz, quando estamos na floresta. —, eu ainda me sinto culpado pelo que houve com você, eu não devia ter saído de lá e...

— Está tudo bem. — Consolo e toco seu braço. — Não foi sua culpa.

— Eu não devia ter saído de lá.

— Você precisou, não imaginou o que poderia acontecer.

— Sim, mas era só um barulho qualquer, não devia ter o seguido e deixado você sozinha. Eu falhei.

— Barulho? — Mas não fora Bill que pediu para trocar de lugar com ele a mandado de Rhys?

— Imagino que não tenha escutado, estava distraída.

— Não, eu não ouvi nada. — Respondo com a voz distante, pensando.

— Agora me diga, Chloe, o que aconteceu lá?

— Tudo bem. — Por mais que ainda não tivesse total confiança nele e talvez jamais teria, não acho que faria mal em lhe contar. Suspiro e começo devagar. — Eu estava brincando com uma borboleta e...

—Patrick, estamos sendo atacados! — Alguém grita.

No instante seguinte tudo vira um caos. Pessoas correndo e gritando enquanto pessoas totalmente vestidas de vermelho se aglomeram. Uma bomba explode perto de nós e isso é o suficiente para nos fazer correr. A fumaça aumenta rápido e todo o lugar fica coberto pela neblina tóxica.

Perco Patrick de vista, não consigo enxergar nada além da densa fumaça. Começo a tossir. Corro, mas nem sei para onde estou indo. Para o lado certo? Para os invasores? Eu não faço ideia. Estou em choque apenas pensando em sair dali. Não tenho tempo para sentir medo, embora meu coração batesse forte sob minhas costelas.

Tenho a impressão de ouvir Rhys me chamando, mas não consigo concentrar com toda aquela tosse e barulho e pessoas correndo. Meus pulmões estavam em chamas, não iria aguentar muito. A cada vulto preto que passava, eu tentava o seguir. Já havia notado que todos aqui só usavam essa cor. Pego uma faixa larga que acho no chão e a amarro na boca e nariz. Ajuda um pouco, me fazendo respirar menos daquele cheiro tóxico. Continuo correndo sem ter ideia de onde ir. Vultos passam correndo por mim a toda hora, mas não consigo os acompanhar mais. Estou tentando chegar em algum lugar que não tenha fumaça, que eu possa respirar direito, ver o que acontece ao meu redor.

Um puxão forte em meu cabelo me faz gritar e parar. Olho para trás com dificuldade a tempo de ver a pessoa trajando vermelho com uma faca na mão. Dou um chute forte em sua canela e ele me solta, mas não cai. Consigo desviar de todos os golpes que ele faz na clara intenção de me matar. Mas estou fraca, sem fôlego, meus pulmões doem, não vou aguentar muito. Preciso fugir. A dor onde levei todos aqueles chutes de Bill ameaçando voltar pelo esforço.

Tento correr, mas sempre tenho que parar para desviar de sua faca ou sua mão. Eu tinha que agradecer muito ao Sr. Oliver, ele me ensinou a desviar de golpes com destreza e acertar alguns lugares vitais, quando esteve no orfanato, alguns poucos anos atrás. Não fosse por ele eu já estaria morta agora.

O homem a minha frente não desistia. Ele era alto e forte, isso o ajudava, mas como dizia o Sr. Oliver, eu era magra e ágil, então também podia usar isso ao meu favor quando fosse desviar.

Consigo achar um galho grande e pesado no chão. O pego rápido e o uso em minha defesa quando o homem iria desferir um golpe em meu rosto. Sua faca agarra no galho e o puxo tomando dele a arma. Mas, é claro, ele tem outra, pelo menos seria uma luta justa agora.

Ele desfere golpes e eu desvio, tento o acertar também, mas ele é rápido e eu não tenho tanto treino assim para uma luta de verdade mano a mano. Em uma das minhas investidas tropeço e caio começando a tossir novamente. Minha faca havia caído longe e eu não conseguia parar de tossir. Rolo para o lado, ainda tossindo, quando ele faz um golpe. O homem acerta de raspão meu braço e eu grito tampando o sangramento com a mão. Olho para cima, ele está segurando a faca rente ao meu peito, ele vai me matar, não consigo mais lutar, nem me levantar, ou mesmo parar de tossir.

Fecho os olhos e espero, como fiz com Rhys no palácio, mas agora este homem realmente vai me matar e sei que lutei o máximo que podia. Espero... espero... nada.

Abro os olhos a tempo de ver Rhys em cima do homem, ele está tentando o enforcar, mas o homem está dando socos em seu rosto. A cólera no olhar de Rhys é notável de longe. O homem está perdendo as forças e não consegue mais o bater, e depois ele não faz mais movimento nenhum.

Um homem acabou de morrer na minha frente. E não tenho tempo para sentir o peso e o choque disso porque começo a tossir de novo e Rhys corre até mim. Ele usa uma máscara.

— Vou tirar você daqui. — Antes que eu possa dizer ou fazer qualquer coisa ele me pega no colo e começa a correr. Escondo a cabeça em seu peito tentando fugir da fumaça. O corte em meu braço ainda sangrava e eu me sentia fraca, sonolenta talvez, mas não iria desmaiar agora.

Estava exausta.

Sinto o ar ficando cada vez mais limpo. Quando toda a fumaça acaba, tiro a flanela da boca e respiro fundo. Meus pulmões agradeciam, mas ainda ardiam muito. Olho para trás, todo o caos, todo... tudo.

Rhys me coloca no chão. Estamos no Pântano.

— Os outros estão na cabana de Scott, preciso te levar para lá, mas antes tenho que amarrar algo em seu braço e você precisa beber água. — Ele diz ofegante. Assinto.

Rhys tira algo do bolso, um lenço, e amarra em meu braço, como dissera. Entra na cabana que usávamos para comer e volta no mesmo segundo com um copo grande de água. Bebo um pouco refrescando a garganta, mas nada fazia parar de arder. Começo a tossir de novo e Rhys me olha preocupado fazendo carinho em minhas costas, um calafrio vem na mesma hora acompanhado de algo no estômago.

— Olha para mim. — Ele pega meu rosto entre as mãos quando paro de tossir. Imediatamente um arrepio vem, junto de uma batida falha do meu coração. — Você vai ficar bem.

— Sim. — Sussurro encarando seus olhos.

— Eu sei.

Seguro uma de suas mãos e acaricio sem ter noção do que estou fazendo. Ele também não parece perceber o que faz. Ambos estávamos sendo guiados pelo olhar do outro, quase inconscientemente. Talvez houvesse alguma droga em toda aquela fumaça, talvez eu houvesse desmaiado e estaria sonhando aquilo tudo, mas mesmo assim falei de novo:

— Vou ficar bem.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now