Cap 60

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  O esquadrão voltou para o quartel ao anoitecer. Passaram o resto do dia treinando lutas e DMT, então a maioria está bem cansada, como pude perceber em Eren, que dormiu enquanto comia e acabou sendo acordado por Levi com um chute em sua cadeira. Velhos costumes que ainda estão aí.
  O pessoal, como supus, estranhou o fato de eu ter ficado aqui, mas tomei uma decisão: falarei com todos aos poucos, então tenho que pensar em como contar isso sem causar um tumulto.
  Neste exato momento, estou desenhando uma paisagem qualquer em meu caderno de desenho. Já faz um tempo que não faço isso, então aproveitei a calmaria no quartel para rabiscar um pouco enquanto penso em como vou juntar Hanji e Erwin. O loiro é um cara sério e focado, então seria meio difícil... Ah, mas se até o capitão não resistiu ao amor, então o comandante também pode.
-Ah, claro.
  Rio alto com meu pensamento e continuo a focar no meu desenho.
-Mais um traço aqui, apagar essa linha bem ali...
-Falando sozinha?
  Deixo minha borracha escorregar da minha mão quando ouvi a voz grave do baixinho soar bem perto de mim.
-Me assustou, Levi...
  Ele nada diz, apenas olha para a folha com atenção enquanto eu acalmo minha respiração por conta do susto.
-Eu nunca vi você desenhar.
-Faz tempo que não uso meu caderno, então resolvi pega-lo um pouco, já que estava sem fazer nada. Falando nisso, eu nunca vi um desenho SEU.
  O capitão apenas solta uma risada nasal e balança a cabeça negativamente.
-Então é melhor nem ver. Meu forte é desenho de palitinho.
-Ah, é? Então desenha algo aí.
  Viro a folha para uma nova e entrego o lápis na mão dele.
-Quer que eu desenhe o que?
-Hummm... Aqui, desenhe esse abajur.
  Pego o objeto e coloco na frente dele.
-Ah, tá.
  Minutos depois, Levi termina o desenho. Quando fui ver, percebi que, o que ele tinha dito, era verdade. O capitão apenas desenhou um círculo com dois pauzinhos em formato de L, e, na ponta, um triângulo. Começamos a rir juntos com isso.
-Eu te falei.
-Você é péssimo. Vem cá, eu te ensino.
  Dei lugar para o mesmo sentar.
-O que? Não, obrigado. Minhas habilidades de desenho não importam.
-Certeza?
-Claro, outro dia, talvez...
-Certo, haha. Mas me diz, o que te trouxe até aqui?
  O homem pisca por um tempo antes de falar.
-Ah, é verdade. Eu entrei aqui porque queria te perguntar se tinha visto meu lenço por aí, mas quando te vi distraída, resolvi me aproximar.
  Só agora que notei que ele estava sem aquele paninho no pescoço.
-Não, não vi. Você não tem mais um?
-Tenho, claro.
-Então use outro, simples assim.
  Revirei os olhos e voltei para meu desenho.
-Tá estressada?
-Agora estou. Fala sério, quem implica por causa de UM pano IGUAL aos outros?
  Levi deu meia volta para sair do quarto, mas eu o segurei antes.
-Agora vai me deixar aqui? Sozinha?
-Você estava sozinha esse tempo todo.
-Agora não estou mais.
-Tch, não sou obrigado a ficar ouvindo coisas desnecessárias.
  Ele escapa e abre a porta. Peguei minha borracha e joguei em sua cabeça.
-ME DEIXA SOZINHA, ENTÃO! Seu grosso.
  De repente, ele se vira e puxa alguma coisa de seu bolso, estendendo-a para mim.
-Chocolate?
-Ai, te amo.
  Pego a barra da mão dele no mesmo segundo e abro-a, mordendo um grande pedaço da mesma. Ouço o moreno rir um pouco e o sinto bagunçar meus cabelos. De um instante para o outro, a conversa que tive com a tenente surge em minha cabeça.
-Ei, Levi.
-O que?
-Eu tenho um negócio pra te contar, mas não pode ser agora.
  Ele franze as sobrancelhas.
-Não era mais fácil ter avisado isso depois?
-Negativo.
  Ele apenas dá de ombro e me dá boa noite antes de sair do quarto e me jogar a borracha que tinha caído no chão, me deixando a sós em meu quarto. Certo, como é que eu vou juntar aqueles dois?

  Levi's pov on

  Saí do quarto de Misuki e fui para meu escritório cuidar dos relatórios do treino de hoje. Me sentei em minha cadeira depois de fechar a porta e liguei a lâmpada ao lado, iluminando um pouco mais o local.
  Fazer relatórios não era uma parte muito boa, mas com o tempo, vamos nos acostumando.
  Um tempo se passou até ouvir batidas na porta.
-Quem é?
-Sou eu, Petra.
  Dei permissão para a mesma entrar e perguntei o que queria.
-Percebi que o senhor saiu mais cedo hoje, gostaria que eu fizesse um chá?
-Sim, por favor.
-Certo. Com licença.
  Depois da moça sair, percebi que alguns costumes nunca mudam. Depois que terminei de escrever sobre a parte do desenvolvimento de treino de Jean e Armin, estiquei meus braços e cocei meus olhos para espantar a sonolência. Eu realmente não sei o que aconteceu para minha insônia estar diminuindo desse jeito.
  Batidas ecoam novamente e eu falo para entrar, já imaginando que seria o chá, mas me surpreendo ao ver um comandante entrar.
-Erwin? O que faz aqui? É sobre a expedição?
-Hum... Não, não é. Digamos que eu vim aqui mais como um amigo do que como um superior.
  Dei de ombros e o chamei para se sentar à minha frente. Um silêncio tomou a sala antes de Petra adentrar o local novamente com a bebida e uma xícara extra, pois, de acordo com ela, tinha visto o comandante entrar.
-Eu suponho que você não veio apenas pra aproveitar o ambiente "amigável".
  O loiro olhou para mim.
-É... Não vim mesmo.
-Então vá direto ao assunto.
  Percebi que ele estava meio sem jeito, coisa que não é típica de Erwin Smith.
-Certo... Eu vim aqui para pedir uns conselhos e tirar algumas dúvidas.
-Hã? Veio pedir conselhos pra mim?!
  Quando ele disse que veio como um amigo, estava falando sério.
-Sim.
-Então pergunte logo.
-Como começou a namorar Misuki?
  Se antes eu já estava confuso, agora piorou com essa pergunta. Arqueio uma sobrancelha para ele e deixo os papéis de lado.
-Como assim?
-Só quero saber.
-Bom, foi depois daquele caso do casamento arranjado. Quando percebi que não ia gostar de vê-la com outro, simplesmente "fiz" o pedido. Onde quer chegar com isso, Erwin?
-Digamos que...
  Demorei um pouco para raciocinar, e quando me dei conta, arregalei levemente meus olhos e o interrompi.
-Você e aquela quatro-olhos não chegaram a um acordo definitivo ainda?
  Seu rosto ruborizou um pouco. Essa é uma parte dele que eu nunca vi...
-Aparentemente, sim. Depois que saímos daquela patinação, ela perguntou qual era nosso lance. Eu não consegui responder à essa pergunta, e isso com certeza a deixou meio magoada.
-E você decidiu tomar uma atitude agora? Alguns dias antes da nossa expedição de retomada da muralha Maria?
  Passo a mão em meu rosto, desacreditando nas coisas que ele estava falando.
-Sim, é que... Bom, todas as vezes que saímos das muralhas, centenas de bons soldados acabam morrendo, então...
  Me levanto bruscamente e bato na mesa, surpreendendo o loiro à minha frente e bagunçando os papéis totalmente organizados ao meu lado, na escrivaninha.
-Não ouse continuar essa frase.
  O silêncio tomou aquela sala e o comandante respirou fundo antes de continuar a falar.
-Escute, eu não estou falando que não pretendo voltar vivo, mas caso algo aconteça, quero deixar Hanji com uma boa memória.
-E VOCÊ ACHA QUE É ASSIM QUE IRÁ CONSEGUIR? Falar que não sabe se vai voltar com vida é a mesma coisa de não se importar em morrer. Ca*****, Erwin, acha mesmo que aquela quatro-olhos ia ficar feliz se soubesse disso?
-Levi, tente entender minha situação...
-Eu entendo perfeitamente. Você quer estar em um relacionamento sério com Hanji agora apenas porque não sabe se "vai voltar vivo" da expedição. Vou te falar uma coisa, já que veio pedir conselho pra MIM: eu consigo ver em seus olhos seus sentimentos pela aquela maníaca por titãs, então esses sentimentos deveriam ser sua força pra continuar vivendo pois não quer vê-la sofrer, então se quiser fazer isso AGORA, é melhor que tenha certeza que vai voltar são e salvo daquela maldita missão. Se não consegue ter essa certeza, então é melhor não fazer nada.
  Falo quase gritando com o homem pela tamanha estupidez que estava prestes a fazer. Seu olhar agora mudou da água para o vinho. Antes, ele demonstrava incerteza sobre seu pedido, mas agora aparenta estar arrependido.
-Vou te perguntar uma coisa... Você QUER realmente ficar ao lado da quatro-olhos? Tem a total certeza de que vai voltar vivo?
  Encaro os olhos azuis do comandante, que pensava seriamente sobre minhas últimas palavras.
-Sim, eu quero e tenho certeza. Você me ajudaria nisso?
  Dou um pequeno sorriso determinado quando o vejo fazer o mesmo.
-Se for assim, eu aceito seu pedido de ajuda.
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oii, o que acharam do capítulo? Vote e comente, isso me motiva muito a continuar ;*
 

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