Capítulo 66

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Alfonso

Meu pai não reclamou nem um pouco, quando mais cedo pedi as chaves do ginásio para poder vir treinar à noite e sozinho. Pelo contrário, ele ficou super feliz com a minha "disposição para treinar"

- Muito bem meu filho. - dissera. - Agora que você não tem namorada nenhuma pra dividir seu tempo vai poder dar todo seu sangue ao hóquei. Tenho certeza que logo, logo você vai estar impressionando muitos olheiros por ai. - ele sorriu todo orgulhoso, me entregou as chaves e foi embora.

Respiro fundo voltando ao presente e arremesso os discos com o taco um atrás do outro com força e determinação. Não tem ninguém no rinque e o silêncio é bom, porque assim posso organizar meus pensamentos sem ser incomodado.

Quando lanço o último disco pro gol paro, respirando fundo. Encaro a entrada do rinque e me lembro da primeira vez que trouxe Anahí aqui. Meu sorriso é involuntário ao me lembrar dela me olhando com aquele ar desconfiado, enquanto segurava com firmeza nas laterais da entrada da pista.


[...] - Vem, eu não vou deixar você cair.

- Você enfiou duas lâminas embaixo dos meus pés, duas laminas afiadas, eu poderia cair e cortar sua garganta. Ai amanhã cedo seu corpo seria achado e eu não ficaria aqui pra contar a história.

- Você me deixaria aqui pra morrer de hipotermia?

- Você morreria de hemorragia, não hipotermia. - ela revirou os olhos e dei risada. [...]


Dou risada sozinho ao me lembrar daquele dia e o sorriso desaparece, quando a dor da perda atinge meu coração. Foi naquela noite, enquanto tentava ensiná-la a andar sobre o gelo que me dei conta e assumi o que eu começava a sentir por ela. Foi naquela noite que tentei descobrir, em vão, quem tinha machucado ela a ponto dela ter trauma de palco. Eu já sabia naquela época que a confissão que Any fez enquanto dormia, tinha algo haver com seu trauma.

Também foi naquela noite em que tentei beijá-la pela primeira vez e ela me empurrou e acabou se estatelando no chão de gelo. Foi uma das primeiras vezes em que uma garota me fez gargalhar. De uma forma ou de outra, meus momentos com Anahí sempre eram divertidos.


[...] - Você é durona assim com todos ou só comigo?

- Só com os que merecem. - ela pisca pra mim e arranca o outro patins. - Que alívio! - suspira deslizando os pés sobre o gelo. - Agora olhe e aprenda Herrera!

- O que vai fazer?

Ela vai andando de costas, se afastando até as costas baterem na borda da pista. Sorrindo com malícia, ela toma impulso, sai correndo e então para, deixando as meias deslizarem pelo gelo.

- Viu? Isso é patinar! - grita pra mim, enquanto desliza sobre o rinque. [...]


Me sento no chão, arranco meus patins e assim como naquele dia deixo meus pés deslizarem pelo gelo, mas não tem a mesma graça que teve aquela noite, quando Anahí estava comigo. Só paro de deslizar no gelo quando as meias ficam encharcadas e meus dentes começam a bater de frio.

Saio do rinque, cubro meus pés com a toalha e massageio os dois, tentando aquece-los. Olho pro rinque vendo eu e Anahí rodopiando no gelo, apenas de meia e nos divertindo como nunca.

Respiro fundo não querendo chorar. Fui o pior dos idiotas, deixei minhas mentiras estragaram tudo e a única coisa que sobrou foram lembranças. Lembranças da melhor época da minha vida, com a pessoa mais incrível e especial do mundo que não está mais comigo e a culpa é toda minha.

De Repente Amor ✔Where stories live. Discover now