Capítulo XIV

1.9K 270 13
                                    

 Uma semana se passou desde aquela manhã com Rhys, e no decorrer desse tempo as coisas entre nós foram ficando cada vez mais agradáveis. Eu pensava menos em voltar, embora isso não fosse algo que estava excluído de meus planos, mas eu iria para Nevra com eles, e de lá poderia decidir o que faria depois.

Enquanto isso eu treinava. Rhys e eu treinávamos todas as manhãs e fins de tarde, e quando ele estava ocupado ou cansado demais, Patrick cobria seu lugar. O corte em meu braço já estava nas etapas finais da cura, e eu não voltara a ver Bill ou até mesmo Joseph. As pessoas já não me olhavam com tanto ódio, exceto por Dressa, e eu não era mais tão vigiada como antes. Rhys e eu nunca voltamos ao rio escondido ou a ir ver o amanhecer. Na maioria das noites estávamos tão cansados dos treinos que apenas deitávamos e dormíamos, ou conversávamos muito brevemente sobre mudanças nas táticas de treino e nos meus avanços. Não falamos de Killermont novamente.

Mas ainda assim, havia uma harmonia agradável entre nós e eu confessava que eu começava a apreciar sua presença, ou até mesmo sentir falta dela. Todas aquelas sensações estranhas ainda me rodeavam quando Rhys estava por perto, mas eu passava a gostar delas.

E em algumas noites, aquelas nas quais ele estava tão exausto que se jogava em seu lado da barraca, murmurava um "boa noite" e apagava, e eu permanecia acordada por um tempo, ouvindo sua respiração pesada, observando o rosto tão sereno como Killermont deveria ser na madrugada, e vendo os cabelos tão inexplicavelmente platinados lhe caindo o rosto a medida que iam crescendo e ele não cortava, e naquelas noites eu me perguntava se começava a gostar de Rhys tanto quanto das sensações estranhas que ele me causava.

***

Eu sonhava com algo sobre montanhas e torneios de luta quando senti meu corpo ser balançado. Abri meus olhos lentamente em meio ao sono, vendo Rhys com as mãos em meus ombros enquanto me acordava.

— Achei que tivesse dito que seu sono era leve. — Comentou ele com um sorriso sereno no rosto que conseguia ser indiscutivelmente bonito mesmo que houvesse acabado de acordar.

Sim, eu havia contado que meu sono era leve algumas noites atrás, quando estávamos ambos despertos demais e não conseguíamos dormir. Conversamos por horas até eu finalmente sentir a exaustão me abater. Foi a única noite que não desmaiamos quase imediatamente após entrar na barraca.

— Costumava ter antes de usar todas minhas forças durante o dia. É justo que eu recarregue minha energia dormindo profundamente agora. — Resmunguei, voltando a cobrir o rosto. Pelo modo como ele falava baixo e a lanterna pequena estava ligada, supus que ainda era noite e não importava o motivo de Rhys me chamar, pois eu queria dormir até o amanhecer.

— Vamos, vista seu casaco. — Senti algo ser jogado sobre mim.

— Eu não vou me levantar para treinar agora. — Sibilei.

— Não estamos indo treinar. — Dito isso ele simplesmente arrancou os cobertores e eu lhe lancei um olhar mortal.

Vendo que eu não tinha muitas opções me sentei e enfiei os braços no casaco negro que ele segurava para mim, bocejando e esfregando os olhos para afastar o sono.

— Onde iremos então?

— Nós — Ele abriu a barraca cuidadosamente e sussurrou: — vamos ver a liberdade.

***

Rhys não disse mais nenhuma palavra desde que saímos da barraca e percorremos o caminho em silêncio. Ainda estava parcialmente escuro, mas o sol nasceria em breve e, embora eu só tivesse ido até lá uma vez há duas semanas, jurava que estávamos indo para o mesmo lugar que assistimos o alvorecer da última vez.

Floresta do SulOnde as histórias ganham vida. Descobre agora