Capítulo XXX

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Não sei quanto falta para amanhecer, mas espero que não muito.

Tento controlar as batidas do meu coração enquanto desço a rua escura calçando as botas e o suporte enquanto corro. Coloco as espadas no lugar e não olho para trás enquanto acelero o ritmo até chegar no portão. Não posso olhar para trás. Não posso pensar em nada.

Corro sem fazer muito barulho. A lua iluminava o meu caminho, mas eu gostaria que estivesse tudo na completa penumbra. Rápido, eu pego uma lanterna nas caixas antes de chegar ao portão, e praguejo baixinho quando paro em frente ele. Eu não fazia ideia de como iria abrir aquilo, mas tinha que ser rápido, Rhys já devia estar me procurando.

Tateio procurando alguma fechadura ou algo do tipo, mas não vejo nada, não sinto nada. Começo a entrar em um leve desespero. Não sei quanto tempo levaria para Rhys chegar, mas sei que não seria muito. Nunca reparei em como aqueles portões se abriam, por que não tinha chegado nessa parte do planejamento antes de desistir da fuga?

– Muito desesperador, eu imagino. – Tenho um sobressalto quando ouço a voz vinda de algum lugar da penumbra.

Não reconheço imediatamente, mas quando ele entra na luz que a lua fornecia me seguro para não cair de joelhos. Eu, com certeza, devia ter feito algo muito errado sem saber. Nunca desejei tanto ter mais sorte enquanto encarava Bill.

– Fique longe. – Digo cautelosa. Ele está com as mãos nas costas o que me deixa ainda mais alerta. Não conseguia enxergar o que tinha ali, poderia ser uma espada também.

– Quanta falta de modos. – Ele diz e estala a língua. – Sabe, você nunca disse para ninguém sobre aquele dia. Se tivesse dito eu provavelmente estaria morto agora.

– Duvido muito. – Levanto o queixo, fechando os punhos para não acabar pegando as espadas em minhas costas por instinto.

– Pense o que quiser, mas eu sei que estaria. Bom... – Ele entra de novo na escuridão e mexe em algo. Parece puxar alguma coisa. Os portões se abrem o suficiente para que eu passe. – Acredito que esteja na hora de eu retribuir o favor.

Hesito um pouco olhando lá fora. Não era a floresta que me causava medo, mas talvez Bill tivesse montado uma armadilha.

– Acho que isso vai ajudar também.

Ele joga uma mochila e pego por puro reflexo. Passo as alças pelas costas rápido e penduro o casaco azul marinho em uma delas. Bill olha para mim e para o portão, como se me incentivasse a sair. Hesito novamente, mas ouço passos atrás de mim e quando olho, Rhys está lá, parado na esquina. A lua ilumina seu lado esquerdo do rosto e os cabelos. Olho para ele uma última vez, que pega a espada de novo. Não consigo ler nada em seus olhos. Bill já sumiu na escuridão, e, antes que Rhys chegue até mim, corro para fora.

Corro muito, sem ligar a lanterna, sem fazer muito barulho. Não sei para onde estou indo, só quero correr para longe o suficiente. Não me permito chorar, não ainda.

Continuo correndo, parando por dez segundos, vez ou outra, para pegar fôlego. Em algum momento acendo a lanterna, em outro o céu clareia e o sol começa a nascer. Não sei que horas eram, não havia pego meu relógio de pulso.

Completamente ofegante eu paro quando os primeiros raios de sol surgem. A neve ali está praticamente toda derretida, a terra fresca está limpa e pura. Me sento em um tronco caído e me recosto em uma árvore. Fico por dois minutos inteiros olhando fixamente para algo, sem realmente prestar atenção.

E então, choro.

Choro muito, enterrando o rosto entre os joelhos e soluçando. Meu rosto dói pela expressão sofrida, as lágrimas caem incessantes, as cenas se repetem em minha mente. Choro e choro e choro. Até sentir a garganta se fechar por completo e o fôlego sumir. Levo tempo até conseguir me controlar, até enxugar as lágrimas com o dorso da mão e respirar mais calma.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now