Antepenúltimo

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Desperto lentamente, abraço o edredom com um sorriso bobo no rosto, alongando-me preguiçosamente. Estou sentindo o cheiro inebriante de Diana nos lençóis e meu corpo reclama de saudade...

Diana.

Ué, onde ela está?

Arregalo os olhos de imediato e me deparo com minha namorada sentada na beira da cama com as suas órbitas expressivas sobre mim.

— Mas já acordou? — questiono bocejando, mais tranquila em vê-la.

— Na verdade, eu nem dormi.

— Como? — pego meu celular e confiro as horas. — Caramba! Eu dormi demais! Por que não me acordou? — recrimino levantando-me meio desnorteada. — Temos muito trabalho na cidade!

— Eu sei, mas você estava exausta, fiquei com pena de te chamar.

Petrifico por alguns instantes, me dando conta de algo, e viro-me para fitá-la:

— Por que você nem dormiu?

— Tive insônia. Uma mistura de ansiedade e estresse...

— Nossa, poderia ter me acordado pra te fazer companhia. Não ia me importar.

— Não duvido disso, afinal já fizemos isto várias vezes... — ela dá de ombros.

— Então?

— Eu fiz uma caminhada para me distrair e também não é justo retirar seu descanso.

— Espero que isso tenha ajudado — começo a procurar umas roupas confortáveis nas gavetas. — Mas, não acho prudente você ir pro trabalho voluntário sem ter tido uma boa noite de sono. Você sabe que os serviços são pesados e não quero que se sinta mal — começo a vestir uma calça jeans.

— É, acho que você está certa, — subitamente percebo que tem alguma coisa de estranha em Diana. Paro para observá-la. Ela está analisando as mãos nervosamente com a cabeça baixa e as pernas cruzadas.

— O que você tem? — fecho o zíper, ajeito meu sutiã e meu cabelo bagunçado.

Minha namorada desliza na cama e senta nos pés dela de frente para mim.

— Precisamos conversar. Estou me sentindo culpada por ter tomado uma decisão tão importante sem antes te consultar.

— Do quê está falando exatamente? — ergo a sobrancelha direita, instigada.

Ela respira fundo:

— Eu pensei muito de madrugada sobre os últimos acontecimentos, desde a morte do meu pai, minha demissão por justa causa, ao nosso namoro, a nossa vinda para cá, e principalmente nessa sensação de inutilidade que tem tanto me afetado.

— Nós já falamos sobre isso, não é? — sento-me ao seu lado e tomo sua mão fria e trêmula para a minha. — Não se martirize. Uma hora você vai se encontrar e saber o que fazer da sua vida de novo.

— É justamente isso, Gwen — sua outra mão cobre a minha como se quisesse me serenar. — Depois que conheci seu amigo, eu acho que finalmente me encontrei. Acho não, tenho certeza.

— Isso sim é surpreendente — minha testa se suspende no mesmo instante que minha boca ilustra um o. É bom saber que a amnésia temporária de Diana e a condição atual de Gabe contribuíram para eles se aproximarem sem as sombras do passado? Sim, mas não esperava que de maneira tão engrandecedora. Isto me deixa ainda mais satisfeita e grata ao universo. — Não nego que notei que você se deu muito bem com o Gabe, mas não imaginava que seria neste grau.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Where stories live. Discover now