Capítulo 6

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Violeta:

Quando os raios de luz solar começaram a desaparecer pelas lacunas da parede, imaginei em que lugar estaria. Onde estaria cercada, e até que ponto minhas chances de fugir e sobreviver me permitiam. Ele disse que não ia me matar, não agora, então tinha planos para mim. Caso surgisse a oportunidade, eu fugiria. Mesmo que isso me custasse a vida, eu tinha que tentar.

Nunca passou pela minha cabeça em como minha vida tomaria um rumo tão inesperado em vinte e quatro horas.

Meu coração errou uma batida quando escutei gritos de mulheres vindos lá de cima. Eram aterrorizantes. Pedidos de socorro. Uma tremedeira decidiu aflorar em minhas mãos e em meus lábios. Aos poucos, tudo foi ficando silencioso. Já previ o pior: a próxima era eu.

O por que desse joguinho, eu não fazia ideia.

— Tudo bem. Tudo bem. — falei, respirando. — Vai ficar tudo bem. — lembrei que uma vez, no orfanato, se reuniu eu e mais outras meninas para escrever poemas, cada uma escrevia o que mais achasse interessante. Eu escrevi sobre a dança, no quanto a achava interessante e consoladora, e minha amiga, Sally, que foi adotada alguns dias depois, escreveu sobre a morte. Achei um pouco clichê, mas bem interessante. Uma estrofe que ficou marcada em mim, foi a seguinte:

Quando a vida se cansar de mim, irei à tua procura
Quando ela pisar em mim e eu não aguentar, você me acolherá
Vou admitir, eu tenho medo de ti
Por isso, vou criar coragem, e despertar o herói que dentro de mim

— Desperte o seu herói. — murmurei seguidas vezes, como um mantra. Era inútil, mas eu tinha que me agarrar a alguma coisa. Nem que fosse umas simples frase motivadora.

Escutei os passos pesados se aproximando. A porta abriu-se e vi a sua silhueta bem contornada. Engoli em seco quando ele avançou dentro da escuridão. Esta noite não tinha lua, acho que até os astros sabiam como eu me sentia: sem luz.

— Vou tirar suas correntes. Não tente fugir. — ah, mas eu ia tentar, caso houvesse uma oportunidade, sim. — Venha comigo. — disse ele. — o que quer que estivesse me esperando, não era bom. Não era nada bom.

A cada passo um rangido na madeira velha e empoeirada da escada. Com isso, uma nova maneira de pensar em minha morte.

— Eu tirei as correntes de seus pés, então ande depressa, antes que as ponha de novo e faça você tentar andar com elas.

Minha mente gritou: Assassino! Assassino!

Passamos por um corredor e depois subimos outra escada. Saímos perto de sua cozinha, indo para algum lugar que eu não sabia qual. Quando chegamos no que supus ser sua sala de estar, minhas pernas fraquejaram. Meus olhos pareciam não acreditar no que viam e o meu cérebro demorou a entender que aquilo estava acontecendo e que era verdade.

Ele saiu de trás de mim, e me dei conta de que não estava respirando.

Das cinco garotas que estavam desfalecidas no chão, uma eu conhecia de vista, era do colégio. Nunca tinha visto tanto sangue. Meu estômago embrulhou com aquilo. O problema, na verdade, não era o sangue em si. Eu já tinha visto muito nas aulas de zoologia, tinha até derramado um pouco na minha folha de anotações, o que fez com que a professora quase... zerasse minha nota. Tá legal. Aquele sangue na minha frente era humano, completamente humano. Comparar com o sangue de animais não ia ajudar em nada.

Desviei o olhar dos rostos das garotas e tentei não pensar.

Quando ele se pôs na minha frente, quase dei um pulo pra trás.

— Limpe — disse, entregando-me um enorme saco plástico preto e alguns produtos de limpeza.

Ele não podia estar falando sério.

Meu olhar perpassou dele para as garotas. Inspirei fundo.

— Está surda? Eu disse para você limpar. — ele deu um passo para frente, e eu recuei dois.

— Não. — sussurei baixo.

— Dá pra falar com a boca? — grunhiu, impaciente.

— Não vou fazer isso! — falei, alto o bastante. Me esquivei para o lado, e comecei a correr pela casa pedindo por socorro. Bati em um janela escura, pensei que tinha algo lá fora bloqueando minha visão, mas aí percebi que aquilo era... só o escuro. Quando o vi se aproximando, dei a volta e peguei um vaso de... acho que era porcelana, e falei, quase sem ar:

— Se se aproximar de mim, eu quebro o seu... vaso. — suas sobrancelhas franziram tanto que quase alcançaram a testa, e ele balançou a cabeça para os lados. Então, desatou a rir.

Ótimo, ele me ameaça de morte e eu ameaço quebrar seu vaso. Pensei em quais alternativas eu tinha, e então, joguei, com toda força que reuni.

Ele se chocou contra seu peitoral e caiu. Suas gargalhadas sumiram. Ele olhou para os cacos no chão, e depois para mim, boquiaberto, como se não acreditasse que fui capaz de fazer aquilo.

— Era um vaso bem antigo, sabia? — ele não perguntou para que eu respondesse, mas para que eu soubesse. — Gastei... Hm... Não lembro bem quanto gastei nessa merda, só sei que custou uma grana alta.

Ele começou a vir devagar até mim, e eu me afastei. Ele parou, me repreendendo com o olhar, como se dissesse: Se der mais um passo, será seu último.

Então, forcei os músculos de minhas pernas a pararem. Se movendo rápido, ficou só meu coração, reclamando para eu não me entregar assim, tão fácil. Não ousei olhar para cima, com medo de que a última coisa que eu visse fosse aquele par de olhos ardentes, tão azuis quanto o céu.




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Capítulo revisado. ✔

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