O Amor Na Balança ( Sáfico)

26.

Existe dois pontos distintos, porém iguais, na ocasião em que o infortúnio se abate sobre os seres humanos; um positivo e o outro negativo, que somados acabam dando positivo novamente. É na desgraça que as pessoas se unem em gestos de solidariedade e é nela que também conhecemos o verdadeiro eu delas, no momento em que as máscaras finalmente caem. A dor torna as criaturas humanas e num lado totalmente oposto e não menos importante; traz à tona o monstro que as habita. Na luta pela sobrevivência ou você estende a mão para ajudar seu próximo ou para lhe apontar uma arma com a única intenção de eliminá-lo para retirar o que ele tem de útil para oferecer. Passamos a noite no abrigo subterrâneo e foi inevitável pensar em como seria sobreviver num mundo apocalíptico como naquelas séries, livros e filmes. Se o ser humano não se conscientizar agora, este será irremediavelmente nosso futuro. Minha mãe fez um chá delicioso de propriedades calmantes e enquanto estávamos enrolados em cobertores e muito bem aquecidos, conversamos até sentirmos sono. Antes disso, comecei a refletir em cima de toda minha vida e este momento perturbador me fez perceber o quanto amo minha família e como estou grata por poder estar aqui com eles de novo e principalmente ao lado de Diana, a mulher que amo com toda minha alma e que desejo envelhecer junto.

Sem que meus pais esperassem, os surpreendi com uma declaração de amor intensa e sincera que arrancou lágrimas de seus olhos cintilantes. Me uni a eles num abraço caloroso e Diana nos observou satisfeita. Até mesmo Kate — a garotinha que minha namorada salvou — se emocionou imensamente, obviamente sentindo saudades de sua mãe.

Assim que saímos do local de segurança, ficamos pasmados com a destruição visível que a tempestade deixou. 

Demoramos alguns minutos para nos refazermos psicologicamente e tomar alguma providência visto a quantidade de trabalho. Diana optou por primeiramente procurar a mãe de Kate e meus pais sugeriram que eu fosse com ela por já conhecer a cidade e os postos de auxílio em acontecimentos como este. Concordei e eles ficaram encarregados de medir a extensão do prejuízo na nossa propriedade e em seguida ir atrás de notícias dos nossos familiares.

Felizmente, não demoramos a encontrá-la porque logicamente ela também estava procurando a filha. Diana e eu ficamos aliviadas pela mãe de Kate estar a salvo porque a orfandade é dolorosa e decidimos permanecer na cidade para ajudar nas buscas por desaparecidos, quando nos damos conta já estávamos cuidando de feridos e contribuindo no recolhimento de destroços.

Estava tão distraída e ocupada com os serviços voluntários que quando fui me lembrar da existência de Margareth e Gabe, a tarde já tinha dado sua graça. Pelo menos não há mais previsões de tornado pelos próximos dias e o tempo firmou. Foi um susto e tanto com algumas vítimas fatais. Corremos muito risco voltando para casa para nos abrigarmos, mas normalmente, cada casa possui um porão que comporta apenas os integrantes de uma família. E não podemos parar nossas vidas por conta dessas tempestades imprevistas.

Termino o curativo numa idosa e saio em busca da minha nadadora.

— Diana — chamo e ela direciona toda sua atenção para mim.

Vejo minha namorada se afastar de um grupo de pessoas que procuram por seus parentes e vir até mim.

— Algum problema com sua família? — questiona ansiosa segurando meus braços.

— Não, acabei de falar com papai e graças a Deus ninguém se feriu. Os bens materiais são o de menos, vamos recuperá-los depois.

— Ah que ótimo! — suspira mais calma.

— Estou preocupada com o Gabe e a Margareth. Acho que deveríamos ir até a casa deles.

— Vamos agora mesmo. Só vou avisar o coordenador da nossa equipe de resgate que daremos um intervalo nos trabalhos de assistência.