8 - Passado

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Sakura Aizawa

8 anos atrás

Saí de casa para buscar Sayumi na escola, tentando ser rápida porque ainda precisava preparar o jantar. Shota tinha me avisado que iria pra casa naquela noite, com suas responsabilidades de herói, eram raros os dias que tínhamos tempo pra passar em família, talvez esse era o motivo de nosso relacionamento estar desmoronando. Eu só aguentava me manter presa por causa da minha filha.

Acenei pra ela na entrada da escola, me entristecia vê-la sozinha, ela queria tanto ter amigos. Minha menina de cabelo negros como a noite veio correndo até mim, pela manhã, tinha prendido seu cabelo em duas maria chiquinhas, agora só uma restava. Ela nunca foi de ligar muito para a aparência.

- Oi, princesinha! Como foi seu dia? - Sorri e me abaixei pra ficar na altura dela.

- Normal, mamãe. Você trouxe os fones de ouvido?

Coloquei os fones nos ouvidos dela, ligando na playlist de músicas que Hizashi fez pra ela. Mesmo já tendo 8 anos, ela ainda não conseguia controlar a própria individualidade. Me dói ver minha filhinha chorar porque as vozes na sua cabeça não paravam, mas eu não podia ajudá-la, não sabia como era o mundo de quem tem individualidades. Ela caminhava à minha frente pela rua, dançando ao som da música que tocava nos seus ouvidos. Às vezes tentava cantar, mas aquelas palavras em inglês ainda eram difíceis pra ela. Gravei um vídeo curto e mandei pro Shota, sabia que ele não responderia, mas fazia questão de mantê-lo presente na vida dela. Eu não fiz uma criança sozinha.

Arrumei ela como uma verdadeira princesinha para esperar pelo pai, eu queria que ela usasse um vestido bonito, mas ela escolheu uma fantasia de herói, igual a que seu pai usava. Eu deixei, era bonito ver a admiração que ela tinha por ele, ela queria tanto deixa-lo orgulhoso. Os olhinhos de jabuticaba brilhavam enquanto ela esperava na sala.

- Mãe, quando papai chegar, você não chama direto pro jantar tá? Primeiro quero mostrar as músicas novas que eu aprendi no violino 

- Claro! Mostra pra ele seu prêmio da semana passada, acho que ele não viu.

Eu sorri, vendo ela correr para a prateleira que continha seus preciosos troféus, eram os primeiros de muitos, eu tinha certeza. Ela arrumou todos na mesa de centro da sala, ao lado do seu violino e esperou no sofá.

Conforme as horas passaram, percebi que ele não viria. Ela me olhou com tristeza quando pensei nisso, agora ela também sabia.

- Mamãe, ele vem sim. Deixa eu ligar pra ele?

- Filha, ele pode ter tido algum trabalho de emergência.

Mesmo com isso, ela ainda pegou o meu celular e ligou pra ele. Vi minha filha ligando pra ele por horas, me escondi na cozinha pra chorar. Ela não via o pai havia muitos dias e estava morrendo de saudade. Tentei me recuperar, me manter firme por ela,  mesmo sabendo que ela saberia o que eu estava sentindo.

- Filha, melhor você ir dormir. Amanhã de manhã eu tenho certeza que ele vem.

- Não, vou esperar, fica aqui comigo.

Abracei ela forte e esperamos. Ela não aguentou ficar acordada por muito tempo, deixei ela dormir no sofá e esperei. De madrugada, Shota chegou.

- Onde você tava??? Era pra ter vindo jantar!

- Por favor, não enche minha cabeça. Eu só fui jantar com o Hizashi, nada demais. Outro dia a gente faz isso.

- Sua filha tava te esperando! Nossa, se eu soubesse que você ia ser um pai tão ruim, nunca teria me casado com você!

- Sakura, cala a boca. Não enche o saco ok? EU tenho muita coisa pra fazer, você passa o dia todo em casa. 

Ele respirou fundo, fiquei com ainda mais raiva, odiava o jeito que ele me tratava.

- Eu não aguento mais! Quero o divórcio! - Gritei com ele, só assim pra ele me ouvir. O rosto dele mudou.

- O que? Divorcio? Você tá se ouvindo, Sakura?? Sem mim, você não seria nada! Ainda taria vivendo de migalhas da sua família. Eu te salvei e você tá me dizendo que não quer mais, é isso?

Ele se aproximava cada vez mais de mim, tentei não me retrair.

- Eu quero. Vou embora daqui com minha filha e, se depender de mim, você nunca mais vê ela!

Ele me segurou pelo braço, apertando forte. Tentei me livrar dele, mas não consegui. Ele era um herói e eu não era nada.

- Eu nunca deixaria. O que você iria fazer se ela perdesse o controle de novo? Você não consegue proteger ela! Sou eu quem cuido de vocês.

Meu braço doía cada vez mais. Com o barulho dos gritos, Sayumi acordou, saindo do sofá e vindo até nos dois correndo.

- Pai! Solta ela! Solta! Você tá machucando! - Ela tentou soltar a mão dele de mim, mas foi empurrada por ele, caindo no chão de costas.

- SHOTA! Você vai machucar ela!

- Isso é culpa sua! Quem mandou vir com essa história de divorcio?? Minha carreira de herói já tá ferrada por causa dos meus olhos, você quer ferrar com minha popularidade também?

- Me solta, a Sayumi tá chorando. Eu preciso ir ver ela. - Tentei ficar o mais séria possível, mas algo dentro de mim me dizia que ele não iria se controlar dessa vez.

- Nunca mais fala de divórcio. Nunca mais!

Ele finalmente me largou. Fui até Sayumi e peguei ela no colo, ela chorava e me perguntava se eu estava bem, pedindo desculpas por não ter conseguido me proteger.

- Sim, meu amor. A mamãe tá bem, a culpa não foi sua, foi do seu pai. Vou te levar pra dormir no quarto, não se preocupe.

Subi as escadas com ela no colo e a coloquei na cama.

- Eu juro que tá tudo bem, filha. Pode dormir tranquila. Te amo.

Dei um beijo no rosto dela e saí do quarto, deixando que ela adormecesse sozinha. Precisava continuar a conversa com Shota. Eu ainda não sabia, mas aquela era a última vez que veria minha filha.

Tivemos uma briga feia, ele era mais forte que eu. Sua raiva não o deixava ver o quanto me machucava. As agressões continuaram até que eu perdesse a consciência. Acordei no dia seguinte, internada em um hospital como se tivesse enlouquecido, meu corpo todo latejava de dor. Ninguém acreditava em mim. Ele tinha calado a boca de todos com dinheiro. Minha filha agora era refém de um homem descontrolado e protegido por todos e nada do que eu fizesse podia mudar isso.  Durante algumas semanas ele veio me visitar, buscando a reconciliação. Quando ele percebeu que eu não mudaria minha opinião, me obrigou a assinar uma carta destinada a Sayumi. Eu não sabia o que estava escrito, mas esperava que ela me perdoasse quando finalmente descobrisse a verdade.

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Postando mais um hoje porque me empolguei kkkkk

Esse capítulo foi diferente dos outros, mas é importante pra história e agora vocês conhecem a querida Sakura mãe da querida Sayumi 

O que acharam do que rolou?

I'm Still Here [Finalizada]Where stories live. Discover now