8.

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Se tem uma coisa que eu detesto mais do que dirigir com certeza é; roça/área rural/fazenda/mato/floresta/interior/sítio. Pois é, não me julguem, além de serem dois motoqueiros magricelos e carnívoros que queriam me obrigar a ser como eles, meus pais moram numa fazenda no meio do nada — nem tanto assim, mas eu sou a Gwen e quero ser descomedida  assim como minhas primorosas curvas. Tenho que fazer jus a todo meu esplendor meu bem — no meu Estado de origem. Está aí mais um dos motivos de eu ter me desesperado para sair de casa assim que tive a chance. Minha infância foi extremamente perturbada e a pré-adolescência terrivelmente abalada. Era péssimo porque eu não conseguia me encaixar no estilo de vida que meus familiares são adeptos. Não vou mentir que passava a maior parte do tempo na casa daquele meu amigo que ficou tetraplégico  mencionado nos capítulos anteriores, Gabe era o nome dele. Era porque tem absurdos anos que não temos mais contato desde que entrei pra faculdade e eu não sei dizer se ele ainda está encarnado ou desencarnou. Não paramos de nos falar porque brigamos ou qualquer coisa parecida, apenas nos deixamos afastar devido a correria diária de rotinas que nunca se coincidiam com algum horário vago. Acreditem, ele não deixou de viver porque tecnicamente está “ condenado” a uma cadeira de rodas. Os limites só existem para quem os alimenta e acredita neles. A mãe dele me adorava e ele também amava minha companhia. Lá eu conseguia me sentir menos uma estranha no ninho. Por que eu estou comentando isso quando vocês estão arrancando os cabelos — quem tiver viu — para saber como está sendo meu encontro com Diana? Porque tem um maldito pernilongo tamanho de uma ave me picando no pescoço exatamente nesse momento, no qual eu iria narrar o próximo ato. Dou um tapa no local somente para afastá-lo e devo ter ganhado só um vermelho porque o danado continua zumbindo irritantemente no meu ouvido. Esse é o mal de mosquitos e moscas; você pode se cansar de tentar eliminá-los, porém, nunca, em hipótese alguma conseguirá se não der a vida para isto. Principalmente levando em consideração que eu não extermino qualquer espécie de ser vivo, pelo menos os animais (Diana não está incluída nessa lista. Provavelmente no episódio posterior serei presa por homicídio doloso). Confesso que às vezes fico com dó dos vegetais por ter que me alimentar deles para sobreviver. Argh. Não me chamem de chata, por favor, respeitem meus gostos e meus ranços... Ok? Certo. Sendo assim, vamos para o próximo capítulo dessa história...

...Diana continua estática me encarando como se eu fosse de mentira, enquanto atrás de mim, o senhor Harrison termina de executar seu trabalho enquanto sustentamos olhares. Ela tem uma expressão embasbacada e eu? Ah, eu estou exausta e a fuzilo sem comiseração alguma. Ela tinha que vir se esconder aqui? Tinha! Maldita hora que aceitei correr atrás dela.

— Pronto senhorita Gwen! — Harrison comunica parando do meu lado, dou uma olhada rápida pra ele.

— Obrigada! — abro um sorriso forçado e me viro rapidamente para Diana que ainda não sabe como reagir a minha presença. — O que está esperando? Trate de quitar a dívida e ande logo com minhas malas porque preciso de um banho urgente! Dá licença! — passo pela negra que tem os olhos arregalados, esbarrando nela de propósito e só então ela parece voltar a si. Me acompanha com o olhar até entrar na cabana. Sei disso porque dou uma olhadinha pra trás, solto um rum dando com os ombros e fecho a porta na cara dela, não que esteja sendo grossa e ingrata com o senhor que caiu como um anjo na minha vida. É da Diana mesmo que estou com raiva. Enfim...

Assim que adentro a cabana escorrego numas latas vazias de cerveja e caio deitada no sofá. Deus existe! Poderia ter caído no chão e batido com a cabeça ou desencarnado ou ter sido hospitalizada. Me sento assim que consigo reagir. Mas o que é isso? Passou um espírito beberrão por aqui? O que se trata esse mar de garrafas vazias? Enquanto medito numa resposta cabível, a porta se abre e revela uma Diana, ham, digamos surpresa, curiosa e constrangida.

— Pronto — informa colocando os meus pertences no chão perto da porta. — Já paguei o velhote. Sorte que minha carteira estava no meu bolso! — sorri desajeitadamente mostrando o utensílio essencial. — Agora pode me explicar como soube que eu estou aqui? E o que diabos aconteceu com você? Aliás, por que você veio até aqui? E de quem é àquele jipe lá fora? Você dirigindo? Tsc. Tinha que dar naquilo...

O Amor Na Balança ( Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora