15.

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— Ai meu Deus Diana! Para de rir — ordeno junto de um som estranho uma vez que tento conversar no mesmo momento em que escovo os dentes. Me esforço para não deixar o gel dental cair na minha camisola curta ou no chão. — Não tem graça sabia? Está aí um dos motivos de eu odiar roça, esses caipiras tem a mente tamanho de um grão de feijão!

— Para você! — ela manda mas continua rindo então sei que não está falando sério. — É você quem está sendo preconceituosa agora! Poxa vida Gwen. A naturalidade e a nacionalidade das pessoas não as fazem mais ou menos babacas... Não generaliza. É você mesma quem vive me dizendo que cada pessoa é um universo peculiar a ser explorado.

— O problema não é esse, ok? Normalmente as pessoas do interior têm preguiça de se atualizarem, vivem numa redoma — lufo me dando conta das besteiras que estou falando por puro ranço. — Ah droga! Eu não sou melhor que eles, estou sendo mesmo preconceituosa! — reconheço.

— Te disse! — Diana cai na gargalhada abraçada ao travesseiro.

— Você é uma idiota! — bufo revirando os olhos. Minha namorada se levanta da cama vestida apenas numa lingerie, super sexy só para constar, o que acaba me arrancando uma arfada involuntária, vem até mim e me dá um beijo demorado na testa sem o teor de brincadeira de antes. — Eu só fico chateada com tanto preconceito — justifico fazendo bico com a escova ainda na boca.

— Eu sei — Diana alisa meu cabelo. — Eu também, acredite. Mas isso não anula o fato de eu ter sido uma lésbica radical e só me desconstruí depois que te conheci. Então você melhor do que ninguém sabe que as pessoas cisgêneras heterossexuais religiosas não são as únicas preconceituosas. Dentro do próprio meio LGBTQ temos pessoas extremamente preconceituosas. Ou seja, tudo que é diferente e está fora do nosso conhecimento, causa estranheza. Eu mesma nunca me vi me relacionando com uma mulher transgênera lésbica não redesignada. Eu tinha um desconforto horrível em imaginar um pênis ali embaixo. Assim como tem pessoas trans hormonizadas que são preconceituosas com as que não são, e as lésbicas e os gays são com os Bis, e os Bis com os Pans e assim vai...

— Você tem razão. Obrigada por me fazer recuperar o equilíbrio mental e emocional. Você está sendo como uma lanterna em meio a escuridão. Não sou perfeita e as outras pessoas menos ainda. Cada um é cada um independente de fatores externos — quem diria não é? Diana me dando conselhos e não ao contrário. Sorrio suavemente.

— Exatamente. E você é incrível Gwen! Nossa. Eu não sei como mas você lida muito bem com a gordofobia. É triste imaginar que é porque você se acostumou.

Abro um sorriso amistoso:

— Ei, não se sinta mal por mim. É como estamos conversando... As pessoas só oferecem aquilo que têm e não me assusto mais se elas têm só ignorância na bagagem. Assim como você se desconstruiu elas também podem. Há um momento certo para todos despertarem.

— Eu fico horrorizada só de imaginar que eu já fui uma delas algum dia, e não sei se quero socar a cara deles ou a minha própria!

— Isso já passou Diana. Hoje você é outra pessoa e não deve ser julgada pelos erros do seu passado. E isso serve para mim também e para todos. Não foi assim com sua irmã? Geórgia era uma pessoa terrível e hoje em dia é admirável. Não podemos desistir mas também não devemos insistir. A vida é uma escola que ensina a todos.

— É verdade.

— E não precisa bater em ninguém por minha causa, está bem? Deixa que eu mesma me sobressaio. Não preciso que me defenda e muito menos com violência. Eu me alinhei a vida toda para isso.

— Certo — ganho outro beijo na testa. — Mas não te prometo que vou conseguir me conter todas as vezes e dependendo da piada de mal gosto...

O Amor Na Balança ( Sáfico) Where stories live. Discover now