17 - Reparação de danos

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Sayumi Aizawa

Novamente, acordei no hospital, dessa vez em um hospital comum, fora da escola. Pela dor que sentia, acho que a recovery girl não pode me ajudar, ainda sentia a agonia de ter uma chama posta sobre a pele. Olhei o quarto em busca do Tio Mic, era ele quem eu precisava, ele quem iria me ajudar a aguentar essa dor, mas encontrei Todoroki e Bakugou discutindo em um canto sobre algo que, particularmente, não me interessava. Tentei chamá-los, minha voz falhava e estava mais fraca que o normal.

- Você acordou ela, idiota - Bakugou disse se aproximando.

- Você que fica gritando aí, bocó - Todoroki também se aproximou da cama.

- Parem de brigar, o que aconteceu? - Revirei os olhos, tudo me incomodava, até a luz forte do quarto refletida nas paredes brancas.

- Bateu a cabeça também foi? Os vilões atacaram a gente de graça! - Como sempre, Bakugou gritava no meu ouvido.

- Você foi pega por um ataque daquele vilão das chamas azuis. Present Mic te salvou, mas você quase morreu e vai ficar com uma cicatriz bem feia aí - Shoto falou.

- Ah...Tudo bem, não acho feio - Falei enquanto Bakugou me ajudava a ficar em uma melhor posição na cama, ele fez isso sem ser solicitado.

- Por que você não correu? Aquela foi mesmo a primeira vez que você viu vilões? - Uma bandeira vermelha se acendeu em minha mente, Todoroki confiava em mim, mas agora questionava, mentalmente, por que e como eu tinha chegado tão perto de um vilão.

- Eu corri, só que me perdi... - Mais uma vez, tinha que me fazer de burra para abafar as dúvidas dele.

- É, parece que você correu bem pra cima do vilão, eu estava olhando de longe - completou Shoto.

- Que coisa mais idiota, Sayumi! Como assim? Vocês do curso de suporte não tem treinamento básico não? - Katsuki, como sempre, nada calmo.

- Ei, eu nunca tinha visto vilões de perto, lembra? Não sou como vocês. Fiquei confusa na hora, todo mundo tava desesperado - Eu me enrolava ao justificar.

- Oh meio a meio, parou o questionário aí! Ela não é uma heroína e ainda é uma mimadinha!

Bakugou tentava me defender. Todoroki olhou pra mim e, naquela hora, eu soube que ele tinha acreditado na história. Não porque tudo fazia sentido agora e os olhos dele o teriam enganado na hora do ataque quando me viu correr em direção a Dabi, mas porque ele tinha medo de que eu realmente tivesse "tentado provocar minha morte". Era isso que ele pensava, mas, se essa desconfiança continuasse, seria um passo em falso e ele se tocaria que, na verdade, eu estava me aliando a liga dos vilões.

- Que merda de aniversário você teve né? - Bakugou mudou de assunto.

- É, mas não importa, é só um dia qualquer. Mas eu queria saber, cadê meu tio?

- O Presente Mic precisou ir na escola fazer os relatórios do que aconteceu e pediu pra nós dois ficarmos aqui com você, já que somos amigos - Shoto respondeu.

- Aizawa-sensei ligou dizendo que viria e que nós podíamos voltar pra UA, mas isso foi umas três horas atrás e ele não chegou, então resolvemos ficar - Bakugou ainda confiava no meu pai porque ele era uma figura de confiança importante pra ele, mas já entendi que, como pai, ele era um merda.

- Ah, ele não vai vir. Vocês podem ir, se quiserem.

- Não, não vou deixar você sozinha - Shoto puxou uma cadeira para mais perto da cama e se sentou.

- Só to aqui porque o Present Mic mandou - Bakugou também puxou uma cadeira.

- Tudo bem...Obrigada por ficarem - Sorri pra eles.

- Espero que o Aizawa-sensei chegue logo - Disse Bakugou, suspirei de cansaço da conversa que iria começar.

- Ele não vai vir, Katsuki

- Ele deve ter tido algum problema pra resolver, só tá atrasado.

- Katsuki, cala a boca.

- O que ele? Ninguém me manda calar a boca! - Ele se levantou bravo, olhando pra mim. Não me intimidei com ele, se me batesse, pelo menos eu já tava no hospital.

- Eu tô mandando! Cala a boca! To com dor pra caramba e você vem me falar de Aizawa-sensei, eu não quero saber dele! Ele não vem porque ele prefere a porra da classe 1-A, da UA, do que eu! Entendeu agora? Ele. Não. Vem.

Ele ficou surpreso por eu ter rebatido ele, a maioria não fazia isso. Todoroki se afastou, achando que Bakugou iria surtar ali mesmo pelo ego ferido, mas ele se sentou novamente na cadeira.

- Só tava tentando ajudar.

Suspirei de novo, a dor tinha ficado mais forte porque tentei falar alto com ele e talvez pelo estresse da situação. Me esforcei pra não demonstrar tanto. 

- Tudo bem, relaxa 

- Tenho uma ideia, por que a gente não assiste alguma coisa pra passar o tempo? - Todoroki queria que Bakugou calasse a boca e, talvez, a tv ajudasse.

- Coloca qualquer merda aí! - Bakugou disse. Todoroki levantou e procurou entre os canais alguma coisa que não fossem as notícias sobre o ataque dos vilões.

- Documentário do All Might! Volta! - Bakugou disse quando Todoroki passou direto pelo programa, ele obedeceu e o documentário sobre a vida de All Might e seus atos heroicos passava na tv. Os dois garotos o amavam e admiravam muito, eu não o achava tão bonzinho assim.

Apesar de ser um herói honrado, ele me irritava e tinha certeza que não podia contar com ele. All Might era do tipo que protegia a sociedade baseada nos heróis com a própria vida, ou seja, se eu o pedisse ajuda pra me livrar das agressões do meu pai, ele não ficaria do meu lado. Na verdade, ele seria o primeiro a fazer de tudo pra limpar a barra de Aizawa e, como sempre, eu seria a errada da história.

Todoroki percebeu que eu estava agitada, tanto pela dor como pela quantidade de pensamentos pessimistas, tristes e dolorosos que se encontravam no raio de 150m do hospital. Ele segurou minha mão, mesmo sob o olhar fulminante de Bakugou. O toque dele me confortou um pouco, mas não diminuía meu incômodo com a dor crescente. Queria que Present Mic estivesse aqui, ele era o único que conseguiria perceber que eu estava sofrendo, já que, por conta própria, eu não reclamaria.

I'm Still Here [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora