Penúltimo

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Diana

Por muito tempo eu vivi sem profundidade alguma. Antes da vida me proporcionar experiências engrandecedoras, dentre estas com acontecimentos e pessoas; sempre permaneci na beira da superfície, e aí, simplesmente ignorei fatos que estavam diante dos meus olhos. Mas agora, que finalmente abri a porta da minha intuição, permiti que minha alma também tomasse o partido nessa jornada evolutiva, eu cresci de uma forma surpreendente, e neste contexto, percebi que há coisas que sentimos que não conseguimos explicar, mas que de alguma maneira, temos certeza que elas existem. O ponto em que eu quero chegar é que, eu pressentia que Gwen estava me escondendo a verdade, e definitivamente, não acho que ela possa escolher o que me causará dor, porque cada ser humano tem seu modo de absorver. Além disso, ela não deveria ter medo ou hesitar me contar tudo que omite, uma vez que, ela, mais do que ninguém, sabe que não é possível continuar um relacionamento íntimo às escuras, desconfiando constantemente do ar que a outra pessoa respire, inevitavelmente, tende a acabar e na maioria das vezes de formas dolorosas. Eu aprendi muito com Gwen e creio que ela ainda tem muito a ensinar. Sim, posso ter ficado com um pouco de raiva e ter me decepcionado com seu comportamento agressivo com relação a proposta que eu fiz a Gabe, porém, tomar conhecimento de que, assim como eu, ela também tem defeitos e dificuldades a vencer, me deixa mais confiante, mais segura em eu ser como sou, sem receio de ser julgada. Nestas coisas que também não podem ser explicadas mas apenas sentidas até segunda ordem, Gabe se encaixa nelas. Ainda não consigo entender o que me levou a ter este forte sentimento por uma pessoa que eu acabei de conhecer, e juro para mim mesma que não é só porque ele é um deficiente físico, que não é só porque sua infância e toda sua vida depois dela foi um mar de sensações doridas, de frustrações, decepções e amarguras, mas sim porque também há algo nele que não condiz com que meus olhos carnais podem captar. Talvez, eu encontre todas as respostas para meus questionamentos internos assim que Gwen criar coragem para começar a falar frente a minha expressão de ansiedade, agonia e expectativa.

— Naquela noite, a noite em que eu te abandonei na cabana, em Dillon — inicia sugestiva e faço que sim mais calma por ela estar tomando a iniciativa sem precisar que eu insista. — Eu tive uma visão das nossas vidas passadas. A princípio eu achei que fosse apenas um pesadelo ou imaginação criativa, e a primeira pessoa que surgiu na minha cabeça foi a dona Missouri. Eu senti que só ela poderia me tranquilizar e me esclarecer devidamente — explana deixando o encosto da cômoda para se sentar na cadeira da penteadeira. — E sim, o que eu vi foi realmente as nossas vidas no passado, a nossa última encarnação na Terra para ser mais específica — ela dá uma pausa para analisar minhas reações, saber se estou prestando atenção e se estou mais serena para segurar a bomba. Ergo as sobrancelhas num gesto que exige que ela prossiga. Felizmente ela entende, molha os lábios, desvia um pouco o olhar, visivelmente constrangida e continua: — Nós éramos irmãs, pelo menos por parte de pai. Minha mãe ficou doente e faleceu e meu pai acabou se casando com uma das criadas, que no caso era sua mãe, e aí eles tiveram você. — minha namorada volta a me encarar, esperando que eu exploda, mas isso não acontece. Querendo ou não, de algum jeito, eu fui preparada para este momento. Afinal, April, a garota que eu achava mais amar na vida encarnou como minha sobrinha, e meu pai vai voltar como meu sobrinho também. — Eu era uma pessoa egoísta, preconceituosa, gananciosa e racista. Eu te odiava com todas as minhas forças só porque você era mestiça. Era isso o que me machucava, e meu pai ele parecia amar mais a bastarda do que a filha legítima e mais a sua mãe do que a minha. E não foi só por isso, eu tinha uma visão completamente diferente da época e ele não aceitava isto, queria me obrigar a fazer coisas que eu detestava e foi então que eu resolvi fugir de casa. Nesse processo meu pai adoeceu e morreu de desgosto.

— E você? Para onde você foi? — me interesso cruzando os braços.

— Saí da fazenda e fui para Paris, nós vivíamos na área rural da França, e obviamente eu odiava fazer parte daquele mundo. Como não tinha como me sustentar, acabei me tornando uma dançarina da noite, a ambição cresceu junto com a necessidade e, comecei a me prostituir.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Where stories live. Discover now