24.

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Diana

Depois de me vestir, saio do motor home assoviando tranquilamente, olhando tudo ao redor com admiração. Eu nunca fui dada a isso de ter e sentir vontade de realizar fetiches, mas minha ruiva despertou desejos reprimidos em mim. Antes considerava que para ser uma mulher que curte mulheres legítima, apenas os dedos e a língua bastava numa relação sexual e até achava que já que a lésbica sentia vontade de usar brinquedinhos de penetrações era melhor transar com um homem. Só fui entender que isto se tratava unicamente de um preconceito tolo quando comecei a ter sessões de terapia com minha cunhada e consequentemente me aproximei de Gwen. A forma como as pessoas fazem sexo — ou amor — não as define, principalmente pelo fato de que cada ser humano sente prazer de um jeito particular e é ignorância julgar de maneira geral. Através dos meus sogros tive uma prova vívida disto. Tecnicamente, Vicenty não se torna gay só porque sente tesão e obtém prazer com sexo anal, uma vez que sua parceira é uma mulher. Ambos são heterossexuais porque amam e se sentem sexualmente atraídos pelo gênero oposto. Além disso, tomar consciência de que existem mulheres de pênis e homens de vagina, muitos deles sem quaisquer disforia com suas genitais, me ajudou a abrir a mente para estas questões, e compreendi que a feminilidade e a masculinidade está além do que as pessoas carregam no meio das pernas, e não é só porque uma pessoa tem vagina que ela necessariamente queira ser penetrada, e o mesmo acontece com alguém de pênis, que também pode não se sentir confortável em usá-lo para penetrar. A sexualidade é muito complexa para ser discutida generalizando-a e rotulando-a.

Só sei que minha boceta fica melada somente de lembrar a visão da bunda farta de Gwen subindo e descendo no dildo que encaixei em minha boca, com sua fenda molhada e receptiva. E para arrematar minha exultação, sua mão me tocou com maestria, me levando as alturas sem sair da cama. Não sei o que deu em mim em pensar em sexo quando estávamos vindo para um provável enterro, que graças aos céus não se realizou. Acho que a convivência com minha irmã Geórgia e sua esposa Alexia, tem me afetado gravemente.

Janet me pergunta se eu vi o passarinho verde assim que adentro a cozinha e eu alargo o sorriso de canto com o qual eu acordei essa manhã, coçando a nuca desajeitadamente.

— Em compensação acho que você e o Vicenty viram a fauna e a flora toda, não é? — zombo enchendo uma xícara de café forte sem açúcar.

Minha sogra cora mas, surpreendentemente, nada envergonhada:

— Ah meu Deus! Nunca vi um homem tão escandaloso! — revira os olhos bebericando o preto encostada no balcão da cozinha assim como eu.

— Bom, a vida sexual de ninguém é da minha conta! Ainda mais de vocês! — desconverso.

— Que bom porque definitivamente não quero te assustar!

Franzo a testa tentando entender o que ela quer dizer com isto, e a vejo cair na gargalhada.

— Esqueça! — abana a mão sugestiva.

— Ok — concordo sem nenhuma curiosidade. Isso realmente não me interessa porque me constrange. — Ah, onde está a Gwen? — questiono olhando para os lados.

— Não foi você quem dormiu com ela? — indaga com um tom descontraído.

Abro um sorrisinho sem graça:

— Quando acordei ela não estava mais lá — conto com um ar de decepção me lembrando da falta que seu corpo caloroso e volumoso me faz. É incomparável despertar ao lado dela com um beijo quente na testa e um afago no cabelo.

— Tudo bem, relaxa. Só estou brincando — bebe mais um gole e explica: — Os tios da Gwen estão quase se matando e ela foi com o Vicenty tentar impedi-los. Acredite se quiser, mas desde criança, Gwen é a única que consegue apartar a situação, então ele a convenceu de ir junto.

— OH! — exalo admiração. Chega a ser engraçado que tudo caminhe para que minha namorada permaneça mais tempo na cidade e felizmente eu.

— Se te conforta, saiba que ela estava preparando seu café da manhã pra levar na cama.

Sorrio abalada.

— Minha garota é mesmo muito romântica, não? — Janet comenta com orgulho.

— Indiscutivelmente!

— Ei? Que tal matar o tempo  indo comigo pra oficina? — convida amigável. — Espero que goste de máquinas de duas rodas, pois são minha paixão!

— Mas é claro! Eu amo carros e motos. Acho que é uma coisa de família! — aquiesço empolgada.

— Que pena que não posso dizer o mesmo. Gwen prefere uma bicicleta!

Me desmancho numa intensa risada:

— Não deixa de ser uma máquina de locomoção de duas rodas!

— Olhando por esse lado, — dá de ombros. — mas vamos lá!

Anuí imediatamente e me pego apaixonada pela loja de concertos de motos da minha sogra, tanto que acabo pondo a mão na massa para ajudá-la com uma Harley clássica. É fácil admitir que estou amando esta vidinha por aqui e digo até que teria coragem de me mudar para cá.

Para nossa surpresa, Gwen surge com meu sogro e se deparam com nossa sujeira e entusiasmo avaliando as motocicletas valiosas.

— Ah então quer dizer que você está aqui! — ganho um selinho e correspondo.

— Também necessito ter alguma atividade de entretenimento.

— Não foi nada divertido separar briga! — resmunga fazendo bico. — Mas, a notícia boa é que, fomos convidadas para o almoço. Meus tios e meus primos querem te conhecer!

— Sério?

— Unrum, mas vocês precisam de um banho antes!

— Concordo plenamente! — Vicenty reforça olhando de mim para Janet e ambas assentimos.

Passamos em casa para nos arrumarmos e logo saímos para o lar do irmão de Vicenty que fica na cidade, não muito longe da oficina de Janet. Somos recebidos com muita comida e bebida e como Gwen já havia me alertado: churrasco e cerveja adoidado. Obviamente eu me empanturro enquanto Gwen mostra para todos que uma pessoa vegana também pode se divertir com um churrasco sem nenhum conteúdo de origem animal. Confesso que os espetinhos de cogumelos são deliciosos e seus parentes concordam comigo.

— Caramba! Como eles comem! — comento enquanto estamos sentadas só ela e eu numa mesa, olhando para a varanda que lotou de pessoas em pleno dia de semana. Tudo isso por causa da boa filha que a casa retornou.

— Te disse que não engordam de ruim! — Gwen complementa mastigando uma salada com um meio sorriso.

— Pior que é! — assinto pressionando o queixo para em seguida beber um gole de cerveja.

— Estou impactada com como minha família gostou de você. Parece até caso de vida passada! — insinua com um riso estranho.

Abro a boca para responder mas o celular dela estendido em cima da mesa me interrompe. Olhamos juntas para a tela e é a ligação de uma tal de Margareth. E pelo que já sei, se trata da mãe de Gabe. Será que aconteceu algo com ele? Me preocupo como se também o conhecesse.

— Preciso atender! — explica-se e eu consinto. Até mesmo eu estou curiosa para saber se houve alguma coisa. — Oi Margareth, tudo bem? — Gwen faz um gesto de que não está escutando nada por causa do barulho de música e várias pessoas falando ao mesmo tempo e se afasta pedindo licença. De onde estou posso observá-la perfeitamente na cozinha e seus olhos se enchem de lágrimas. Talvez ele já tenha feito aquilo. Fico apreensiva. Sei o quão Gabe é importante para Gwen e se ele partir sem ela se despedir, ficará bastante magoada. Espero que não seja isto. Ela desliga e se aproxima de mim. Me levanto solícita.

— E aí? — incentivo para que me conte cada detalhe da conversa.

— É o Gabe. Margareth disse que ele vai viajar amanhã cedo para Washington. Que a justiça já liberou seu pedido e o procedimento foi aprovado. Preciso ir vê-lo agora mesmo Diana!

— Eu vou com você!

O Amor Na Balança ( Sáfico) Where stories live. Discover now