06 - Num beco sem saída

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O clima era bem diferente para cada um dos envolvido. Afonso estava prisioneiro em seu quarto, até que Miray se lembrasse dele e o deixasse sair.

Brígida, que dormiu boa parte da manhã, após acordar, primeiro comeu, trocou de roupa, depois resolveu cuidar dos seus cabelos, e lá se foi boa parte da tarde. 

Ao sair mais tarde de seu quarto se deparou com Miray, saindo do quarto dela também.

— Miray! Bom dia. E quis saber das novidades. O que houve com Afonso depois da mamãe nos acordar daquele jeito? Você o viu?

Ela respondeu: — Ele estava tentando fugir, logo após nós termos saído do quarto. E com medo de nossa mãe, ele iria partir sem terminar as nossas bonecas! — Achando ela que fez o certo, completou: — Ordenei que um guarda o vigiasse até que eu pense em algo para poder ajudá-lo.

— Pelo menos você o deixou com água e comida?

Não. Nem pensei nisto.

E arregalando os olhos a princesa chamou a sua atenção. — Já estamos no meio da tarde, Pobre rapaz! Agora que ele não vai querer saber de outra coisa a não ser fugir!

Isto até que foi bom... Pensando na fome ele se esquece da rainha! — Brincou Miray, com a má sorte de Afonso.

— Não estou ouvindo isto de você! Ele deve estar ainda mais assustado do que antes. Tenho que soltá-lo agora mesmo!

— Olha quem fala! Logo você que é distraída quanto aos problemas dos outros.

— Mas neste caso trata-se de um convidado de papai!

— Você tem razão. Peço desculpas. De uma próxima vez deixo tudo para você resolver sozinha.

Miray admirou a cena que acabara de presenciar. Era a primeira vez que ela viu Brígida se importar tanto com alguém que não fosse da própria família.

Brígida saiu resmungando. — Como ele poderia fazer as bonecas achando que vai ser morto depois? Só você consegue pensar assim. Vou até lá libertá-lo agora mesmo!

Ao chegar à porta do quarto a primeira coisa que fez foi dispensar o guarda e em seguida entrar no quarto. Afonso estava sentado na cama com um olhar desolado. Quando ele a viu, distanciou-se o máximo que podia, fugindo dela o tempo todo enquanto a moça tentava se aproximar dele,.

A moça não gostou de ser repudiada e perguntou com a voz alterada. — O que há com você?! Não pense muito eu não sou como a minha mãe, eu não irei te fazer nada que lhe prejudique.

Ele foi firme com sua resposta. — Não é com você que estou preocupado e sim com seus pais. Se você tivesse me ouvido ontem à noite... Mas não! Você não me ouviu.  Quer saber?! Saia! Antes que sua mãe nos veja aqui sozinhos novamente!

— Não sejas tolo. — Como sempre, Brígida queria mostrar que não tinha medo da rainha. — Esta briga não lhe cabe. Isto é entre eu e a minha mãe. Não sei para quê tanto medo...

— Não é o que parece! Por duas vezes ela nos viu juntos em em situação suspeita!

E rindo, ela explicou. — Eu não quero te envolver  nos assuntos de minha mãe e eu. Apenas aconteceu dela nos pegar juntos e ficar como ficou. Eu estou sempre dado a ela o que pensar, minha mãe não terá tempo de notar a sua presença aqui.

Ela sentou-se na cadeira junto à mesa e continuou: — Minha mãe quer que eu me comporte como uma rainha. Mas eu ainda não sou uma. Eu quero me divertir! Eu nunca desejei o trono. Isto é o desejo do meu pai.

— Eu não estou entendendo o que você quer dizer. Que trono? 

— Eu sou a sucessora de meu pai. Resumindo: Minha esperança é que minha mãe tenha um menino para herdar o trono em meu lugar. Não quero ser coroada... Este sonho não é meu, é de meu pai.

Por um momento ele teve pena dela. — Sinto muito por você está nesta situação. Mas eu estou em uma pior, por sua causa.

Neste momento ele se aproximou dela inesperadamente, pegou em seu punho, pois o braço da princesa estava apoiado sobre a mesa. Então implorou.

— A sua irmã não me deixou ir quando eu tive a oportunidade. Eu até devolvi as moedas que seu pai me deu! Por favor, te imploro, me deixe partir antes que seja tarde demais!

Ela olhou para seu braço e retornou o olhar para ele, o qual percebendo seu atrevimento largou o seu punho rapidamente. 

Brígida apenas relembrou o acordo. — Você não tem escolha. Assim como a palavra de um rei não volta atrás, haja o que houver, a sua deverá ser cumprida também. Porque a promessa que meu pai nos fez, depende da sua.

Ela tinha razão, ele teve que engolir a seco aquelas palavras. 

Ela lembrou-se para o que tinha vindo a princípio. E voltou a ser a moça despreocupada de sempre.

— Há! Acabo de me lembrar. Você certamente está com fome e sede também. Mandarei os criados lhe servirem agora mesmo. Ou prefere ir até a cozinha?

— Não. Eu não quero mais nada! Eu não consigo comer nestas condições. — Afonso não pensava em outra coisa a não ser sair dali o quanto antes.

— Então os criados vão trazer a comida para você. Certo?!

Suas coisas estavam todas arrumadas próximas a porta. Percebendo as suas intenções ela o alertou. 

— Não ouse fugir! Não me faça colocar um guarda em sua porta como fez a minha irmã. 

Afonso largou um dos sacos que segurava. E Brígida completou o seu raciocínio.

— As coisas vão voltar para como estavam antes. Você tem a sua liberdade de novo. Só não ouse cruzar o caminho da rainha. Entendeu?

— Sim alteza.

A jovem não perdeu tempo em ameaçar o pobre rapaz. Era divertido vê-lo apavorado.

— Mesmo assim, direi aos guardas espalhados pelo castelo, para que fiquem de olho em você. Caso tente fugir novamente, esteja preparado para o castigo.

Afonso ficou sem opção, só lhe restava agora confiar na palavra das princesas, de que nada iria lhe acontecer.

O Fabricante de Bonecas (Finalizado)Where stories live. Discover now