20.

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Diana

Os últimos minutos passaram em câmera lentíssima. Devo ter ficado uns dez só estacada, incrédula, depois que Gwen saiu correndo chorando desesperadamente. Reajo a tempo de impedir que seus pais sigam atrás dela.

— Acho melhor não — aconselho parando-os colocando as mãos por breves instantes nos ombros de cada um. — Vocês sabem. Ela precisa de um tempinho pra digerir essa... Bem, digamos, essa brincadeira! — tento amenizar o clima denso que paira sobre nós e o ambiente.

Os dois me encaram confusos.

— Quem é você? — a mãe pergunta.

— Ah, er, sou a Diana. Namorada da filha de vocês...

Ambos se entreolham de maneira compreensiva e diferente do que esperava, o casal a minha frente se desmancha numa intensa gargalhada. Espero que não seja de deboche porque olha, não estou nada disposta a lidar com mais alguns homofóbicos depois dessa desgastante viagem.

— Veja minha querida Janet! — o homem de cabelos longos castanhos presos num coque, que tem uma voz bastante afeminada comenta animado fitando a esposa. — A fofinha nunca me enganou. Eu já suspeitava que ela também gosta de meninas!

— Mas será que foi por isso que ela nos abandonou, Vicenty? — a tal Janet replica com a voz mais potente do que a do próprio marido com um tom de indignação. Pelo visto Gwen não contou para eles que é pansexual. Mas não fico nada surpresa visto que minha namorada deixou claro para mim que a relação deles não é das melhores, pra não dizer péssima não é mesmo? Pra inventar um acidente de caminhão e que o patriarca estava entre a vida e a morte em coma no hospital é motivo mais do que suficiente para eu compreender o desprezo que ela tem deles. Não preciso nem dizer que foi uma atitude altamente babaca e infantil cuja não há palavras a altura para definir!

— Mas nós não temos preconceito meu bem! — meu sogro objeta. Será que devo avisar neste exato momento que ela não quer contato porque eles são pessoas insociáveis? Não. Melhor ficar de bico fechado. Não desejo ganhar a antipatia deles no primeiro encontro e tornar os outros insustentáveis.

— Devo alertar que vocês exageraram não é? — digo para chamar a atenção para mim, pois parece que eu não existo mais nessa sala. Sou fitada e suspiro grata.

— Eu avisei pra Janet que essa não era uma boa maneira de trazer a rosquinha até aqui! — Vicenty se defende e é fulminado pela esposa.

— Agora quer tirar o corpo fora não é seu canalha? Se foi você mesmo que inventou esse plano idiota! — Janet dá um tapa na nuca de Vicenty revirando os olhos e ele reclama de dor soltando um grito estridente.

Me seguro para não rir mas é quase impossível. Eles parecem duas crianças e não dois adultos; e irmãos, não casados. É como se eu estivesse olhando para duas personalidades que tiveram seus corpos trocados. Janet; é a energia masculina, turrona e imparcial, e Vicenty; a feminina, imprevisível e genuína. Sei que meu conceito é totalmente estereotipado, cruel e machista, mas não encontrei uma forma melhor de descrevê-los. Quem estiver lendo meus pensamentos pode me julgar. Começo a sentir pena deles e não raiva. Eles parecem amar Gwen de verdade, só não sabem como demonstrar essa energia edificante de uma maneira saudável.

— Ei, pessoal! Não briguem! — peço, segurando uma risada interna do bico que Vicenty fez e de seus braços cruzados batendo o pé direito dando as costas para Janet, só para enfatizar. — Eu vou procurar a Gwen e depois nós tentamos resolver tudo isso, ok?

— Faça isso Diana — Janet pondera. — É o mais recomendável. Ela não vai querer nos ouvir agora...

— Ela não vai querer nos VER pelos próximos cem anos, meu doce! — Vicenty a interrompe e sai andando em passos pesados e bufando para o segundo andar.

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