O Amor Na Balança ( Sáfico)

3.

Meus últimos dias têm sido extremamente  corridos e atarefados com o retorno de Alexia, Geórgia, nossa adorável e petulante Vicky, e os bebês que crescem saudavelmente no ventre da minha linda patroa, as confraternizações entre família e amigos não tem fim, e eu tenho que me desdobrar pra manter meu trabalho em dia e comparecer a todas estas reuniões recheadas de conversas animadas e engrandecedoras. O bom nisso tudo é que, com a mente ocupada, eu quase não penso mais na Diana. Quase ok? Porque mesmo depois de ter me comprometido comigo mesma para esquecê-la está sendo bastante difícil...

Elas haviam chegado no dia anterior da visita na loja naquela tarde, e foram direto pra casa da Anahí. Meu casal modelo não quer voltar a morar na antiga casa devido ao que aconteceu, e decidiram vendê-la pra comprar uma nova depois das reformas, é claro. E enquanto isto, vão ficando na casa da irmã de Alexia. Imagina a bagunça? Pois é... Nunca pensei que gostaria tanto de fazer parte de um grupo! Vocês devem estar se perguntando, nossa, por quê elas não foram pra casa em que Charles morava? Bom, meus amores, àquela casa era alugada e vamos combinar que ninguém quer refazer a vida num local que lhe trás lembranças dolorosas não é? Desapegar é ótimo e essencial. Ficar remoendo sofrimento é doentio.

Quando digo o que aconteceu, o real motivo delas terem deixado a cidade veio à tona. Loucura não? Vicky estava na mira de um mafioso pedófilo e junto do avô biológico dela, montaram uma organização secreta que derrubou o império criminoso diretamente na Rússia. A vida dessas duas é digna de roteiro de filme. Agora que está tudo solucionado, elas puderam voltar pra verdadeira casa delas e ficar ao lado da família e dos amigos. Pelo menos tivemos um final feliz nessa história, ao que Geórgia indica que só por enquanto, porque a vida é uma caixa de surpresas e o autor desta deveria tratar a insanidade mental, e tive que concordar com ela. É uma pena que Diana não esteja aqui. Ela foi quem mais sofreu com o sumiço da irmã e da cunhada. E por que Geórgia não pegou o telefone pra ligar pra ela e avisar que está em Nashville? Porque Diana está realmente e totalmente fora de área. Ela não responde as ligações de ninguém. Só dá caixa postal e as redes sociais estão mofando como roupa sem uso no armário.

Sei que é egoísta confessar isso, mas me dá um certo alívio saber que não sou exceção, que ela não decidiu só se afastar de mim, mas de todos.

Estou correndo com Lauren na praça quando meu celular toca insistentemente. Sim, minha segunda chefe e eu temos nos aproximado mais, e sua amizade tem me ajudado a superar ao que parece ser o eterno vácuo de Diana. Lauren é muito extrovertida, social e comunicativa e quando consegue me convencer me arrasta para baladas com o intuito de me apresentar alguma gatinha ou gatinho e não-binários, porque todo mundo já está cansado de saber que sou pan, só que ela parece que ainda não entendeu que além de pan, eu sou demi, então não me interesso por qualquer pessoa visualmente sem uma boa e longa interação antes. Porém, sair com ela não é nada sacrificante, é bi e não me julga como a grande parte das comunidades Lgbt+ que dizem que bi são indecisos, promíscuos, e os pan são desesperados. Além disso, eu me divirto e me distraio quando me animo a deixar a companhia maravilhosa dos meus livros, dos meus discos, e agora de Turmalino. Está sendo legal sair um pouco do meu casulo e experimentar coisas novas.

Faço um gesto de espere e ela para junto comigo.

- Preciso atender pode ser alguma urgência - aviso e a vejo assentir. Ela também decide conferir o celular. Infelizmente no nosso ramo não conseguimos ficar plenamente off-line e quando conseguimos nos desconectar não é por muito tempo, e eu também detesto me desligar, visto que alguém pode precisar de mim e eu não estarei disponível. Olho a tela. Três chamadas perdidas de Alexia. Há também uma mensagem. Leio e ela diz que precisa falar comigo urgentemente, que me espera na casa de Anahí porque não está conseguindo nem levantar da cama. Sorrio de canto. Essa Alexia é muito dramática! Respondo um ok, guardo o celular na pochete e fito Lauren. - Tenho que ir.