Capítulo 1

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"É no meio da noite que venho te
visitar, é nos seus maiores e mais
profundos medos que sou eu quem te assombra. Mas afinal, por que medo da morte vir te ver? Eu sou ela e não fuja de mim, não fuja, não fuja Violeta..." (Christian Charles)

Violeta Harvey:

Desperto-me de um sono conturbado com um calor intenso e uma falta de fôlego impiedosa. Ainda estava no meio da noite e uma pontada de decepção por o dia não ter amanhecido apoderou-se de mim.

O que eu podia fazer? A noite me dava calafrios.

Ultimamente, eu vinha sentindo coisas tão estranhas que decidi simplesmente ignorá-las. O que só era fácil fazer só durante o dia. Ergui o olhar e vi que o relógio antigo coberto de poeira de parede, com algumas teias de aranhas ao seu redor, estava marcando 00:00 em ponto. De novo aquele mal estar, e dessa vez acompanhado de uma sede. Me levantei um pouco zonza e tentei ficar chegar o mais rápido em direção à cozinha, antes que alguém me flagrasse e me denunciasse para a bruxa da diretora do orfanato.

Tomara que ninguém me veja rondando a essa hora da noite.

Com os dois pés fora do quarto a sensação de medo cresceu. Perguntei-me o porquê  mentalmente e me senti uma boba.

Não havia o que temer. Nunca houve.

Eu já estava acostumada àquele lugar havia séculos. Era apenas uma casa enorme que era dividida com outras pessoas. Minha casa desde pequena.

Corredores e mais corredores, o orfanato parecia bem menos sinistro e horripilante durante o dia. À noite, quase ninguém saía de seus aposentos.

À medida que vou caminhando, avisto uma flor no chão. Uma flor. Sinto uma pontada de dor no estômago e minha respiração trava. Vou chegando mais perto, conseguindo observar que não era uma rosa qualquer, era uma...

Violeta.

Tá legal. Isso não faz o menor sentido.

Não tinha violetas no jardim do orfanato nem nos seus arredores. Me abaixei e a segurei com as mãos trêmulas. Não faltava tanto para chegar a cozinha. Poucos passos mais adiante consigo avistar mais rosas. A única diferença é que dessa vez o chão parece me engolir. As outras violetas estavam cheias de sangue, uma com uma pequena distância da outra, levando para a entrada da cozinha.

Em passos calculados e curtos, vou andando. A todo momento meu coração me diz para voltar, para o caso de eu não ter um infarto. Se aquilo fosse uma brincadeira de mal gosto, eu iria, com toda a ceteza do mundo, socar a cara de cada um que estivesse por trás dela.

Olho para a outra violeta murcha no chão, e sinto uma leve pontada de vento atrás de mim, quase imperceptível. Por instinto, me viro rapidamente para ver o que é, não vendo nada além do caminho que tracei, silencioso e vazio. Quase... parecido com uma cena de filme de terror.

Ouço um riso maléfico e abafado. Isso, com certeza, é uma brincadeira de mal gosto.

— Gente, se vocês estão tentando me causar um infarto, desistam. Falharam miseravelmente. — consigo soltar um risinho. Bando de idiotas.

Inesperadamente, apareceu uma pessoa na minha frente. Se é que aquilo era uma pessoa. Talvez eu estivesse alucinando. Ela era alta, estava usando roupas normais e uma... máscara branca cobrindo o rosto, deixando os cabelos a mostra.

Meus músculos congelaram. Não consegui me mover ou muito menos gritar por ajuda —, se é que alguém me escutaria. A essa hora ele apenas escutava as batidas descompassadas de meu coração.

De um modo bem lento, suas mãos foram até sua máscara e revelaram seu rosto. Caramba... considerei de novo a ideia de gritar, só que dessa vez: Ladrão! Ladrão! Mas aí pensei: Aqui não tem nada para roubar.

— Nada mudou desde a última vez que estive aqui. — ele deu uma conferida ao nosso redor. Desde os azulejos gastos até as paredes manchadas de sujeiras. — Você lembra de mim? — ele perguntou, olhando no fundo de meus olhos. Sua voz saiu rouca, baixa e astrarrecedora.

Pensei e pensei em quem poderia ser aquele cara. Um parente da bruxa daqui? Um homem solitário que vinhera adotar alguém?

Engoli em seco e me obriguei a ficar ali sem sair correndo.

— Não. Por que, eu deveria? — por que não pensei duas vezes antes de falar a primeira coisa que veio à mente? O arrependimento bateu na hora e meus olhos lacrimejaram conforme vi seu rosto tornar-se pura ameaça. Minha saliva desceu rasgando pela garganta.

— Talvez, mas terei o enorme prazer em fazê-la lembrar. — tentei correr quando o vi vindo em minha direção, mas tropecei em meus próprios pés e caí. Ele colocou-me contra a parede e senti sua mão grande em meu pescoço. O cheiro de sangue entrou por minhas narinas e meu estômago revirou com aquela sensação.

Tentei chutá-lo e gritar, mas suas pernas, de algum modo, prenderam as minhas. Com sua mão livre, tapou minha boca, me imobilizando por completo.

— Não vai querer fazer isso. — até seu hálito tinha cheiro de sangue. Argh.

Balancei a cabeça para ele entender que eu não ia dizer nada. Soltei o ar quando me vi livre de sua mão.

— Me solta. Agora! — vociferei. Nem reconheci meu tom de voz.

— Você não tem pra onde correr.

— O que vai ganhar fazendo isso? — ousei perguntar. Seus olhos baixaram até o chão. Ele murmurou algo bem baixinho, que não deu para entender. Sua mão alcançou um bolso da calça e tirou de lá um pedaço de tecido. Ele o colocou em meu nariz e, então, um aroma forte entrou por minhas narinas. Foi tão ligeiro, tão de repente, que meus olhos pesaram tanto que não consegui impedir. Aquilo aquietou cada pulsação dentro de mim.

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