Capítulo 5

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FRANCINE

— Que tal um vinho? — sugeriu, levantando subitamente — Quando te chamei para jantar não queria falar sobre coisas tristes. Só entrei no assunto porque queria que visse Francine, somos o que queremos ser, uns não tem oportunidades, outros tem; só não os enxerga. Não se deixe abater, você pode tudo, depende de como faz as coisas — Ao dizer isso ele se virou e foi para a cozinha.

Fechei os olhos, encostando a minha cabeça no sofá. Era para ser simples, o jeito como ele fala tornava tudo mais simples. Mas não era assim, eu me sentia presa ao sentimento.

Instantes depois ele estava de volta; com duas taças em ambas as mãos. Me ofereceu uma, peguei de bom grado. A outra, ele virou de uma vez, sorvendo uma quantidade considerável da bebida.

— Muito bom — Disse ao tomar um pouco do líquido escuro e gelado; uma sensação de prazer muito bem vinda naquele momento.

— É mesmo. — Concordou, virando se para mim — Me fale sobre você, o que a levou cursar pedagogia? Ser professora é uma das profissões mais lindas que existem, porém é para poucos. Na minha opinião, todos os professores deveriam fazer acompanhamento com um terapeuta. — Levanto uma sobrancelha — Sem querer ofender é claro, eu falo pelo fato de que; vocês passam por muitas coisas em sala de aula, eu digo por mim quando ainda estudava, minhas professoras sofreram e hoje me arrependo — Ele sorri de canto, parece se desculpar ao fazer.

— Não discordo de você. O governo deveria disponibilizar um especialista, nem só para os professores mas também para os alunos. Só que, isso está longe de acontecer, mal nos pagam o salário. — brinquei — Entretanto, o conselho tutelar, assistência social... fazem um trabalho bonito nos colégios. Pelo menos isso. — Levei a taça aos lábios.

— O que levou você a querer ensinar? — Ele repete a pergunta.

— Sinceramente, eu não sei. Sempre fui boa em matemática, fiz um curso técnico profissionalizante de contabilidade, sempre quis fazer algo útil, então porque não ensinar a quem não sabia? Aí fiz faculdade. — Dei de ombros. — Pelo menos essa é a explicação que dou a mim mesmo. Eu queria fazer algo útil e estou conseguindo.

Ele não disse mais nada. Apenas me observava como se eu fosse louca ou de outro mundo. Quando enfim acabou o vinho nas taças, rapidamente se põs a enche-las outra vez, então se recostava e sua atenção ia para a taça entre os dedos.

Diego era mesmo um homem muito bonito, ele exalava superioridade por onde ia, vi isso no supermercado, entretanto, sua humildade também não passou despercebido. Lindo e gentil, educado e muito gente boa. Realmente queria que fôssemos amigos, mas não era possível. As pessoas costumavam se afastar de mim, principalmente os homens. Me apegar e saber que seria abandonada depois? Não, obrigada. Sim, porque isso não era um segredo para mim.

Ficamos nos encarando durante bom tempo, esvaziando e esvazinando sem dizer mais nada.

Ele levantou para ir pegar a segunda garrafa e me peguei soltando a respiração. Imensamente surpresa comigo mesmo, eu não era de beber, e não estava tonta, pelo menos foi o que  pareceu.

— Não precisa encher a minha. — Tentei levantar quando ele retornou, em vão. — Preciso fazer a sobremesa. — Não segurei risada ao lembrar de fazer o mousse de limão que tinha comentado com ele no carro.

— Ei, só relaxa. — Meu braço foi segurado, levantei o olhar encarando duas esferas verdes profundamente.— O jantar já está pronto. Se quiser nós jantamos. Não precisa de sobremesa, de toda maneira eu comprei chocolates. — Disse baixo, o timbre de voz totalmente mudado.

Grave.

O álcool correndo em minhas veias; sintia isso, como se meu sangue fervesse e se acumulasse na minha cabeça. Impulsionei o corpo para levantar do sofá e consigui, posteriormente tropeçando nos próprios pés, só não dei de cara com chão porque Diego me segurou firme.

FRANCINE © - OGG 3 [COMPLETO]Where stories live. Discover now