No dia em que tudo aconteceu

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Eu tinha dez anos na época (hoje com dezoito). Estava preparando meu café da manhã como de costume e o telefone tocou. Meus pais já haviam ido trabalhar então concluí que poderia ser alguma colega minha de classe com dúvida em algum trabalho.

— Alô? Falei com uma voz serena; ouvi alguns chiados, o que fez afastar-me do telefone.

— Eu poderia falar com Claudia ou Amanda? Uma voz nervosa gritava do outro lado do telefone.

— Quem gostaria? Perguntei meio assustada.

— Meu nome é Ana, sou enfermeira do hospital São Paulo. Um homem que reside neste endereço acabou de dar entrada na UTI de nossa unidade, eu precisava falar com algum conhecido.

— Desculpe a pergunta, mas como é o nome desse senhor? Disse com a voz tremula temendo sua resposta.

— Carlos Miller. Ela disse; lágrimas rolaram por meu rosto, eu sabia que era meu pai.

— O que aconteceu com meu pai moça? Eu sou a Amanda. Disse desesperada e a ligação caiu, o que me deixou mais desesperada. Precisava avisar a minha mãe.

***

Ao chegarmos no hospital, minha mãe (que é branquinha com cabelos louros), já estava toda inchada e vermelha como sempre ficava quando chorava, me abraçou forte.

— Eu vou cuidar bem de você, eu te prometo minha filha. Cai no choro ao imaginar o que poderia ter acontecido com meu pai.

Um tempo depois, descobrimos que ele havia levado um tiro na cabeça numa tentativa de assalto, e os médicos constataram morte cerebral.

Em conversa com mamãe, os médicos perguntaram se os órgãos de papai poderiam ser doados. Ela assinou muitos documentos e após a retirada dos órgãos o corpo do papai foi para o IML. Mamãe havia me pedido que ligasse para alguns parentes.

Durante a noite ocorreu o velório, muita gente chorando, e eu tentava apenas acalmar minha mãe. Não havia mais lágrimas para se cair, eu tentava apenas ser forte em um momento difícil.

O PadrastoWhere stories live. Discover now