CAPÍTULO SEIS

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Scarlet Smith.

O silêncio, gritante e ensurdecedor, preenche a pequena sala de perguntas não-feitas. Ainda continuo com os olhos presos na última frase da carta. Eu vou, para sempre e com toda as minhas forças, amar você.

A antiga Scarlet, de anos atrás, que escreveu todas essas linhas trancadas no quarto, não esperava que esse seria o rumo que a vida lhe daria.

Eu não voltei.

Ele não veio me buscar.

As cartas não existem mais.

O amor machuca, às vezes.

Não é como se a ferida ainda ardesse ou ainda doesse. A ferida cicatrizou, mas deixou uma marca profunda e intensa. Não dói pensar em Dominick Hills, mas aperta o peito de algo que não sei nomear.

E se eu o visse?

Me pergunto se ainda seria capaz de reconhecê-lo, de identificar o cheiro característico da sua pele e se as borboletas, há muito tempo esquecidas, voltariam a bagunçar o meu estômago.

A pequena e sonhadora Scarlet tinha razão ao escrever algumas partes.

Vou lembrar de você para sempre, escrevi.

Mas como poderia ser possível esquecer alguém que lhe prometeu uma vida?

— Eu acho que isso foi a coisa mais bonita que já escutei de alguém. — Liz dobra o pedaço de papel que acabei de ler com cuidado, colocando-o de volta ao envelope. — Você deveria ter enviado essa carta, Scar.

Balanço a cabeça de um lado para o outro.

Não, não deveria.

— E por que, não? — Deb cruza as pernas, examinando-me.

— Você não lembra? — Dou de ombros, jogando a cabeça para trás para passar a encarar o teto branco sem-graça.

— Você está falando daquele episódio que procurou o irmão dele, muitos anos depois, e viu que Dominick havia tirado uma foto com outra garota?

— Não era outra garota, era da antiga sala dele, Debbie — Faço uma careta só de lembrar.

— Espera, então você teve uma oportunidade de falar com ele? — Liz arregala os olhos, estupefata.

— Não com ele, tecnicamente. Minha mãe não era adepta das redes sociais, mesmo quando eu já era mais velha foi um tanto complicado dela entender que eu precisava me comunicar com outras pessoas. Coitada, hoje eu entendo ela, mas confesso que estava me tornando um pouco rebelde na época.

— Por que ela não deixava? — Ela pergunta.

— Ela já tinha que ter olhos até nas costas, sua vida era cuidar do meu pai e me colocar na linha com o resto de tempo que sobrava. Eu não era do tipo problemática ou qualquer coisa, sempre fui desse jeito, mas mamãe gostava de olhar meus cadernos e perguntar sobre a escola todos os dias, e se eu tivesse acesso a internet seria só mais um tipo de preocupação para ela, afinal, não tinha tempo sobrando para ver o que a filha fazia pela internet.

— Eu lembro dessa fase, sua mãe estava mergulhada em tanto problema que minha família estava pronta para ajudar — Debbie balança a cabeça, concordando.

— Sim, vocês foram importantíssimos para nós — Sorrio para ela, segurando sua mão gelada e fina. — Depois que meu pai quase morreu, minha mãe desenvolveu um estresse pós-traumático muito severo e intenso. Ela vivia para nós dois, mesmo quando a situação melhorou e meu pai saiu do quadro de risco. As coisas voltaram a melhorar depois que papai conseguiu o transplante. Foram tempos difíceis.

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