1 - Solo de violino

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Sayumi Aizawa

Naquela manhã, meu pai não me esperou para ir pra UA. Eu podia fingir que não ligava, que era normal, mas eu ligava. Desde que ele assumiu a turma 1-A, ele nunca mais parou em casa. Cheguei na escola e fui atrás dele, pude ouvir alguns alunos da 1-A falando sobre ele, sobre ele dormindo na sala de aula. Típico dele. Me perguntei se deveria mesmo quebrar a regra estúpida de não incomodá-lo na UA, qual seria o problema? Eu também estudava lá, não seria estranho falar com um professor...Não, seria estranho sim, o que uma aluna do suporte faria falando com um professor do curso de heróis?

Afastei esses pensamentos e bati na porta da 1-A, entrando logo em seguida. Meu pai lançou um olhar matador pra mim.

- Sayumi, o que você tá fazendo aqui? - Ele disse, nem se dando ao trabalho de se levantar pra falar comigo.

Toda a classe tinha os olhos fixos, olhei para o chão, minha ansiedade aumentava. Minha individualidade, telepatia, me permitia ouvir o pensamento de todos eles. Todos ao mesmo tempo. Eles pensavam sobre a minha aparência, sobre meu pai ter ficado tão bravo e sobre quem eu era. Ele não tinha contado a eles sobre a filha. Me aproximei dele, para que os outros não pudessem ouvir direito.

- Pai, você saiu muito cedo, não consegui falar com você.

- Fala rápido, preciso começar a aula

- Não esquece da minha competição de violino hoje, começa às 17h, mas meu solo é às 17h30. Você consegue ir né?

- Claro, claro. Você poderia ter mandado uma mensagem se era só isso. Agora vai pra sua turma, suas aulas já devem ter começado, não devia tá aqui.

Os pensamentos dele, sempre evitei ler a mente dele, mas naquela hora, ele pensou sobre como eu estava sendo um incômodo pro trabalho e pra vida dele. Tive vontade de gritar pra todos aqueles metidos da 1-A que eu era filha dele, a filha que ele se recusou a indicar pro curso de heróis porque não acredita em mim.

- Hey! Aizawa-sensei! Quem é ela? - Bakugou falou, já tinha ouvido falar sobre ele, um garoto problema.

Olhei para meu pai esperando que ele respondesse, ele suspirou e balançou a cabeça negativamente, respondendo em seguida.

- Essa é minha filha, Sayumi Aizawa. Mas ela já tá indo embora não é, Sayumi? - A cabeça da classe tinha se desconfigurado, claro, eles não sabiam de mim, os rosto de espanto eram ótimos. 

- Sim, eu já to indo. Foi um prazer conhecer vocês. - Fiz uma reverência enquanto ia em direção a porta.

- Espera! Espera! Qual seu curso? Qual sua individualidade?

Quem falou foi Izuku Midoriya. Meu pai falava muito dele, ele aparentemente não tinha uma individualidade boa. Olhei para meu pai e enviei um pensamento para ele por telepatia, perguntando se podia responder. Ele assentiu positivamente.

- Eu sou do curso de suporte, minha individualidade é telepatia. Posso ler mentes e enviar mensagens para outras pessoas também.

- Nossa, incrível! Prazer em te conhecer, eu sou Izuku Midoriya!

Eu sorri pra ele, principalmente porque seus pensamentos perguntavam se eu era filha de uma das Wild Wild pussycats. Sai da sala, indo em direção a minha, de volta ao departamento de suporte.

Depois da aula, esperei na frente da escola, vendo se meu pai ia sair, assim talvez pudéssemos ir pra casa juntos. Mas ele não saiu, fui pra casa sozinha e me arrumei pra competição, quando usava meu cabelo solto, lembrava muito meu pai. Lembrei de quando era criança e Present Mic dizia que eu era "igual meu pai...só que bonita" a lembrança me fez rir. Fazia muito tempo que meu pai já não era o mesmo.

Fui para a competição, por trás das cortinas do palco, procurei meu pai. Ele não estava lá, mas não tinha problema, ainda faltavam alguns minutos para minha apresentação. Fui me aquecer, mas meus pensamentos procuravam os dele, se ele estivesse perto, eu conseguiria saber. Nada. Nada. Nada. Eu não conseguia encontrar ele.

O apresentador do evento chamou meu nome. Respirei bem fundo e fui ao meio do palco. Fechei os olhos durante a performance toda, para não cometer o erro de procurá-lo na plateia. Ele não estava, ele não se importava mais. Na parte mais intensa da música, não consegui evitar que as lágrimas caíssem. Tentei usar minha telepatia para enviar mensagens pra ele.

Eu queria que você estivesse aqui. Eu queria que você estivesse aqui. Pai, eu precisava de você aqui.

Os aplausos da plateia me tiraram do transe, limpei minhas lágrimas e agradeci com uma saudação. Eu deveria estar feliz por aquilo, mas não conseguia, a pessoa mais importante pra mim não estava lá. No backstage, me tranquei no banheiro e chorei tudo podia. Enviei mensagens pro celular dele, muitas mensagens. Eu estava brava e triste, minhas palavras foram duras. Ele não me respondeu.

Tive que engolir o choro e fingir que estava tudo bem quando meu professor bateu na porta, as premiações iam começar. Retoques a maquiagem e fui para o palco, ao lado dos meus colegas. Eles chamaram os pais ou familiares para subirem ao palco também, fiquei sozinha no meio de todas aquelas crianças e seus pais orgulhosos.

Os prêmios começaram, eles chamavam os nomes a partir dos medalhistas de menção honrosa. Os pais iam a frente e colocavam as medalhas nos filhos, com todo aquele orgulho estampado no rosto. Pela primeira vez, pedi aos céus que tivesse perdido, seria humilhante passar por isso de novo.

- E o primeiro lugar, pelo terceiro ano seguido, vai para Sayumi Aizawa!

Os aplausos e gritos começaram, forcei um sorriso e recebi minha medalha e o troféu do apresentador da competição. Essa não era a primeira vez que isso acontecia, mas doía igual. Não conseguia entender como tínhamos nos perdido, quando ele ainda trabalhava como herói profissional, nunca faltou um recital, mesmo com todas as missões. Por que ele se afastou assim? Por que me abandonou desse jeito?

Fui pra casa, esperando que meu pai voltasse. A noite avançava e ele não chegava ou visualizava minhas mensagens. Por um momento, fiquei preocupada, lembrei dos dias de herói dele, das missões falhas, dos machucados, me senti fraca e incapaz. Esses pensamentos me consumiram tanto que não percebi quando ele abriu a porta e veio até mim.

- Hey, filha, parabéns pelo prêmio! Eu vi a foto! - Afastei ele quando tentou me abraçar.

- Por que você não foi??? Eu pedi pra você ir, você nem tinha trabalho.

- Eu já te disse, meu trabalho não tem hora, os alunos precisaram de mim depois da aula e acabei ficando pela escola.

- Eu também precisava de você, pai! - Subi para o meu quarto e bati a porta com toda a força que podia. Esperava que ele viesse atrás de mim, mas ele não veio. 

I'm Still Here [Finalizada]Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum