CAPÍTULO SETE

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Dominick Hills

Salto do cavalo, deixando-o pastar sozinho pelo gramado plano próximo ao riacho e vou para debaixo de uma árvore para me abrigar do sol quente e escaldante. A tempestade de ontem à noite parece ter sido só fruto da imaginação. Noto alguns trabalhadores descansando do outro lado, cumprimento-os com um acenar singelo e ignoro o buchicho entre eles.

Sou respeitado por todos os que trabalham aqui, sou justo com todos e não aceito menos que isso. Para mim, todos são iguais e plenamente competentes para as funções que foram submetidos.

Encosto no tronco da grande árvore e estico as pernas para frente, deixo o chapéu de lado e arranco a chave de casa do bolso da calça. Talvez um pouco de silêncio ajude...

Coloco o celular ao lado do chapéu e tiro o aparelho da vibração. Sei que Hilary ligará dentro de alguns minutos para contar como foi a tal reunião com Scarlet, mas não sei se quero atender.

Não tenho certeza se quero ouvir o nome dela.

Ou como suas fotos são boas.

Não quero escutar nada a seu respeito.

Fico feliz em saber que sua vida progrediu e que hoje as coisas estão diferentes para ela. Que o sonho de virar uma grande fotógrafa deu certo e que os estudos no exterior a ajudaram em tanto. Não quero saber absolutamente nada disso.

Porra.

Nada disso me interessa.

Não quero saber.

Eu torci, feito um idiota sem noção, por cada sonho dela. Durante trinta e dois anos, mais da metade dediquei a ela. A saudade que me consumiu, a vontade que ficou impregnada nas minhas peças de roupas e aos desejos de vê-la voltar.

Olho para cima e contemplo o azul do céu e me pergunto, mesmo com reprimenda, se ela ainda se lembra do meu nome.

Ou se ainda me chamaria de Dom.

E se o meu coração ainda iria aceitar o apelido de antigamente.

Alcanço um cigarro do maço e acendo. Fazia muito tempo desde o último cigarro fumado. Eu prometi parar quando vi a preocupação dos meus pais com a minha saúde precária. Eu estava ficando viciado em nicotina. Perambulei por dois anos e meio consumindo maços e maços por dia.

Contudo, mesmo não sentindo falta da fumaça, do gosto e da quentura próxima aos lábios, sinto falta do alívio que relaxava o corpo quando acabava com um ou dois maços ao final do dia. Observo a chama lentamente avançar pela extensão do canudo vicioso.

Quando sai da cama, hoje pela manhã, soube que seria um dia daqueles. Não preguei os olhos durante à noite e estou com a cabeça doendo de tanto pensar. Olho a agonia parada e silenciosa do riacho calmo à minha frente e lanço sobre ele uma pedra desprendida do pequeno rochedo.

As águas se movimentam, formando vários círculos de correnteza até quebrarem na borda rasa. Os trabalhadores me observam com desconfiança. Porra, já havia me esquecido deles.

Fito o cigarro entre os dedos e reprimo, pela segunda vez, a vontade de colocá-lo na boca e tragar uma ou duas vezes. O fogo já consumiu metade do conteúdo quando decido jogar o canudo na grama e apagar com algumas pisadas.

Vejo o nome de Hilary brilhar no visor do celular e conto até três antes de atender.

— Oi, gatinho! — Escuto Hilary rir do outro lado da linha.

— Oi, Hi.

— Uau, quanta empolgação, querido! — Hilary retruca. — Estou até emocionada com a sua maneira de me tratar.

EMPIRE MYSTERYWhere stories live. Discover now