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Melinda...

A minha volta, tudo girava. Eu ainda escutava o barulho das diversas buzinas que me alertaram durante o trajeto ao hospital. O mundo parecia menor e mais escuro. Eu não sentia cheiro de nada e, na minha boca, um gosto de ferro se pois e aos poucos o pude sentir se transformar em sangue. Meu corpo ardia e eu relutava contra a fraqueza que se instalou no mesmo. Eu precisava chegar ao quarto do meu pai, mas eu nem sabia qual era. Passei correndo pelas enfermeiras que tentaram me impedir, sem ao menos pergunta onde ele estava.

Mas logo vi minha mãe e o Peter sentados em uma cadeira no corredor. Corri até eles e então notei a presença de Molly.

— Não deveriam ter trazido ela — disparei em meio a lágrimas.

— Eu já sou grande, Melinda! E ele também é o meu pai! — falou irritada.

Nunca a ouvi falar daquele jeito. Na verdade, pouquíssimas vezes a ouvi falar. Molly sempre foi quieta, na dela. Uma criança fechada. E eu nunca pensei que isso poderia ser algum problema comigo.

— Onde você estava quando o papai enfartou pela primeira vez, hein? — ela soltava as palavras com raiva. — Em Londres com o seu namoradinho famoso que agora nem está mais com você!

O que Molly disse me doeu, mas me intrigou ainda mais.

— Papai já infartou antes?

Minha mãe abaixou a cabeça e suspirou.

— Uma vez — começou. — Foi quando você e Alex foram contar que estavam noivos para os pais dele.

Seu olhar levantou para Molly e pude ver a reprovação em seus olhos.

— Íamos te contar, mas então descobrirmos da sua gravidez e, nada mais pareceu importar. — ela começou a chorar. — Eu não estava preparada para que acontecesse mais uma vez. 

Peter, que estava ao lado dela, a envolveu em um abraço. Fiz o mesmo quando me aproximei. Molly, comovida, chegou mais perto e coloco a mão no meu ombro.

— Senhora Clarkson? — o doutor, que acabara de aparecer no corredor, perguntou.

— Eu — ela respondeu e se levantou.

Eu quis ir junto, mas o médico me barrou. Disse que só podia uma pessoa por vez.

Quando me sentei na cadeira em que minha mãe estava sentada, senti uma forte dor na barriga. Apertei a mão de Peter e ele percebeu que eu não estava bem. Fiquei imaginando se Kate estaria, já que ela estava do mesmo jeito que eu. Ela teve que ficar na recepção. Todo esse susto pode ter afetado os bebês.

Quando senti a dor piorar, gritei para que Peter chamasse um médico e assim ele fez.

Antes que eu podesse ver ou dizer mais alguma coisa, tudo escureceu e eu apaguei.

(...)

Acordo escutando os barulhos de diversas máquinas apitando. Demoro a abrir os olhos e quando os abro, vejo a sala de hospital onde eu estou. Alguém segura a minha mão, mas eu não consigo virar meu olhar para ver quem é. Estou ligada a vários fios e não consigo me mexer.

Quando penso em voltar a dormir, sinto o perfume da pessoa ao meu lado.

Não pode ser, penso.

— Alex... ?! — minha voz era tão baixa quanto um sussurro.

Ao falar o nome dele, senti a pessoa apertar a minha mão.

Fiz o máximo de esforço que pude e me virei.

Era ele mesmo. Ele estava chorando e seus cabelos estavam levemente bagunçados. Vestia uma calça jeans escura e uma jaqueta de couro preta por cima da sua camiseta branca. Ele estava igual a um menino do colegial. Sorri ao vê-lo.

baby I'm yoursWhere stories live. Discover now