Capítulo 03 - Weenny: Noite de Núpcias.

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Minhas sudras me conduzem para os jardins do palácio de festas, entramos numa tenda especialmente montada e reservada para as mulheres, muito espaçosa e decorada em tons de vermelho, com cortinas de tecido leve e esvoaçante, muitas flores, incensos e bem iluminado pelas diyas.

Sento em um pequeno banco e logo sinto que Rani, Salima e Nimat arrumam meu sari, então minha mãe a Soberana se acomodam ao meu lado e sorriem, vagarosamente as mulheres vão tomando seus lugares, as nobres, as sudras, as madrinhas, as tradutoras e as convidadas que desejam estar conosco nesse momento.

Acredito que não apenas eu, mas todas nós observamos através da cortina transparente e vermelha o que está acontecendo naquele tenda adiante, mais precisamente onde os homens estão se reunindo neste momento.

O Imperador acaba de se acomodar na posição central de uma fileira de almofadas grandes e confortáveis, enquanto os demais membros da nobreza já ocupam os lugares ao seu lado, incluindo o Soberano e meu Pai.

Os soldados da guarda imperial, que agora nos acompanham, montam guarda ao nosso redor e estão sempre à postos.

Badhaee! Badhaee! Badhaee! (Parabéns! Parabéns! Parabéns!) – os líderes e sábios da província dizem ao mesmo tempo, alto o suficiente para que possamos ouvir a essa distância, eles estão sentados à direita do Imperador e os Príncipes à esquerda.

São muitas pessoas que anseiam por cumprimenta-lo, enquanto o silêncio continua a reinar ao meu lado.

A Soberana faz questão de me explicar sobre alguns membros da corte, dando-me alguns conselhos sobre eles, sua importância e posição, ouço com atenção e agradeço por sua inestimável ajuda.

Mahaamahim, badhaee. unakee vaapasee, raajyaabhishek aur vivaah ne hamen jashn manaane aur ooncha karane ka kaaran diya. Hindoo sangeetakaaron ka ek samooh hamaare bhagavaan ke sammaan mein aapaka sammaan karana chaahata hai. (Majestade, parabéns. Seu retorno, coroação e casamento nos deram motivos para celebrar e para exaltar. Um grupo de músicos hindus deseja homenageá-lo em honra ao nosso deus.) – um dos nobres diz.

Os músicos reverenciam o novo governante, se acomodam diante da corte, sobre um tapete branco especialmente preparado para eles, então arrumam seus instrumentos e iniciam a canção de exaltação a deus.

A melodia pacífica dessa canção me leva a uma breve reflexão sobre o que deverá acontecer conosco a partir desse momento. Em breve devemos nos despedir, saindo da celebração do nosso shádi para a nossa noite de núpcias, consumando o nosso casamento, cumprindo o nosso dever e o que nossa posição exige.

Minha mente está perturbada e inquieta, talvez sejam questionamentos injustos, algum tipo de reação diante do rumo inesperado que nossa vida está seguindo... O fato é que me pego pensando nos sonhos comuns de qualquer casal, desejos para se realizar depois de um casamento... Será que teremos lua de mel ou uma breve viagem? Um final de semana em um hotel do Rio de Janeiro, quem sabe? Mesmo que seja uma viagem curta ou apenas um momento para conversar a sós.

Verei meus pais novamente? Veremos nossos amigos mais uma vez? Poderemos voltar ao Brasil, quando?

Onde vamos morar? Teremos que permanecer na Índia, longe da nossa família?

Lembro que, segundo as tradições hindus, meu passado deve ser esquecido e uma nova vida é construída a partir do shádi. Agora faço parte da família do meu marido, a família imperial.

Levanto e caminho até um aposento anexo da tenda, sento em uma chaise, minhas sudras me acompanham e sentam ao meu redor, choram compulsivamente porque sabem que esses são nossos últimos momentos juntas, confesso que sentirei falta da companhia e do carinho delas, mas não sei quando nos veremos novamente.

Escolhas Do Coração - A AscensãoWhere stories live. Discover now