Capítulo Três

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Daniel Vamps:

Eu estava deitado na cama de outra pessoa, absorvendo a sensação de conforto e tentando congelar o tempo como se fosse uma respiração retida em meu peito. Era como se eu pudesse impedir o relógio de avançar, evitar que a garota ao meu lado acordasse, e manter viva a memória da nossa noite juntos. Observei seu pescoço exposto, onde ainda havia marcas das minhas pressas.

Ela ainda estava profundamente adormecida, o que me permitiu admirar a lenta ascensão e queda de seu peito enquanto respirava. Seus cachos negros formavam um emaranhado sedutor sobre o travesseiro. À medida que ela começou a se mexer e se esticar na cama, pensei em como era bela, mesmo adormecida.

Decidi deixá-la repousar e, com cuidado para não perturbá-la, deslizei da cama. Caminhei descalço até a sala de estar, onde um espelho no corredor me capturou, refletindo meu próprio rosto que parecia perfeitamente esculpido em todos os aspectos. Com um movimento rápido, vesti minhas roupas: uma calça jeans e uma jaqueta marrom.

Retornei ao quarto e encontrei-a acordada, sorrindo para mim. Aproximei-me lentamente, fazendo com que seus olhos se encontrassem com os meus.

— Quando eu sair do seu campo de visão, esquecerá tudo o que aconteceu e quem realmente sou. — Falei, observando-a entrar em um estado de transe. — Nunca nos conhecemos, e não houve nada entre nós.

Virei-me e deixei o apartamento, descendo as escadas. Minha missão estava concluída, e meu encontro de uma noite também. Sabia que, em questão de segundos, as memórias daquela garota sobre mim desapareceriam para sempre. Era assim que eu mantinha minha identidade oculta, vivendo nas sombras do mundo noturno.

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Eu adoro esse clima que se encontra no ponto de costura entre o inverno e a primavera, onde tudo oscila descontroladamente entre rajadas de vento e o despertar verde da natureza. É impossível prever o que encontrarei lá fora, com pessoas andando de um lado para o outro, absortas em conversas em seus celulares ou interações com aqueles ao seu redor.

Por cinquenta anos, temia a passagem do tempo, um marcador inescapável que significava que eu estava envelhecendo, tornando-me mais velho como qualquer outra pessoa. Mas, com o passar dos séculos, percebi o quão tola e inútil era essa preocupação, muito menos importante do que a noite em que abracei a imortalidade. Mesmo sendo um híbrido, tendo ativado meu lado vampiro há muito tempo, ainda aprecio a habilidade de me disfarçar como um humano comum.

Senti meu celular vibrar no bolso da calça e o peguei, encontrando o número da minha irmã na tela.

— Onde diabos você está? — Ela esbravejou sua pergunta. — Geovane e eu estamos indo para o hospital.

Apesar de saber que o sangue de vampiro pode curar muitos ferimentos, não gostava da ideia de que meus irmãos estavam envolvidos com hospitais nos últimos tempos. Claro, eles mudavam de identidade com frequência, mas nosso pai sempre soube o que estavam fazendo, mesmo que estivesse esperando que tudo explodisse na cara deles.

— Não vou, acho que vou para casa. — Falei, ouvindo Geovane resmungar do outro lado da linha. — Também te amo, irmão.

— Então, manda um beijo para o papai. — Lilly disse antes de desligar na minha cara.

Revirei os olhos e coloquei o celular de volta no bolso, acelerando o passo para chegar em casa o mais rápido possível.

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Em questão de segundos, a imensa mansão surgiu diante de mim, o portão se abrindo graciosamente para me receber. A propriedade se estendia pela vastidão de uma terra verdejante, adornada com trepadeiras de rosas e heras que abraçavam suas estruturas, com pátios e varandas que se projetavam elegantemente, e escadarias de alabastro que se estendiam pelas laterais.

A propriedade era circundada por uma densa floresta, cujo limite distante mal era visível. Mesmo o jardim pelos quais meus pés passavam dava um toque de tranquilidade ao ambiente. À medida que eu avançava, o suave aroma das flores, incluindo íris ametista, amarilidáceas brancas e narcisos amarelo-manteiga, flutuava pelo ar, invadindo minhas narinas.

Finalmente, cheguei à entrada da mansão e subi os degraus da escada. A porta se abriu, revelando meu pai, que sorriu calorosamente para mim. Atrás dele, Ricky, meu irmão mais novo, passou como um raio, como se estivesse fugindo de alguma coisa.

No entanto, chamá-lo de "mais novo" era uma afirmação complicada, já que todos nós tínhamos a mesma idade. Meu pai lançou um olhar em minha direção, seus olhos espectrais se movendo lentamente, revelando sua presença espiritual. Desde a morte de minha mãe, ele se tornara um espírito ligado à casa, incapaz de se afastar de seus domínios. Seu corpo jazia no sótão da mansão, uma precaução para evitar que a maldição da transformação o atingisse, transformando-o em um assassino.

Dentro dessa vasta residência, morávamos eu, Lilly, Geovane, Tedy e Ricky, todos nós híbridos. Tínhamos um tio, Aart, que era um feiticeiro adotado por meu avô séculos atrás.

— Onde você estava na noite passada? — meu pai perguntou, erguendo uma sobrancelha com curiosidade.

— Não se preocupe, pai, sei cuidar de mim mesmo. — Falei, estalando a língua, o que fez com que ele revirasse os olhos. — Falando nisso, onde está Tedy?

— Como sempre, ele está preso na biblioteca da cidade, conversando com o rapaz que ele afirma ser seu companheiro. — Meu pai disse, um sorriso suave nos lábios. — Seus irmãos já encontraram seus companheiros de sangue. Por que você não faz o mesmo? Mais cedo ou mais tarde, a maldição afetará você, transformando-o em um monstro assassino.

Olhei para ele com uma expressão desafiadora. Desde que eu me entendia por gente, todos na casa temiam que a maldição nos transformasse em monstros sanguinários, como acontecera séculos atrás. No entanto, eu não acreditava na necessidade de me ligar a alguém por sangue, privando-me da liberdade e também da liberdade da outra pessoa, que teria que alterar sua vida drasticamente.

— Pai, não quero discutir isso agora. Acabei de chegar em casa. — Falei, estalando a língua, antes de virar e subir as escadas em direção ao meu quarto, ouvindo um suspiro dramático escapar dos lábios de meu pai.

Abri a porta do meu quarto e, ao fazê-lo, vi todas as coisas que amava neste mundo à minha frente. A paixão por esses hobbies me ocupara durante muito tempo antes de eu considerá-los uma tolice, já que a imortalidade me garantia o tempo necessário para dominá-los. Mesmo que eu gostasse de todos esses interesses, não poderia fazer sucesso em nenhum deles, pois as perguntas sobre minha aparência eternamente jovem seriam inevitáveis.

Nessa cidade pequena, onde todos ficavam chocados com a semelhança dos membros da família Vamps com seus ancestrais, ser reconhecido era exaustivo.

Abri uma gaveta na última parte da minha cômoda e encontrei uma pequena caixa marrom. Dentro dela, guardei todos os objetos deixados por ex-amantes, embora nunca tenha consumado a necessidade de tomar seu sangue. Em vez disso, busquei apenas amizade e, por vezes, me apaixonei por essas almas efêmeras, observando-as envelhecer e guardando meu segredo. Nenhum deles quis desistir de sua mortalidade para estar ao meu lado, com medo de que eu pudesse ter algum arrependimento em relação à minha escolha de companheiro.

Fechei a caixa e a coloquei de volta em seu lugar, sentindo a dor da lembrança se intensificar.

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Até a próxima 😘

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