Capítulo Um

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Serena... Ainda naquele ano.

E cá estava eu, rumo ao meu sexto mês de gestação, com o coração tão machucado quanto qualquer outro.
Minha gravidez, estava sendo uma das coisas mais complicadas pra mim.
Eu ficava a maior parte do tempo deitada por sentir dores que minha médica alegava ser normal. Passava a outra parte do tempo, chorando, por não ter sido inteligente o suficiente de ver que Gael realmente não me amava. Me culpava todos os dias por ter me deixado, ser usada da forma em que ele me usou, e ainda me deixou um filho!
A última notícia que havia recebido sobre ele, era que o mesmo realmente havia ido embora, porém, não me certifiquei em saber o lugar que ele havia ido, eu fingia não me importar e procurava acreditar que realmente não me importava.
Contar aos meus pais que estava grávida, pra mim, depois da conversa com Gael foi uma das coisas mais difíceis. Eu contei, assim que soube por um médico que já estava com quase três meses de gestação.
No começo, ouvi tudo que deveria ter ouvido! Meu pai, me chamou de irresponsável e disse que eu tinha acabado com a minha vida. Eu ainda argumentei que eu havia acabado com a minha vida quando cai na lábia do Gael, sim, eu tive que contar à eles tudo e eles disseram que já sabiam porém esperava com que eu contasse à eles e eu não contei.
Eu chorei muito enquanto contava sobre estar grávida. Meu irmão, quis matar Gael, por ele ter me deixado, ainda tentou ligar varias vezes pra ele mas o celular sempre dava caixa postal.
Contei à eles pela manhã, no início da noite, meus pais vieram até meu quarto e chorando disseram que estavam comigo apesar de tudo. Entendiam que agora, julgar não era o certo, pois já estava sofrendo demais com que aquele traste estava fazendo comigo. Agradeci por pelo menos, ter pessoas ainda dispostas a estarem comigo e não me acharem uma burra por eu ter me envolvido.
Um tempo depois, descobri que seria mãe de uma menina, Cecília seria seu nome. Naquela altura do campeonato, minha menina que nem ao mundo ainda tinha vindo, já era amada demais por todos da casa, principalmente por mim.
Pela manhã, acordei sentindo mal-estar. Mesmo estando com seis meses, ainda consigo sentir todos os enjoos que não senti no início da gestação. Minha barriga já estava aparecendo, eu me sentia uma grávida linda apesar de tudo e com um coração partido.
Estava terminando meu café quando a campainha tocou. Cássio estava em casa e se propôs a atender à porta para que eu não parasse de comer.
Logo ouvi uma voz feminina e reconheci que era Laura, a mãe de Gael.
- Sua irmã está em casa? - ouvi-la perguntar.
- Olá Laura, está sim, na cozinha! Quer que a chame? - Cássio perguntou.
- Por favor.
Quando ele estava chegando na cozinha, eu disse:
- Tudo bem, eu vou indo.
- Quer companhia? - perguntou me ajudando a levantar.
- Creio que o que ela irá falar não seja tão importante Cássio, mas obrigada por se oferecer. Qualquer coisa eu te chamo, pode ser?
- Você que manda! - acariciou minha barriga e saiu da cozinha.
Caminhei à passos lentos até a sala e a encontrei vendo um porta-retrato de mim com a minha família.
- Bom dia Laura. - falei.
Logo seu olhar se voltou pra mim e para o volume em minha barriga.
- Bom dia, como você está gorda! - ela diz grosseira.
- É impossível ser magra carregando um filho no ventre, não acha?
- Gael me ligou! - ela diz e meu coração acelera.
- Isso é bom pra você? - perguntei de braços cruzados.
- Me contou que o filho que você está esperando, é dele. - é a vez dela de cruzar os braços.
- Uau. Achei que você no mínimo já soubesse. Vocês sempre foram tão apegados um ao outro que achei que o queridinho da mamãe tinha contado o que havia feito.
- Mas não contou! E vim dizer que não quero esse filho.
- Ele também disse isso.
- Estou falando sério! Não quero e não me sinto pronta para ser avó.
- Pode ter certeza que não será! Meus pais serão, mesmo que também não estejam prontos. Olha Laura, eu realmente cortei qualquer vínculo que eu possa ter com teu filho desde que ele me deixou e eu realmente não me importo que você não participe da vida da minha filha, porque pra mim, menos é mais e você, não fará diferença alguma em nossas vidas.
- Pra mim, você só ficou com ele por conta do nosso dinheiro.
Eu ri.
- Você sabe muito bem que não preciso do dinheiro de vocês. - argumentei.
- E você sabe muito bem que o amor não existe, então estou até agora tentando entender o porque de ter ficado com ele e ainda por cima, engravidado!
- Na minha cabeça o amor realmente existia, mas vi que é um sentimento tosco se vir do teu filho. Fiquei com ele porque eu realmente sentia muito por ele, e engravidar foi só a consequência disso tudo mas que eu não me arrependo.
- Sabe Serena, eu nunca gostei de você! Sempre te achei songa monga e confesso que esperava mais de você. Vim aqui, pra te oferecer uma quantia muito boa em dinheiro para que você possa sumir com esse filho e não aparecer nunca mais.
- E eu, sugiro que você pegue o dinheiro e enfie você sabe onde, porque em momento algum, eu bati na porta da tua casa exigindo algo do teu filho. Sugiro também que quem suma, seja você e de preferência da minha casa que é um lugar que você não é e nunca será bem vinda. - falei alterada.
- Agora vai pagar de santa? Vai dizer que nunca pensou em abortar essa coisinha que você carrega dentro de você? Aproveita enquanto é tempo, otária.
Ouvi-la chamar minha filha de coisinha fez com que eu alterasse ainda mais. E o fato dela sugerir que eu a abortasse, fez também com que eu chegasse nela e proferisse uma bofetada dolorosa em seu rosto.
Mas antes tivesse parado por ali! Laura, afim de não levar desaforo pra casa, me deu um forte empurrão fazendo com que tropeçasse no sofá e caísse com tudo no chão.
Senti a dor logo me invadindo.
- Não quis perder esse lixo por bem, perca por mal então! - falou irritada e me deu um chute forte na barriga.
Dor, era tudo o que eu sentia no momento. Ainda sim, tive forças para chamar Cássio que veio correndo e ao me ver ali, se desesperou.
- Você está sangrando! - ele diz nervoso me pegando no colo em seguida.
Sequer deu tempo de avisar nossos pais. Chegamos ao hospital e eu fui atendida com emergência.
As próximas horas, eu pouco me lembro do que aconteceu. A dor era grande, o medo de perder Cecília era mais ainda, mas eu sabia que apesar de tudo, Deus estava comigo.
Era pra tudo estar indo bem, porém, às oito da noite daquele dia, eu recebi a pior notícia da minha vida:
- Eu sinto muito mãe, mas a bebê não resistiu.
Aquela sim, era uma dor que jamais seria capaz de cicatrizar.

Paixão SublinhadaWhere stories live. Discover now