Cap 70

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Acordo de repente com um barulho de porta batendo. Junto com esse barulho, pessoas entraram em meu quarto, mais especificamente Erwin e a quatro-olhos. Bufo quando isso acontece pois eu finalmente tinha conseguido relaxar um pouco e agora sou interrompido.
-Levi! Você acordou!
Ela veio tentando me abraçar, mas empurro sua testa no instante certo.
-Ainda bem que acordou.
Erwin falou enquanto fechava a porta.
-Humpf.
Apenas bufei enquanto me ajeitava na cama. Minhas costas estralaram, provavelmente foi por causa de minha má postura a dormir.
-E os outros?
Perguntei, já esperando alguma notícia ruim.
-Bom, Mikasa está no hospital também, mas receberá alta ainda hoje.
Isso eu já sabia.
-E...?
-A sua equipe está em segurança. Eles estão fazendo patrulha em cima da muralha enquanto as estacionárias estão recrutando.
Erwin diz enquanto se sentava na cadeira da escrivaninha. Hanji apenas observava de longe a conversa sem ao menos dar um piu.
-Certo. Mais alguma notícia que devo saber?
  Ele me encara e suspira pesadamente antes de responder. Lá vem notícia ruim.
-Eren foi sequestrado.
Erwin disse com um leve tom de descontentamento em sua voz enquanto passada os dedos em um quadro de uma flor qualquer. Estranhei o fato de ele ter falado isso tão rapidamente como se fosse algo que acontecesse todo o dia.
-Como?
-Fui descuidado, Levi. Prestei muita atenção em você que acabei não dando muita bola para os dois ao meu lado. Desculpe.
-Você está dizendo que a culpa é sua?
Perguntei para ele, que afirmou com a cabeça.
-Erwin, você se preocupou comigo. Eu que devo lhe pedir desculpas, sou eu quem sou o culpado. Mas não adianta ficar com esses "E se" pois já aconteceu, agora temos que nos concentrar em resgatar Eren.
Disse tão rápido que me embolei nas palavras. Fui tentar levantar da cama, mas Hanji me segura.
-Não, senhor. Nós vamos nos concentrar em resgatar Eren, você vai ficar quietinho e descansando. Levi... Você perdeu a pessoa mais importante da sua vida e ainda perdeu o fruto do seu amor com ela. Isso não se supera da noite pro dia.
Engoli em seco para impedir que as lágrimas que segurava saíssem. Eu estava acostumado com a perda de meus companheiros de equipe, mas eu devia levar em conta que ela era mais que uma parceira.
-Levi... Nós também estamos muito abalados. Não se sinta sozinho nessa, pode contar com a gente. Misuki fora especial na vida de todos.
  O comandante se sentou ao meu lado na cama e passou a mão em minhas costas.
-Eu sei disso, Erwin.
-E como eu te conheço, baixinho...
  Começou a tenente enquanto se sentava ao meu outro lado.
-... eu sei que está segurando as lágrimas.
  Ela pega minha cabeça e a apoia em seu ombro. Eu deixo, não estou em condições de lutar contra isso. Parece que esse sentimento de amargura não vai sair de mim nunca mais.
-O-O doutor me disse que o velório será no domingo.
Falei.
-Sim, realmente. Iremos procurar nos escombros do quartel se sobrou alguma coisa dela para a homenagearmos.
Erwin respondeu.
-Hum.
Não falei absolutamente mais nada. As lágrimas se formando no canto de meus olhos já denunciavam o que estava por vir. Não podia segurar, então cedi à elas mais uma vez. O que eu podia fazer? Me fazer de forte mesmo sabendo que, naquele momento e naquela situação, eu poderia ser considerado o homem mais fraco da humanidade? Não, eu preferia admitir para mim mesmo que segurar meus sentimentos me faria mal depois. Quanto mais você engole o que sente, uma hora você se afoga.


[...]

Finalmente chegou. Hoje é domingo e estou me arrumando para o velório da garota que amo. Eu até pensei em não ir, pois eu sei que ir até lá e lamentar a morte dela seria como botar lenha na fogueira para mim, mas eu tinha que estar presente. Tinha que pedir perdão pela briga que tivemos dias atrás. Mas é como sempre digo, não adianta ficar no passado. O que já aconteceu não volta mais, não é mesmo?
Depois que saí do hospital, Erwin nos colocou em um quartel antigo da tropa até o novo ficar pronto, então o lugar aqui não estava muito limpo. Fui obrigado a aceitar, já que não tinha outra opção aqui por perto. Minha casa que tenho desde que cheguei aqui ficava em Sina, mas muito raramente vou para lá.
Estava colocando meu tênis completamente preto quando ouvi algumas batidas na porta.
-Quem é?
-S-Sou eu, Petra.
Deixei-a entrar e ouvi o som da porta rangendo logo após. Ela estava meio sem jeito por estar aqui e escondia alguma coisa atrás de si.
-O que quer?
Falei, sem delongas.
-E-Eu vim aqui em nome de todos da tropa, senhor.
A olhei com uma expressão confusa.
-É que... Temos notado o seu baixo astral desde aquele dia. Eu também sinto muito a falta da Mi, ela foi muito especial para mim e para todos, e entendo que o senhor deve sentir muito mais. Pensando nisso, todos nós colaboramos e compramos uma edição limitada da sua marca de chá preferida. Sei que não é muito, mas pensamos que isso irá fazê-lo se sentir melhor.
Ela fala as coisas tão rápido que se embola em algumas palavras. Logo após que disse tudo isso, ela abaixa a cabeça e estica os braços com uma caixa de vidro de tamanho razoável com vários sachês de chá dentro. Realmente, eu amo essa marca.
Me levanto de minha poltrona e vou até ela, pegando a caixa de suas mãos.
-Obrigado. Isso provavelmente não foi muito barato.
-N-Não, senhor. Fizemos uma vaquinha.
Bagunço seus cabelos e deixo a caixa em cima da escrivaninha que tinha ao lado da cama. Eu não a usava, pois não conseguia dormir mais do que 3 horas novamente, isso quando eu dormia.
-E-Eu estou indo.
A garota disse enquanto abria a porta do quarto. De repente, uma informação entra em minha cabeça.
-Petra!
A chamo.
-S-Sim, capitão?
-Eu quero te perguntar... Você ainda sente algo por mim?
Vejo seus olhos darem uma pequena arregalada.
-O-O s-senhor sabia?
-Desde o começo, Petra. Você nunca foi boa em esconder certas coisas.
Seu rosto se torna avermelhado.
-Oh, céus...
-Mas esse não é o ponto. Eu só quero saber isso.
-N-Não, senhor. Deixo claro que sentia algo pelo senhor à tempos, mas quando Mi chegou eu mudei minha percepção. Se estava feliz com ela, senhor, eu estava feliz. Como não podia ficar apegada à uma pessoa para o resto da vida, acabei percebendo os sentimentos de outra pessoa por mim.
-Fico feliz que seguiu em frente. Apenas queria ter certeza de que não lhe magoaria por muito tempo.
Falo isso enquanto limpo o pó do abajur com meus dedos.
-Oh, não. O senhor nunca me magoou. Sempre soube que não sentiria nada por mim. Eu que quis dar continuidade ao sentimento.
Dou um leve sorriso de canto ao ver a garota falar isso tão abertamente.
-Posso lhe fazer uma última pergunta?
A ruiva fica meio surpresa, mas concorda com a cabeça levemente.
-Você disse que percebeu os sentimentos de outra pessoa por você. Quem é?
-O-O senhor quer saber com q-quem eu estou?
-Se quiser contar. Estou apenas curioso.
-Ah...
Ela abaixa a cabeça levemente, provavelmente para esconder suas bochechas rubras.
-E-Eu estou com Eren, senhor.
Arqueio as sobrancelhas, surpreso com a informação.
-Com o garoto-titã?
-S-Sim.
-Olha... Ele me surpreendeu, mas fico feliz por vocês dois.
-Obrigada, senhor.
Olho para o relógio na parede de relance e percebo que, se não sairmos logo, ficaremos atrasados.
-Melhor irmos andando.
Falo e ela assente. Petra me disse para ir andando pois precisava pegar uma coisa, e assim o fiz. Saí andando lentamente pelas ruas de Trost até o cemitério aqui nas redondezas. Pensar nisso ainda me dava uma dor no coração, então, numa última tentativa de despedida, desvio levemente o caminho e passo na frente do quartel queimado.
Paro na frente do mesmo e as lembranças me vêm à mente. Me lembro de ver este lugar em chamas e de tentar entrar para salvar Misuki. Com certeza seria suicídio, mas eu não me importaria, realmente. Se não fosse por Erwin, acho que estaria fazendo o meu velório junto hoje.
Toco nos resquícios do local e fecho meus olhos, pedindo desculpas para Misuki, seja lá onde ela esteja. Pedi desculpas pela discussão idiota, por ser tão ranzinza, por ser tão idiota, por não ter lutado o suficiente para salvá-la de lá de dentro. Disse à ela tudo o que eu não disse enquanto ela estava aqui ao meu lado. Admiti também tudo o que amava nela, mas nunca falei. Eu amava o jeito desastrado dela, amava quando ela acordava de manhã e ia até o banheiro cambaleando de sono, amava o cheiro de seu cabelo... A amava, em geral. Adorava seus beijos e a maneira que ela me provocava naqueles momentos mais íntimos que tínhamos entre quatro paredes. Ah, ela me levava às alturas.
  Parei por aí mesmo para não deixar as lágrimas caírem novamente, então abri meus olhos. Abri meus olhos apenas para enxergar os escombros novamente. Dou uma última olhada ali e, quando fui me virar para continuar meu caminho, vi uma coisa brilhante ao fundo. Uma coisa meio rose e brilhante. Uma coisa na qual eu conhecia muito bem.
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oii, o que acharam do capítulo? Vote e comente, isso me motiva muito a continuar ;*

Eai, o que acham que é essa coisa brilhante??

InsuportávelWhere stories live. Discover now