14.

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Diana

Convencer Gwen a ficar mais alguns dias na cidade requereu muito esforço da minha parte. Insisti para que fique pelo menos o resto de tempo que falta para o carro da Geórgia sair da oficina e ela não teve como discordar porque apesar de estar receosa de pegar a estrada de volta para Nashville, também não deseja deixar o jipe que minha meia-irmã fez a importância de emprestá-la atenciosamente, por uma questão de gratidão e consideração. É óbvio que Geórgia não daria a mínima caso eu viesse a recorrer e a sugerisse que vendesse o automóvel na região para evitar mais transtornos e riscos. O único carro que tinha a devoção de Geórgia Anderson era o Impala 67 que ficou na história passada, embora uma parte dela tenha ficado junto por lá, e não me refiro a metade do braço esquerdo. Prefiro não discutir com minha namorada que se mostra irredutível quando o assunto é manter as próprias convicções. Ela não quietou enquanto não ligou para minha cunhada para dar notícias nossas e explicar o motivo de ainda não ter ido embora porque não queria preocupá-la. Alexia até lhe propôs umas férias antecipadas, levando em conta seu ótimo desempenho como funcionária, entretanto sem concordância da minha ruiva que parece ser viciada em trabalho ou em se sentir útil. Porém, eu sei que Gwen na verdade quer é aproveitar minha companhia o quanto puder, mesmo que jamais negue isto e sua verdadeira vontade seja viajar de avião, uma vez que eu não mostrei interesse em retornar ao Tennessee, não por agora. É estranho dizer isso mas estou gostando da vida que estou levando por aqui, mesmo que eu saiba que não poderei permanecer definitivamente visto que não estou mais em idade de manter um relacionamento a distância, nem quero e também não almejo que Gwen abra mão da sua vida por mim, e que preciso rever minha família, principalmente Geórgia, Alexia e Vicky para nos entendermos pessoalmente. E os gêmeos que em breve irão nascer. Penso em ir exatamente na época do nascimento e durante este tempo apreciar mais um pouco a tranquilidade do interior. Não sei o que vou fazer da minha vida profissional daqui em diante. Abri mão de uma carreira promissora na Europa e consequentemente sujei minhas boas referências no ramo ao não comparecer para assumir o cargo e não avisar o motivo do meu inconsequente desaparecimento. Tudo bem que perder senhor Charles para a “morte” é motivo o suficiente mas não justifica minha falta de compromisso. No momento só consigo pensar na reencarnação do meu pai ao lado de Corinne e focar todas as minhas energias no meu romance com Gwen, que aliás exige muito de mim. A ruiva é literalmente muita areia pro meu caminhão.

Um suspiro escapa profundamente do meu peito quando a vejo maquiada, penteada, trajada num vestido longo sem alças que valoriza sua silhueta, descendo as escadas, enquanto confere a bolsa transversal distraidamente a ponto de cair dos saltos.

— Até que enfim! — sussurro descruzando as pernas, cessando o pé que não parava de balançar ansiosamente e me levantar. — Será que eu esqueci de te avisar que apenas estamos indo no jantar de aniversário de casamento do Bill? — debocho.

A ruiva para de mexer na bolsa e me dá um selinho assim que para na minha frente:

— Exatamente por isto. Com certeza praticamente a cidade toda vai estar lá já que você disse que ele é um ótimo construtor. Conheço esse tipo do interior. Ele deve ser amigo de todos. Não quero bancar a desleixada.

— Você fica linda de qualquer jeito! — garanto a puxando para mim. Aliso seus braços expostos. — Vaidade tem limite.

— A sua tem, a minha não! — retruca sorrindo. — Você fica apresentável com muito pouco meu amor, já eu — dá de ombros.

— Olha só um resquício de insegurança no ar! — brinco.

— Rara, — ela força uma risada — Seu sonho! Não me refiro ao meu peso e sim a minha pele branca que me envelhece mais do que eu gostaria. Já você, a Geórgia, o Tony e a Nora? Meu Deus, parecem que ainda são adolescentes...

O Amor Na Balança ( Sáfico) Where stories live. Discover now