'Cinquenta e Seis'

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-Ta tudo bem? –Ele perguntou ao me encarar, com certo tom de preocupação em sua voz.

-Agora está. –Respondi soltando um suspiro.

O garoto que estava sem camisa apenas com uma calça de moletom, já que esse era seu pijama, desde que eu o conheço ele sempre usa a mesma coisa como pijama, apenas uma calça de moletom.

Noah sentou-se do meu lado, não dissemos nada por um tempo, era possível ouvir apenas a respiração lenta um do outro.

-O que você esta fazendo aqui essas horas. –Cortei o silêncio.

-Não consegui dormir, vim andar e espairecer um pouco. –Respondeu enquanto brincava com a areia no meio dos dedos.

-Então somos dois.

-Outro pesadelo? –perguntou e eu fiz sim com a cabeça. –Por que não pediu ajuda ao Dustin?

-Ele estava dormindo, não quis incomodar.

-Você não vai incomodá-lo Cali, essas horas você precisa de ajuda. –Ele suspirou. – Eu vi como você acordou assustada aquele dia. Você me assustou.

-Assustei? –Franzi as sobrancelhas.

-Claro, ouvi você gritar, achei que tivesse se machucado. –Disse enquanto mordia seu lábio inferior. Ele parecia... Nervoso. –Fui correndo até seu quarto com meu coração a mil. Imagina se algo tivesse lhe acontecido, nunca iria me perdoar.

Soltei um riso nasalado e observei o nascer do sol, que de pouco em pouco já refletia sua luz na imensidão do oceano.

-Que foi?

-Você me disse a mesma coisa quando a gente foi naquela balada e eu passei mal. - Falei. –O dia que você cuidou de mim.

-É, mas naquela época era diferente de hoje.

-Como assim? –Franzi a testa sem entender o que o garoto falava.

-Naquela época eu não sabia o quanto era possível amar você. –Ele disse com seus olhos fixos em algum lugar do horizonte.

-Noah... –Fui interrompida.

-Não Cali, me deixa falar, por favor. - Falou e então fiquei quieta esperando o que ele tinha para me dizer. –Eu lembro que uma vez quando éramos crianças, em um dos acampamentos e a gente estava discutindo pra variar um pouco.

Soltei uma risada nasalada, 90% do que eu lembro sobre eu e Noah nos acampamentos eram nossas discussões idiotas e sem sentidos.

-Eu disse algo que te irritou muito e você virou pra mim e falou "Não importa o quanto você vai encher meu saco, você é insuportável Noah Urrea e eu nunca vou gostar de você'. - Ele disse tentando imitar minha voz.

-Eu não falo assim. –Disse rindo.

-E desde aquele dia eu prometi pra mim mesmo que cada vez que você respirasse, eu iria te irritar com algo mais idiota possível, mas toda vez que eu te irritava ao invés de você sair chorando e contar pra algum monitor o quão idiota eu era com você igual minhas irmãs faziam. –Ele disse. –Você fazia o contrário, você ia atrás de mim até eu pedir desculpas ou coisas do tipo e isso me mostrou como você é diferente. Diferente de tudo e acho que foi ai que comecei a gostar de você.

Não era surpresa pra mim que quando éramos pequenos ele gostava de mim, já havia me falado isso.

-Depois de alguns anos escondendo de todo mundo minha queda secreta por você. Menos Sabina, ela não sei como sempre soube que eu gostava de você, essa garota é o FBI. –Ele riu. –Quando se tornamos adolescentes e paramos de nos ver, minha paixão secreta foi diminuindo aos poucos e então conheci Maddison que jurei pra mim mesmo que era o primeiro amor da minha vida.

Na época que Noah começou a namorar com Maddison, Sabina comentou comigo, mas eu nem liguei, não era do meu interesse as coisas que Noah fazia ou deixava de fazer aqueles tempos.

-Depois que terminei com Maddison, e você foi pro castelo passar as festas dos 100 anos de celebração do tratado de paz, aquele sentimento que eu tinha por você foi aos poucos ressurgindo sem que eu pudesse controlar e aquilo foi insano. –Comentou. –Foi insano a primeira vez que você me beijou, e então as coisas começaram a se desenvolver de uma forma... Quando eu fiz aquele discurso te pedindo em namoro na frente de todos, todas as palavras foram ditas com a mais pura verdade, com os sentimentos que eu havia guardado pra mim mesmo por anos, eu finalmente tive coragem de dizer o que eu sentia por você.

-Sim, disse. –Concordei. –Mas dias depois acabou com tudo que tínhamos, para viver seu primeiro amor de novo. Mas hoje você está aqui de novo se declarando pra mim? Não entendo Noah.

-Esse é o problema eu tinha certeza que Maddison era o meu primeiro amor, mas depois que você foi embora do castelo eu percebi que o meu primeiro amor nunca foi ela. Meu primeiro amor foi à garotinha que ficava vermelha de raiva quando eu pegava suas coisas, ou me batia dizendo que roubava nos jogos de tabuleiros. –Não estava entendendo onde ele queria chegar com isso. –Meu primeiro amor é a garota mais mau humorada quando acorda cedo e é a garota mais linda que já vi na minha vida, meu primeiro amor é você Caliope e sempre foi, o problema é que eu percebi isso tarde demais.

-Você diz isso agora? Sério? –O encarei. –Depois que me vê em uma vida estável com alguém que me ama, você diz só agora?

Minha cabeça latejava de tanta informação, e meu coração estava mais confuso que tudo, sentimentos que eu não sabia que ainda tinha vagavam por mim de uma maneira inexplicável.

-Eu tentei te dizer antes. Um mês depois que você foi embora, terminei com Maddison percebendo o tamanho da minha burrada de te deixar ir. Ia ir até o seu castelo um dia, rezando para que você me aceitasse de volta, mas houve o acidente de seu pai. –Ele parecia um pouco desconfortável. –E então resolvi esperar você conseguir superar tudo aquilo, não tinha como eu te dizer algo daqueles com tudo aquilo acontecendo.

Ouvia as palavras que saiam da sua boca atentamente.

- Esperei um ano e pouco quando decidi escrever uma carta pra você, falei nessa carta tudo que eu estou dizendo agora, a reli tantas vezes que sei até de cor. –Riu. –Quando tomei coragem para enviar a carta eu ouvi você e Sabina conversando por vídeo chamada e você disse que estava namorando. Namorado o Dustin. E então desisti de mandar. Você parecia feliz e não queria e não podia acabar com isso.

-Então por que está me dizendo isso agora?

-Por que eu não consigo mais me segurar perto de você. Eu não consigo suportar a ideia de você estar com alguém e essa pessoa não sou eu, Não consigo ficar perto de você sem querer te beijar, sem te abraçar, eu não consigo não te amar e isso ta me destruindo.

-Você não tinha o direito de fazer isso Noah. –As lágrimas já trilhavam as minhas bochechas. –Você não tinha o direito de acabar tudo, me fazendo acreditar que não me amava e então eu me forcei cada segundo dos dias a não pensar em você, por que me sentia idiota pelo fato de sofrer por você enquanto você não ligava pra mim.

-Mas eu sempre liguei pra você, foi isso que eu acabei de dizer.

-Mas, agora eu vou casar. Você entende isso, depois de anos você aparece e eu achei que ia ser tudo bem entre a gente. Mas toda vez que você me olha meu corpo se arrepia, meu coração acelera de uma maneira estupidamente rápido e em meu estomago parece que tem borboletas.

-Por que você está brava comigo?

-Por que você me faz sentir coisas que eu não sei se faz bem sentir. Você me faz me sentir culpada por eu sentir coisas por você tendo um noivo me esperando no quarto. Você me deixa totalmente sem controle dos meus sentimentos. –Desabafei.

Antes que ele respondesse algo, sai dali o mais rápido que pude não podia continuar com aquilo. Não sabia o que fazer e aquilo me angustia.

The Real Life// Now UnitedWhere stories live. Discover now