Capítulo Cinco

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Marshall Aldrin:

Quando finalmente encontrei Megan e Juliano, não hesitei em pedir para irmos embora daquele clube. Ambos notaram o meu desespero para sair dali, mas não fizeram perguntas. Durante todo o trajeto de volta para casa, mantive a mão pressionada contra o meu pescoço, lembrando-me da ameaça que Daniel, o vampiro, representara.

A manhã seguinte me acordou abruptamente com o toque insistente do alarme. Tendo me revirado a noite toda, minha mente estava vazia e exausta. Com um suspiro profundo, me levantei e segui para o banheiro. Fiquei debaixo do chuveiro por um longo tempo, tentando lavar a sensação dos dentes e dos lábios de Daniel em meu pescoço. Mesmo após o banho, ainda restava um grande hematoma onde ele me mordera e as marcas de suas presas. Com cuidado, apliquei maquiagem para disfarçar a evidência.

Desde a infância, estava acostumado a enxergar criaturas sobrenaturais, mas elas raramente interagiam comigo. Nunca contei à minha mãe sobre essas experiências, achando que era mais uma preocupação desnecessária para ela. Embora já tivesse me enturmado com vampiros no passado, eles nunca me atacaram ou tentaram morder o meu pescoço. Agora, minha maior preocupação era o que aconteceria se Daniel perdesse o controle e decidisse acabar com a minha vida.

A única diferença notável era que, ao tentar me encantar para que eu esquecesse o ocorrido, seu poder não funcionou em mim.

— E se ele for apenas uma ilusão da minha mente, um devaneio disfarçado de realidade? — murmurei para mim mesmo. Entretanto, logo desisti desse pensamento e optei por tomar café da manhã antes de seguir para um passeio no parque próximo de casa. Eu tentava ao máximo ignorar o que acontecera na noite anterior, até mesmo as mensagens insistentes de Juliano sobre o ocorrido. Não podia contar a ele, pois temia que pensasse que eu era uma pessoa completamente louca, assim como acontecia quando eu via seres sobrenaturais em minhas antigas escolas. Com o tempo, aprendi que era melhor ficar calado sobre essas experiências peculiares.

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Tive que limpar as palmas das mãos suadas na minha calça enquanto saía para o lado de fora do prédio e me sentava em um banco no parque. Sabia que Juliano era fofoqueiro e às vezes excessivamente protetor. Não demoraria muito para ele aparecer na minha porta, especialmente porque ainda não tinha respondido às suas mensagens.

Quando aceitei esse emprego, pensei que teria um pouco mais de liberdade e poderia escapar do mundo sobrenatural que dominava minha antiga cidade. Contudo, após apenas cinco dias e meio na nova cidade, já tinha encontrado um vampiro sedento por meu sangue. Eu observava os detalhes do parque enquanto meu celular vibrava incessantemente.

A meditação era a única maneira de escapar do mundo sobrenatural que me cercava. Ela me ajudava a concentrar minhas emoções e a lidar com o estresse constante que vinha com o conhecimento de que qualquer ser sobrenatural poderia representar uma ameaça.

— O que você está fazendo? — uma voz me surpreendeu, e virei para ver Juliano ao meu lado. — Sabia que é rude não responder quando alguém pergunta se está bem.

Abri os olhos lentamente e comecei a mexer os braços e pernas, como parte do processo de voltar ao estado de alerta. Examinei meu corpo, minha respiração e minha mente, até me sentir completamente relaxado.

— Não sou obrigado a responder quando sei que o assunto não é muito importante — respondi, observando Juliano revirar os olhos e cruzar os braços. — Mas esqueça isso, só estava entediado no clube e quis ir embora. Lembro-me de que você e a Megan também não estavam curtindo aquele lugar.

— Claro, depois de um tempo, não havia mais ninguém para reclamar — ele respondeu, estalando a língua e balançando a cabeça. — Mas não mude de assunto. O que aconteceu no clube? Daniel passou dos limites com você?

Juliano me examinou de cima a baixo, procurando por hematomas, e seus olhos demoraram alguns segundos no meu pescoço.

— Você está usando maquiagem no pescoço? — ele perguntou lentamente, aproximando-se enquanto eu me levantava rapidamente do banco.

— Por que não posso usar maquiagem? — devolvi a pergunta, vendo-o ficar sem palavras por um momento. — Agora, se me der licença, vou voltar para o meu apartamento. Se não tem nada importante para conversar, desejo um bom dia a você.

Virei-me e senti os olhos dele em minhas costas enquanto caminhava. Sabia que o magoara com minha grosseria, mas não podia arrastá-lo para o caos que era minha vida no momento. Ele era um bom amigo, mas não merecia ser envolvido em meus problemas sobrenaturais.

Ao passar pelo porteiro, que acenou para mim, voltei para o meu quarto e me joguei na cama, abrindo o computador. A única coisa que realmente me incomodava era o fato de a tentativa de hipnose de Daniel não ter funcionado em mim. Isso me deixou surpreso, assim como ele. Comecei a me questionar sobre o que poderia ter causado esse fato.

Peguei o celular e disquei um número que conhecia desde a infância, logo após os números de minha mãe e do telefone de casa.

— Ora, ora, se não é Marshall Aldrin me ligando depois de tanto tempo! — Maxuel atendeu, um vampiro híbrido de anjo que conheci depois de quase ser atacado por uma criatura do submundo. — Sorte a minha que você me pegou em casa. Estou prestes a sair para ajudar alguns conhecidos.

— Desculpe o incômodo, mas poderia me explicar algo sobre a hipnose de vampiros? — pedi, e ouvi Maxuel soltar um suspiro.

— Ela só não funciona em outros seres do submundo — Maxuel explicou do outro lado. — Isso inclui até mesmo aqueles que não sabem sua verdadeira origem sobrenatural.

Fiquei chocado com essa revelação e ele permaneceu em silêncio por alguns segundos.

— Está tudo bem aí? Sinto que acabei de fazer uma grande revelação sobre você mesmo — Maxuel comentou, estalando a língua. — Se precisar de ajuda com algo, pode me contar e irei até você.

— Não, está tudo bem — respondi, cortando-o. —

Mas você poderia me dizer como manter vampiros afastados?

Ele fez outra pausa antes de responder.

— Use verbena — Maxuel recomendou. — A verbena é uma erva poderosa e é a fraqueza mais conhecida dos vampiros. Se um vampiro entrar em contato físico com a verbena de alguma forma, ele será queimado. Se um vampiro ingerir verbena, sua garganta e trato digestivo ficarão queimados, deixando-o fraco e febril. Alguma outra pergunta? Posso enviar um pouco do meu estoque para você, se quiser.

— Ficaria grato — respondi e pensei por alguns segundos. — Por que você tem um estoque de verbena?

— Bem, eu sou um mestiço de vampiro e anjo, então a verbena não me afeta. Minha magia angelical me protege disso — ele explicou. — Tenho um estoque de várias coisas para me manter prevenido.

Concordei com ele, embora soubesse que ele não podia me ver, agradeci e passei meu endereço. Com isso, meu final de semana se resumiu a assistir televisão e, ocasionalmente, conversar com Juliano e Megan no grupo que eles tinham criado. Falei com minha mãe, mas não mencionei os eventos recentes ou o fato de eu ser um mestiço de uma criatura sobrenatural.

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Na segunda-feira de manhã, como mágica, a caixa contendo a verbena chegou à minha porta. Não demorei a usar aquela proteção. Depois de um rápido café da manhã, saí para o trabalho, determinado a enfrentar qualquer ameaça que Daniel pudesse representar.

No escritório, as horas passaram em um borrão de reuniões e tarefas. Mantive um olho atento para qualquer sinal de Daniel ou de outros seres sobrenaturais, mas o dia transcorreu sem incidentes. Era um alívio, mas também aumentava minha paranoia.

No entanto, mesmo com a verbena em meu poder, eu não podia deixar de me sentir inquieto. A lembrança dos lábios de Daniel em meu pescoço e sua tentativa de hipnose ainda assombravam meus pensamentos. Aquela sensação de vulnerabilidade nunca me deixaria, mesmo que agora estivesse armado com um meio de defesa.

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Até a próxima 😘

União VampirescaWhere stories live. Discover now