Capítulo 15

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Violeta:

— Gente. Ele... trouxe água.

— Cara maluco — Bruna disse, depois de soltar um longo bocejo.

— É mais que isso — falei. — Até agora não achei uma palavra exata que o defina. — dei a cada um uma garrafinha, que veio em uma quantidade exata, já que éramos cinco.

— Ele é um desgraçado filho da mãe que... — Kelly virou e fez um gesto de silêncio para Bryan. Ele se calou e voltou a beber sua água normalmente.

— Só quero que ele venha soco. Nada de armas ou facas. — murmurou Derick, irritado. Bruna lhe dirigiu um olhar de raiva e ele lhe respondeu dando de ombros, como se não fosse nada seu desejo.

— Derick não mudou absolutamente nada. Acho que isso é bom. No momento. — falei e ele sorriu vitorioso.

— No momento! — repetiu Bruna para dar ênfase ao que eu disse, mas isso não foi o bastante para lhe tirar a cara de vencedor estampada em cada canto do rosto.

— Que tal tentarmos dormir? — sugeri.

Os quatro me lançaram um olhar cansado. Bryan ergueu cabeça para cima e realaxou os ombros, fechando os olhos logo a seguir.

— Acha que consegue, flor?

Derrotada, respondi:

— Nem um pouco.

— Bryan, estou com frio. — Kelly murmurou, passando as mãos nos braços nus.

Bryan tirou seu casaco e a entregou, me olhando de soslaio.

— Também está? — ele perguntou.

— Não — menti.

— Vem cá — hesitei por um segundo. Kelly deu um jeito do casaco esquentar nós duas.

Olhei para o rosto de Bryan e ele parecia distante, como se estivesse lembrando de alguma coisa. Não demorou muito até ele falar, rindo.

— Lembra do dia que te empurrei na lama e contei pro Derick que você gostava dele? — no outro canto, agarrado com Bruna, Derick soltou um gemido.

— Você não devia ter feito isso! Fiquei decepcionado quando soube que era mentira. — fingiu estar magoado e Bruna fez uma cara feia para ele, que riu e balançou a cabeça.

— Lembro sim. Fiquei com raiva de você por muitos dias por ter feito isso! — ele bufou. — E aquela vez que o Derick não se segurou e fez xixi nas calças? — todos rimos. As bochechas de Derick ficaram muito vermelhas.

— Sério isso, Derick? — murmurou Bruna, com deboche. — E você ainda fazia chacota de mim porque uma vez fiz isso! Bom saber disso, querido. — ela soltou alguns beijinhos no ar para ele.

— Ah, gente. Eu era criança! — fez uma pausa, prosseguindo — Mas você, dona Bruninha, não acha que estava bem crescidinha não? — falou no mesmo tom, arqueando as sobrancelhas e fazendo cara de "ganhei" para sua namorada.

— Seu idiota, foi um acidente! — bufou, torcendo o nariz. Fiquei observando os dois, em como se provocavam e depois sorriam abobalhadamente um para o outro.

De repente, senti um nó na garganta.

— Tá, gente. Calma. Derick, e aquela vez que... — a fala de Bryan foi interrompida bruscamente pelo som da porta sendo aberta. Nos silenciamos no mesmo instante. Kelly ficou rígida ao meu lado, percebi que parara até de respirar. Com isso, percebi que estava prendendo a respiração também.

— Vocês não conseguem ficar calados nem por um instante? Que merda! — esbravejou e estremeci. Subitamente, a garrafa de bebida que estava em sua mão foi ao chão, espalhando cacos por todos os lados.

Um deles parou bem aos pés de Bruna, que se encolheu nos braços de Derick.

— Miserável — Derick rosnou entredentes. Seu rosto contorcido e avermelhado.

Ele o olhou e depois fez o mesmo com Bruna.

— Você — seu dedo apontou para Bruna. — Você vem comigo — ela começou a chorar, se encolhendo o quanto podia. — Levanta. — Derick a segurou.

— Por favor — ele pediu, a voz estrangulada. O pavor estampado no seu rosto.

— Solte ela — rosnou. — Vem. — aos poucos, Bruna foi saindo do abraço de Derick, por mais que ele a puxasse contra si e disesse que ela não iria.

— Eu tenho que ir. — e se desvençilhou completamente de Derick, levantando. 

Meu peito se apertou. O ar parecia saturado.

— Perdoe o que os garotos fizeram. Imploramos... — balbuciou Bruna, quase inaudível aos meus ouvidos.

— Seu senso de humor é incrível — riu diabolicamente e segurou seu braço, fazendo-a chorar cada vez mais.

E eles dispararam escadas acima. Tentei me mover, em vão. Bruna tentou se virar, e disse, engasgando-se com as lágrimas:

— Deri, eu estou grávida! Me perdoa, amor, por não ter te contado antes. Me perdoa... Era para ser uma  surpresa no seu aniversário... — Derick se levantou e tentou ir para cima dele, mas Bryan o deteve.

Tudo não passava de um borrão.

— Caramba. Isso sim foi uma surpresa.

— Cala a boca! — gritou Derick, se debatendo nos braços de Bryan. Cheguei a considerar que se Bryan não o soltasse iria apanhar.

— Charles! — durante todo esse tempo em que estive presa aqui, foi a  primeira vez em que pronunciei seu nome. O mesmo voltou-se para mim com um misto de curisosidade e diversão.

Te odeio, te odeio, te odeio!

— Não a machuque, por favor! Eu tô te implorando, Charles. Nos perdoa, por favor. — as palavras saíram da minha boca como um pedido de súplica, quase não escutei minhas próprias palavras. — Deixe-a fora disso! — sem pensar, corri até eles e segurei o braço livre de Bruna. — Me leve no lugar dela.

Ele não disse nada. Por um momento, pensei ter visto um brilho vazio em seu olhar azul, mas deve ter sido apenas uma coisa da minha cabeça.

— Saia! — recuei aos poucos, murmurando para Bruna que ela ia ficar bem. Que tudo ia ficar bem.

Ela pronunciou um "me perdoa" para Derick, sem emitir som algum.

Desabei o peso do corpo sobre o chão, nem sabia que estava prendendo o fôlego de novo. Chorei, gritei. Queria morrer no lugar dela.

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Capítulo revisado. ✔

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