CAPÍTULO VINTE E SETE

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Uma semana depois

Scarlet Smith

Enquanto analiso o menu do restaurante italiano escolhido por Liz, chego à conclusão de que a saudade é algo que dói. Lembrar dos lugares, dos momentos e de conversas é, relativamente, fácil. Difícil é relembrar o cheiro da outra pessoa, do modos operandi que ela tem só com você e de como isso te faz ficar feliz.

Viro uma das fotos que fiz de Dominick, tiradas na breve estadia na fazenda e escrevo, um garrancho corrido e sem muito capricho, os seguintes dizeres: "Mantenho o amor aqui, nessa fotografia".

Passo o dedo pela foto, sentindo a marca da caneta do verso e, sorrindo feito uma idiota, rabisco em outro papel que encontrei o amor. Sempre gostei de escrever, de externar genuinamente o que se passa por dentro. É libertador, às vezes.

Encontrei o amor quando criança, quando nem sabia o significado da palavra "amar'. Pergunto a mim mesma, levantando o questionamento, se outras pessoas conhecem da mesma sorte que eu.

Antigamente, seu olhar significava tudo.

Hoje significa um pouco mais.

Uma semana longe de Dominick Hills, a saudade está apertando o peito, quase que o rasgando e já conto os dias para vê-lo novamente. Recebo notícias frequentes do estado de Joseph, seu pai, e sigo feliz em saber que seu estado é estável. Ele e a família já estão no casarão Hill, na fazenda.

Dom está se esforçando bastante para mantermos o contato. Sei o quanto não gosta desse tipo de comunicação, virtual e sem o contato carnal, porém, de toda forma, é a única maneira que encontramos de conversar, de nos mantermos juntos, apesar da distância gigantesca que nos separa.

Ele tem planos para vir até Nova Iorque. Dominick, de acordo com suas próprias palavras, "precisa" resolver as coisas com Hilary e respeito muito a sua decisão e admiro o seu caráter.

Mas há algo, dentro de mim, por menor e mais insignificante que seja, incomodando-me. Não é o fato de um possível e futuro encontro entre Dominick e Hilary, muito pelo contrário, aprecio o seu ato e não seria justo, com ninguém, muito menos com ela, que tudo terminasse assim, por um telefonema singelo na calada da noite.

Liz acha essa sua atitude desnecessária, pra ela, de toda forma, um ligação é suficiente para colocar os pingos nos "is", eu discordo. Isso não significa que eu não vá sentir ciúmes ou que não me preocupe. Eu o amo, amo tanto que dói o peito, mas amo ainda mais o seu caráter e sua atitude bonita.

Mas é essa, exatamente essa, a parte difícil. Separar as coisas. Acredito no amor e sei que ele pode ressignificar as coisas, ainda mais quando já estavam predestinadas a acontecer, mas... não consigo parar de pensar que estou destruindo os sonhos de outra pessoa, de Hilary. Apesar da primeira impressão, de que ela não era tão apegada assim ao Dom, ou de com Ryder a desgosta, ou como Elizabeth pareceu torcer por nós dois, não consigo deixar ela de lado e só fingir que era pra ser, quando, na verdade, estou prestes a deixar uma mulher com sonhos de se casar, de constituir uma família e de entrar com seu vestido branco na capela pequena do condado, à ver navios.

Deb já disse que não posso pensar assim, Liz também concordou. Que não estou fazendo nada, muito menos obrigando Dominick quebrar seu coração. Elas só enxergam o lado mais bonito, só veem a parte bela do reencontro de duas almas que se separaram no passado. Contudo, não é assim que meus olhos distinguem a verdade paralela da realidade conturbada.

"Isso é um problema que Dominick tem que resolver" Liz disse durante o jantar da noite passada.

"Coloca uma coisa nessa sua cabecinha bonita, ninguém colocou uma faca no coração do Dom e o obrigou a romper o relacionamento furado que estava empurrando com a barriga, Scar. Você não ouviu quantas vezes o Ry reclamou dessa mulher?! Você é a salvação do homem" Relembro as palavras que Deb utilizou para completar o pensamento de Liz, enquanto nos servia o vinho branco que havia ganhado de presente, de um amigo.

EMPIRE MYSTERYWhere stories live. Discover now