22.

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Diana

Não sei quanto tempo se passou desde que minha ruiva saiu para ir até o supermercado com minha sogra. A companhia do meu sogro está sendo tão prazerosa que tenho a dupla sensação de que as horas estão voando ou que se eternizaram. Já arrumamos o quarto que a filha dele e eu iremos ocupar e agora estamos sentados na sala, bebendo cerveja, escutando Pink Floyd, enquanto ele me mostra diversos álbuns de fotografias e me conta todas as histórias em cima delas. Obviamente me perco nas fotos em que Gwen está ou nas que ela está completamente sozinha. Não consigo evitar rir de suas caretas visto que os clicks aconteceram em momentos de surpresa ou contra sua vontade.

Gwen era uma garotinha gorda de bochechas rosadas, cachos castanhos claros e sorriso difícil. A testa sempre franzida deixava claro o quão insatisfeita estava com algo, exatamente por isso; quando ela se permitia sorrir de uma maneira genuína, seus lábios se abriam de um jeito radiante e seus olhos castanhos claros brilhavam juntos.

Estamos rindo de uma foto em que ela está de braços cruzados com um bico enorme num desses churrascos em família, quando escutamos a caminhonete de Janet estacionando e em seguida elas entram. Vicenty se apressa em ajudá-las, mas é severamente contido pela esposa.

— Ai sai! Não preciso de homem para nada!

— Você deveria aprender a aceitar uma gentileza e parar de ser tão orgulhosa! — Vicenty rebate e os dois seguem para a cozinha discutindo.

Gwen segura um risinho e revira os olhos. Me aproximo dela e a beijo suavemente.

— Como foi lá?

Ela parece pensar em alguma coisa e depois responde:

— Tenho que confessar que minha mãe me surpreendeu, e você? — agarra-se ao meu pescoço. — Sobreviveu ao meu pai?

— Não seja tão implicante! Seu pai é ótimo, sabia?

— EU NÃO ACREDITO! — Gwen solta um grito bem próximo do meu ouvido e eu quase fico surda. Ela vê algo perto do meu ombro e sai correndo até a mesa de centro onde os álbuns estão espalhados aleatoriamente. — Eu vou matar o papai se ele tiver ousado te mostrar isso! — ameaça por pouco não me jogando um dos grandes cadernos de capa dura que pegou.

— Então... — coço a nuca desajeitadamente de forma sugestiva.

Minha namorada range os dentes, urra e corre para a cozinha. Ouço a discussão que antes se resumia a uma divergência de casal, ganhar uma proporção gigantesca entre pais e filha. Dou de ombros despreocupadamente. Acho que já estou me acostumando com isso. Então apenas sento no sofá, continuo bebendo minha cerveja tranquilamente e vendo as outras fotos. Me lembro da época em que Geórgia e eu vivíamos nos engalfinhando e sorrio de canto. Espero que um dia eles possam finalmente se entenderem assim como eu e minha irmã. Uma vez eu ouvi uma frase que faz total sentido neste momento: família é o maior exemplo de relacionamento abusivo que podemos ter.

A parte boa da minha cerveja ter acabado é que, a discussão também terminou junto com ela assim que apareci para pedir mais uma. Minha intenção era mesmo ter a atenção deles voltada para mim e assim acabar de vez com este desentendimento fútil. Gwen se limitou a beber vinho, e nós outros nos esbaldamos na cevada. Ingerimos aperitivos enquanto Janet ajuda Gwen a cozinhar e eu e Vicenty nos entretemos  jogando cartas.

Assim que o jantar ficou pronto, para alívio de geral já que todos estamos famintos, e Vicenty e Janet experimentaram as delícias veganas de Gwen, gemeram de satisfação. A ruiva sorriu envaidecida.

— Eu disse que podia preparar um alimento nutritivo e saboroso sem ingredientes de origem animal — reforça orgulhosa do próprio feito.

— Tenho que admitir que é bom mesmo! — Janet elogia levando outro pedaço generoso de torta salgada a boca.

Esperando algum comentário positivo de Vicenty, o fitamos. Ele está parado pensativo.

— Algum problema senhor Vicenty? — indago depois de mastigar a salada.

— Tenho uma dúvida! Se frutas, legumes e verduras são considerados seres vivos, então teoricamente falando,  também estamos os devorando cruelmente?!

Janet e eu também encaramos Gwen que está congelada com o garfo na boca.

— Papai — ela larga o garfo no prato e limpa os lábios educadamente no guardanapo de tecido. — Há uma grande diferença entre matar e nos alimentar de um animal e ter uma dieta vegana. Não há sangue e nem sofrimento.

— Então estamos errados em comer carne? — meu sogro replica porém sem ironia ou revolta, apenas no intuito de se esclarecer.

— Eu nunca disse isso, ok? — Gwen gira seus glóbulos com um ar impaciente. Espero que não comecem outra briga ainda mais na hora da refeição. — O problema sempre esteve em vocês me obrigarem a comer carne só porque vocês gostam. Além de ter compaixão dos pobres animaizinhos, meu organismo rejeita. Eu só quero que vocês me respeitem do jeito que eu sou e prometo que será recíproco. Não tem nada de errado em comer carne desde que seja de forma consciente. Ninguém é mais evoluído só porque não come, certo?

— Certo fo... — Vicenty ia dizer o apelido ofensivo mas Janet lhe dá um beliscão a tempo de impedi-lo de completar a palavra alertando-o.

— Aiiiiiii! — meu sogro reclama e observamos eles terem uma conversa meramente visual. Janet fecha as sobrancelhas e depois de mais alguns gestos enfáticos, meu sogro felizmente entende o motivo de sua advertência agressiva. — Ah, oh, sim! Isso aqui está uma delícia! Depois precisam me ensinar a receita! — desconversa enchendo a boca de torta para não falar mais besteiras.

Toco na mão da minha namorada e trocamos sorrisos cúmplices. As coisas podem não estar saindo do jeito que ela queria ou planejou, mas o importante é que estão caminhando.

Meus sogros se dispõem a arrumar a cozinha uma vez que Gwen e eu estamos exaustas da viagem e vamos para o segundo andar, onde tomamos banho e nos deitamos no quarto que um dia pertenceu à ela. Não deixo de reparar que seus pais fizeram questão de manter tudo igual, desde as prateleiras repletas de livros aos objetos antiquados, ao papel de parede roxo e as estrelas luminosas coladas no teto. É de se surpreender que Gwen ainda não tenha tocado no assunto de ir embora de novo e eu decido me fingir de boba porque desejo conhecer mais da propriedade e principalmente de seus pais. Depois de trocarmos alguns beijos e carinhos, dormimos de imediato graças ao cansaço tanto físico quanto mental...

Acordo com grunhidos, barulhos repetitivos, gemidos espalhafatosos e frases obscenas. Abro os olhos e me deparo com uma Gwen com as bochechas salientes vermelhas, a mão na boca e os olhos arregalados com o abajur aceso.

— Não me diga que isso é, am, seus pais transando? — questiono com a sobrancelha direita arqueada.

Ela me fita mas nada sai de sua boca além de gargalhadas intensas.

“ Ah, vai, sua cachorrona, enfia até o talo! Ah, assim, gostoso, me fode com força!”

Ok, não precisa dizer nada! — bufo pendendo a cabeça no travesseiro. — Bizarro!

— Eu te disse que meus pais são estranhos! — Gwen não para de rir, deitando a cabeça no meu ombro. A cama dos meus sogros se mexe freneticamente no mesmo ritmo do sexo selvagem deles.

— Inversão de papéis? Sério? — debocho e minha namorada ri sem cessar.

— Vamos pegar nossas coisas e ir dormir em outro lugar.

— Onde?

— Confia em mim. Quero te mostrar meu lugar secreto, afinal ninguém vai conseguir dormir nessa casa hoje! — sugere descontraidamente já se levantando.

— Ok futura senhora McCollins! — concordo fazendo o mesmo já que não tenho outra alternativa porque ouvir meus sogros transando é brochante.

O Amor Na Balança ( Sáfico) Where stories live. Discover now