11 - A Biblioteca

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Por mais estranho que pudesse parecer, ninguém mais chegou até a rainha para reclamar das coisas que Brígida costumava aprontar. Era um silêncio... Uma paz... Quem se importava por onde andava a princesa travessa, quando tudo que todos queriam era tranquilidade.

A rainha não fazia ideia do que sua filha estava fazendo. Nem mesmo se lembrando da moça, ela só tinha olhos para o bebê, que ainda não tinha um nome, esperando pelo rei para ser batizado.

Depois que Brígida apresentou o seu esconderijo a Afonso, foi só diversão. Como dois adolescentes travessos riam do perigo, enquanto entravam e saiam dos cômodos do castelo se arriscando a serem pegos. Há muito tempo Afonso não se divertia tanto. Brígida estava feliz por finalmente poder dividir seus segredos ao mesmo tempo ser útil a alguém. 

Eles finalmente chegaram à biblioteca. 

— Chegamos! Onde eu queria desde o começo. — Pensou ela em voz alta. — Isto está me saindo melhor do que eu planejei.

Afonso não estava entendendo nada do que Brígida estava falando, apenas entrou com ela pela pequena porta que levava para de trás da estante de livros.

Maravilhado ele arregalou os olhos e ficou boquiaberto com tudo o que estava vendo. — Eu não posso acreditar no que vejo! — Jamais imaginou ver tantos livros em toda sua vida. Começou a tocá-los, encantado.

A princesa, vendo o quanto o jovem estava atraído por todos aqueles livros, teve a certeza de que seu plano daria certo. Saltitando como um carneirinho em volta dele, Brígida se pôs entre ele e a prateleira a qual ele se aproximou para ver mais de perto, e perguntou: — Você gostou daqui?

Vendo o rosto dela tão de perto, acanhou-se, afastando-se rapidamente.

— Sim. Muito!

— Era tudo o que eu queria ouvir. De agora em diante depois do almoço venha para a biblioteca e eu lhe ensinarei a ler e escrever.

— Hã? Deve está louca!

— Não estou não. Finalmente vou cumprir a minha promessa!

— Não mesmo senhorita. Quer me ver morto?!

— Haja normalmente, não precisa se esconder, apenas venha. E se alguém perguntar, diga-lhes que veio procurar inspiração para seus trabalhos.

— Mas, como assim? Você não vai ao jardim nesta mesma hora, todos os dias? Todos vão te procurar e irão ver que você não estará lá e sim aqui comigo. 

— Não pense muito, apenas faça o que eu digo.

— E além do mais eu já lhe disse que não me importa o que você tenha me prometido...

Franzindo a testa a mocinha não gostou do que ouviu. — Nem pense nisto! 

— Como pode ter tanta certeza?! 

— Quando vou ao jardim ninguém vem atrás de mim. E por uma única razão. Além de eu fazer questão de ficar só, eu costumo dormir. E odeio ser perturbada. Não se lembra de como nos conhecemos?

— Sim, você estava dormindo sozinha sem noção do perigo, e eu não vi nenhum guarda por perto.

— Alguém só iria atrás de mim a mando de minha mãe. Caso contrário eu teria amanhecido o dia ali.

— Pode até ser verdade. Mais eu prefiro não me arriscar.

— Não vai lhe acontecer nada, dou-lhe a minha palavra. — Estendendo sua mão, ela esperou que ele a apertasse aceitando sua oferta. — Então, com isto temos um acordo?

Ele demorou para apertar sua mão, mas antes impôs condição. — Se formos pego quero que cumpra mais uma promessa.

— Sou boa em cumprir promessas. Então diga!

— Que eu tenha uma morte digna!

Ela deu uma boa risada. — Não seja tolo! Nunca seremos pegos. Basta você usar um pouco da sua experiência de vida. Com certeza você já deve ter escapado de muitas situações em suas andanças. Não seja o tempo todo um covarde.

Afonso de repente ficou com seu olhar perdido, recordando de algumas de suas aventuras. E olhou para ela. — Um pouco de aventura não me fará mal algum... Você tem razão! Tenho estado muito medroso desde que vim para este castelo e é tudo por sua causa.

— Não mesmo!

— Pelos meus últimos dias aqui, vou me esforçar para não ser pego! E não irei te decepcionar, minha mestra.

— É disso que estou falando! Começaremos amanhã.

Mal eles comemoravam o acordo, eles ouviram a porta da biblioteca rangendo ao abrir. Ambos se agacharam e permaneceram imotos. Quem poderia ser aquela hora, já que havia escurecido?

Era apenas um criado que veio repor um livro que a rainha acabara de ler.

Os dois sorriram um para o outro, ela o puxou pelo punho e correram agachados para a saída secreta.

Brígida levou Afonso de volta para a mesma sala de onde toda a aventura começou. Ela retornou para o seu quarto pela passagem secreta para não ser vista com ele pelos corredores.

Ambos mal conseguiram dormir naquela noite, estavam eufóricos pensando em como tudo seria daquele dia em diante.

Afonso se dedicou muito a suas aulas e deixando seu trabalho meio de lado. Era normal para as irmãs de Brígida que o rapaz estivesse em seu quarto trancado fazendo as bonecas. Então não notaram a sua falta.

Já se passaram quase dois meses desde que veio para o castelo. Mal terminou o boneco que Brígida encomendou e ele havia decidido por fazer outra boneca sem que ela soubesse. Agora estava mais do que determinado a fazer a boneca e presenteá-la.

E em um de seus encontros, lhe pediu algo que só ela poderia lhe ceder.

Em um de seus encontros ele pediu.

— Brígida. Quero uma coisa sua. Mas não me pergunte para o que é, pois não poderei lhe contar agora para o que é.

— O que seria?

— Algumas mechas de seu cabelo.

— O que?! Para que você quer  as mexas do meu cabelo?

— Sem perguntas, é uma surpresa.  Então ele retornou ao que estava fazendo e resmungou baixinho. — Se não quiser me dar, tudo bem... Mas não me faça mais perguntas.

— Vou confiar em você.  Ela olhou para ele sorrindo. — Pode tirar! Mas de um jeito que a minha mãe não perceba que foi cortado.

— Terei cuidado.  Ele levantou-se rápido e pegou a sua tesoura. — Você não vai se arrepender. 

Ela sentou-se de costa para ele. Ele soltou seus cabelos, e com a tesoura foi tirando finas mechas em lugares diferentes, de mais ou menos uns vinte centímetros. Enrolou os com cuidado em um pedaço de tecido e guardou em sua bolsa.

Afonso sabia que já estava abusando da sorte passando tanto tempo no castelo. Precisava terminar os brinquedos de Brígida o quanto antes. Ele conseguiu manter-se longe da rainha e de suas outras filhas. Elas nem se deram conta de que suas bonecas ainda não haviam sido entregues. O bebê roubou a atenção delas. 

Somente alguns criados e soldados o viam de vez em quando ao passar para a biblioteca. Mas estes não se importavam como o que Afonso fazia.

Brígida sabia que as bonecas de sua mãe e irmãs, já estavam prontas e pensava que seu boneco ainda estava sendo feito. "Era o que Afonso a fez pensar". 

Mas Afonso não queria enganar ninguém, só estava ganhando tempo para entregar as duas bonecas juntas para Brígida. E partir, com a lembrança boa dela e um lindo sorriso seu.

O Fabricante de Bonecas (Finalizado)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن