5.

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Diana

Estou terminando de repor o freezer com cervejas quando sinto duas mãos me envolverem pelas costas e segurar forte na minha cintura. Suspiro fundo para não perder a paciência que não ando tendo nenhum pouco.

A dona das mãos vai além, roça o rosto nas minhas costas e distribui beijinhos nos meus ombros. Ok. Já chega disso! Essa garota passou dos limites e não pode me irritar ainda mais. Fecho a geladeira com força e ela é obrigada a se afastar com meu movimento brusco. A encaro e ela sorri de um jeito bastante safado.

— Isso é assédio sabia? — me defendo e ela gargalha descontraidamente.

— Ah vai, Diana! Qual é seu problema? Já vai fazer quase cinco meses que você está na cidade e até hoje não me deu bola. O que tem contra sexo sem compromisso?

— Não é só porque sou lésbica que quero ficar com todas as mulheres do mundo! — reviro os olhos. — Além do mais, — pego o engradado e caminho até o quarto de abastecimento. — Não estou na cidade para transar.

— Pessoas como você só vem pra um fim de mundo como esse por três motivos! — a fito depois de empilhar a caixa de plástico vazia junto com as outras. — Está fugindo da polícia ou de alguém, ou faliu... E você não tem cara de que seja uma pé rapada! — sou analisada com desejo e pela primeira vez isso me aborrece. Se fosse a Diana de antes já teria levado Sheyla pra cama e todas as outras garotas que se ofereceram pra mim até agora, logo depois do primeiro drink, sentadas naquele balcão enquanto eu as sirvo e elas falam de seus problemas. É estranho, irônico e deprimente como o álcool faz com que as pessoas soltem tudo o que está reprimido. E pasmem! Eu não falo de mim em nenhum momento e nunca imaginei que tivesse dom para dar uma de psicóloga de plantão. Elas saem daqui satisfeitas em serem ouvidas e aconselhadas. Pois é, vocês devem estar pensando, nossa logo a Diana dando conselhos! É, o autor dessa história pirou de vez. É interessante não pensar só em si e falar de si o tempo todo, como eu fazia antes, sendo uma narcisista egoísta da pesada. Por incrível que possa parecer, é legal saber que tem pessoas com problemas piores do que o meu e eu só sabia olhar pro meu umbigo e fazer drama. Caridade tem lá suas vantagens. Nunca pensei que gostaria tanto de estar num lugar. O ar de Dillon tem me ajudado a superar os últimos acontecimentos dolorosos e perturbantes. Porém, não digo que parei de sofrer. Elas falam de problemas familiares, amorosos, profissionais e a última senhora que esteve aqui e reclamou do marido porque ele é péssimo de cama, a noite inteira, depois de umas três doses de uísque, disse que havia se entendido lésbica depois da nossa conversa e me agarrou. Sheyla teve que me ajudar a me livrar da doida e eu tive certeza que as pessoas estão cada vez mais carentes e solitárias de atenção, tanto que quando alguém lhes dão isso depois de muito tempo sem, elas acham que estão apaixonadas. É cada uma que tenho vivido e aprendido por aqui que daria um livro. Felizmente deve ter alguém contando minha história, caso contrário nada disso faria sentido.

— Bom, isso não é da sua conta e se eu fosse você ficaria bem longe de mim, porque posso ser realmente uma psicopata! — sugiro séria mas ela se desmancha numa outra  gargalhada ainda mais intensa.

— Hum, ai credo, que delícia! — zomba. — Quero muito conhecer esse seu lado sádico! Deixa eu ser a primeira a experimentar a carne nova no pedaço! — a morena de cabelos pretos lisos grandes até a altura das nádegas, olhos azuis intensos, pele extremamente branca, uma tatuagem de uma rosa entrelaçada num punhal no ombro direito, vem até mim novamente, leva as mãos aos meus ombros, apertando-os, e tenta me beijar pela milionésima vez desde que comecei a trabalhar em seu bar de estrada há cerca de três meses. Não que eu não tenha como me sustentar pelas redondezas. Meu acerto de demissão da academia deu uma pequena fortuna. Só preciso fazer algo para me distrair da monotonia de Dillon e não pirar totalmente. Estou em busca da tal paz de espírito de que tanto as pessoas falam, mas só encontrei  mais tormento. Ainda me lembro da noite em que parei aqui pra tomar alguma coisa e um dos clientes perdeu as estribeiras e arrumou confusão com outro cliente. Interferi como a típica pessoa que não está dando a mínima pra própria vida, ganhei dois pontos na testa de uma garrafada e uma proposta de emprego. Desde que o irmão se casou e se mudou pra Arkansas, Sheyla tem cuidado do bar sozinha e é trabalho demais para ela. Porém, não estou com disposição para fazer amizades ou ter qualquer envolvimento com alguém, além de um contato estritamente profissional e necessário, e ela fica um pouco irritada de não saber nada sobre mim, além do meu nome e de que moro numa cabana na área rural de Dillon. Mais ninguém aqui parece me reconhecer e eu também não faço questão de reconhecer ninguém. Acredito que muitos dos jovens da minha época devem ter se mudado daqui e os velhos devem ter morrido ou estão com Alzheimer. O que é um alívio para mim, porque não desejo mesmo resgatar relacionamentos passados, só quero ficar sozinha e  sossegada.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Where stories live. Discover now