CAPÍTULO QUATRO

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Dominick Hills

Abro a primeira carta que encontro, ainda guardada dentro do envelope cor-de-rosa que Scarlet gostava de colecionar. Pelo ano descrito ao final, Sky havia acabado de completar quinze anos. Vinte e cinco de agosto de dois mil e sete.

Pela data, também sei que só tínhamos mais alguns dias antes dela desaparecer.

"Para: Dominick.

Ontem foi um dos dias mais importantes da minha vida, Dom. Eu nunca tinha ido ao cinema, ainda nem acredito que você me levou para assistir aquele filme sangrento, mesmo depois de ter insistindo tanto para assistirmos o de romance. Você me paga, Dominick. Mal posso esperar para ir novamente, quando poderemos repetir?

Meu cavalo estava amuado hoje pela tarde, papai disse que provavelmente é a idade avançada. Não quero que Thunder me deixe, Dom. Hoje, no estábulo, papai não me deixou entrar, disse que Thunder precisava ficar sozinho. Ninguém gosta ficar sozinho, nem mesmo um animal.

Eu acho que Thunder se foi, mas meus pais não tiveram coragem de me dizer. Às vezes fico chateada por ser tratada ainda como um bebê. Eu queria ter podido me despedir dele, Dom. Acho que irei até o estábulo durante a madrugada. Não poderei te enviar essa carta hoje, pois sei que ficará preocupado e vai querer estar comigo.

Mas acho que, pela primeira vez, preciso estar sozinha para me despedir de meu grande amigo. Espero que Storm, seu cavalo, tenha vida longa. Um pedaço do meu coração está se partindo em vários pedacinhos também.

Mas vou ficar bem porquê tenho você.

Com amor, Sky. (25-08-2007)"

Nunca poderei esquecer o momento que Ryder me deu a carta. Eu já sabia que o conteúdo não deveria ser bom, já que a expressão do meu irmão não era das melhores e ele sempre lia as cartas.

Como os dois estudavam juntos, era mais fácil deixar que Ryder se encarregasse de passar nossos recados um para o outro, já que comecei a ajudar meu pai durante as tardes e sobrava menos tempo para ir até a casa dela.

Naquela manhã, quando li seu recado em um pedacinho de papel recortado do caderno florido, corri até a sua casa sem pensar duas vezes.

Eu já tinha visto Sky chorar, mas não daquela forma. Não estava chorando por ter feito algum machucado ou tomado um tombo, estava chorando porque havia perdido seu grande companheiro.

Eu não sabia o que fazer e nem o que falar para fazê-la parar de chorar. Eu só queria que a sua dor fosse transferida para mim. Não a queria chorando, muito menos sofrendo.

Naquele dia, depois de deixar Scarlet descansando, meu pai conversou comigo e me ensinou que nem sempre podemos evitar que o sofrimento chegue a quem amamos. O sofrer enriquece a alma e nos faz evoluir.

Infelizmente, é uma das verdades mais pura que já escutei.

De dentro da caixa, puxo uma foto, das milhares que Scarlet me dava, e aprecio a imagem gravada no pedaço grosso de papel.

Uma árvore sem folhas, ainda marcada pelo outono rigoroso de antigamente, a neve no chão cheia de pegadas do suposto caminho que Scarlet fez para chegar no ponto perfeito para fotografar a fazenda em uma de suas estações preferidas.

Ainda lembro uma das coisas mais diferente entre nós dois. Ela sempre gostou do frio, do chocolate quente que minha mãe fazia e da lareira acesa.

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