23.

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Minhas bochechas devem estar parecendo que foram substituídas por dois tomates maduros de tanta vergonha que estou sentindo por Diana ter presenciado meus pais num ato tão íntimo. Tudo bem que minha namorada já está mais do que ciente de que eles têm sérios problemas psicológicos, eu mesma fiz questão de alertá-la quanto a este fatídico temperamento, mas, isto foi demais para mim e uma péssima impressão para ela, ainda que garanta que eu não devo me preocupar e que está achando engraçado ao invés de se sentir constrangida, afinal, sexo é uma das necessidades básicas para alguns seres humanos. Porém, eles poderiam terem se esforçado para serem mais discretos não é? Duvido que tenham feito de propósito, o negócio é que são descarados por natureza. Eles deveriam ter mais pudor e bom senso. Ninguém é obrigado a escutar sons libidinosos de terceiros e ficar imaginando o que está acontecendo entre estes em quatro paredes, não que isto também já não esteja óbvio.

Finalmente chegamos no destino almejado que eu fiz questão de escolher.

— Vamos dormir no motorhome? — minha nadadora questiona com a sobrancelha franzida assim que paramos em frente a kitnet ambulante super conservada.

— Sim, qual o problema? — rebato me sentindo ofendida cruzando os braços. — Meu pai ama essa coisa e a mantém limpa, cheirosa e impecável!

— Isso é... — é minha vez de torcer a testa esperando por uma resposta negativa. —SENSACIONAL! — Diana me segura pela cintura e rodopia comigo com muita euforia.

— Diana para! Nós vamos cair! — gargalho junto.

— Eu sempre quis viajar o mundo num motor home! — confessa o adentrando sem esperar por minha permissão. A porta está destrancada e facilita sua entrada. A sigo. Ela analisa a cabine de direção, a pequena cozinha conjugada com uma copa/sala mínima, um banheiro e um quarto que mais parecem um cubículo. — Isto é um máximo! — elogia boquiaberta.

— É porque você ainda não viu a vista lá de cima! — atiço e ela me encara com expectativa.

— Me leva lá! — implora com os olhos claros brilhantes como uma criança empolgada com o novo brinquedo.

Faço que sim. Pego um lençol dentro da mochila e ambas deixamos nossos pertences em cima da cama. Puxo a escada que fica encaixada no teto e subimos. Diana se sente ainda mais admirada com a visão espetacular do céu e da propriedade.

— Eu amei tudo isso aqui!

— Te disse pra confiar em mim! — levanto minha perna levemente e faço bico.

Diana ri do meu gesto de exibição, me abraça e me beija.

— Eu te amo minha garotinha brava!

— Ah para de me zoar por causa daquelas fotos! — lhe dou um tapa no braço e estendo o lençol. Me sento e ela faz o mesmo ao meu lado.

— Ah vai! Você era uma menina adorável! — ganho um beijo na bochecha.

— Rum — dou de ombros e fito as estrelas meio encobertas pelo céu nublado. Gabe volta a invadir minha mente.

— Não vai me contar por que está estranha desde que chegou do supermercado? — minha namorada entrelaça sua mão na minha e pousa um beijo no dorso.

A encaro um tanto surpresa. É incrível como ela consegue me ler.

— Está assim por causa dos seus pais? — insiste visto que não digo nada.

— Ah não! Minha raiva de papai e mamãe já passou faz tempo! — agito a mão disponível. — Você está certa. Eles são só umas crianças imaturas precisando de atenção. São inofensivos e apenas necessitam de esclarecimentos, o que é ótimo por sinal porque descobri que realmente não fazem essas loucuras por maldade e sim por ignorância. Se fosse por malícia aí sim seria mais difícil de resolver e lidar, e talvez o melhor fosse me afastar definitivamente mesmo. Porém, não é o caso.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Where stories live. Discover now