CAPÍTULO VINTE

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Debbie Miller

É estranho estar de volta, ainda mais quando nunca passou pela minha cabeça voltar. Não estava nos meus planos pisar na terra fofa que enche os sapatos de barro outra vez. Muito menos encontrar Ryder e sua família. Ahhh, Ryder.

Ajeito as costas no encosto do banco do carro enquanto proveito a viagem que leva até a fazenda. Ryder está dirigindo e Liz no banco de trás. Foi uma viagem longa, muito longa... Provavelmente a maior que eu já tenha feito. Preciso de uma boa noite de sono, um banho relaxante e um abraço apertado da Scarlet.

Complicado falar sobre ele sem voltar no tempo e relembrar os melhores anos que já passei por toda a minha vida. Scarlet sempre foi minha melhor amiga, isso é um fato inquestionável, porém, na infância, quando era deixada de "lado" para que ela saísse com Dominick a cavalo, era Ryder quem ficava comigo. Ele também era excluído dos planos com o irmão quando o assunto era Scarlet.

Não a julgo por isso, jamais poderia julgar minha melhor amiga. Éramos tão imaturos para conseguir separar as coisas uma das outras, às vezes somos ainda. Mas era só um bando de criança que não entendia nada com nada. Não tenho um pingo de ressentimento por Scarlet, e nem poderia, sei o que ela passou durante todos esses anos sem ele. Se eu pudesse voltar no tempo, sabendo que se separariam, iria obrigá-los a passarem mais tempo juntos.

Scarlet é a pessoa mais pura que já conheci e é um baita honra poder chamá-la de amiga e, de quebra, dividir um apartamento com ela e Liz. Torço pela felicidade das duas, obviamente, mas é com Scarlet que me preocupo mais, assim como Liz e qualquer outra pessoa que conhece as nossas histórias.

Fiquei receosa com a notícia de que ela voltaria para fazenda para fazer as fotos de Dominick. Liz até brigou comigo quando pensou que estava sendo negativa com uma possível segunda chance, dada pelo destino e enviada pelos anjos do senhor. Não sou muito adepta a essas crenças ilusórias que mais atrapalham do que ajudam, contudo, depois de pensar, vi que Liz pode ter razão.

Dominick e Scarlet protagonizaram uma das histórias mais lindas que já presenciei. Não é cheia de patifaria como nos filmes, nem dramática demais como nos livros que Liz costuma nos emprestar. É na medida certa e, em hipótese alguma, poderia manter a negatividade para aqueles que se apaixonaram ainda quando crianças.

Minha mãe sempre achou um barato a ideia de Scar e Dominick. Meu pai achava errado, até ver que não se tratava de "perder" a inocência. Não gosto de deixar minha opinião influenciar as pessoas que me rodeiam, porém, para mim, Scarlet e Nick nunca namoraram, pelo menos não como deveriam.

Mas também não sei dizer o que tiveram.

Foi mais que um namoro, mas não tão "mais" assim pela pouca idade que os dois tinham. Pensei que Scarlet o esqueceria quando tudo na sua vida virou de cabeça para baixo. Foi horrível assistir de camarote a família Smith afundar. A garota da fazenda, minha melhor amiga, tinha tudo do bom e do melhor e cresceu rodeada das coisas que faziam as outras crianças implorarem para visitar a sua casa em um final de domingo.

Os melhores brinquedos.

Uma casinha de boneca de tamanho real.

Vestidos incríveis e rodados que eram, na maioria das vezes, costurados por sua "futura" sogra.

Confesso que antes de nos tornarmos grandes amigas, senti inveja de tudo o que aquela garotinha de tranças tinha. Eu não a conhecia bem, tão pouco entendia o que todos viam nela. Então, depois de alguns dias, Scarlet bateu na porta da minha casa e me chamou para brincar. Me apresentou seus amigos sem sentir ciúmes deles, me mostrou a casinha de boneca e nunca usava o singular para se referir as coisas que tinha.

EMPIRE MYSTERYOù les histoires vivent. Découvrez maintenant