33 - O peso da culpa

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Sayumi Aizawa

- Ei, tira as mãos daí - Eu disse rindo enquanto Toga tentava colocar as mãos debaixo da minha blusa no meio da reunião com Shigaraki.

- Se for pra vocês ficarem de graça, melhor sair! - Ele disse bravo, me desculpei e tentei conter o riso, Toga nem tentava, ela ria na cara dele. Nós duas com certeza estávamos sendo o motivo dos tics de estresse dele naquele momento - Que merda! Pra fora todo mundo!

- Desculpa, Shiggy, pode continuar! - Tentei consertar as coisas, mas ele já estava bravo, todos saíram da sala reclamando.

- Você fica, Aizawa - Revirei os olhos, por que ele precisava ser tão babaca?

- Sim, senhor?

- Eu preciso falar com você sobre- Cortei ele enquanto ele falava, apenas pelo prazer de irrita-lo, já que ele também fazia questão disso.

- Aquilo de ganhar uma nova individualidade, eu sei. Então, como vai ser? - Aproveitei que não tinha mais ninguém no sofá e me deitei, deixando que ele falasse.

- All for one deixou uma individualidade especial para mim com o nosso médico. A gente nunca tinha achado alguém que pudesse receber, mas acho que você é a cobaia perfeita - Ele tinha um certo brilho nos olhos enquanto falava, assustador. Minha vida não valia nada mesmo.

- Cara, me chamar de cobaia não ajuda. Mas tudo bem, qual a individualidade?

- Eu chamo de Monster Touch. Precisa de uma capacidade mental muito grande pra lidar com os efeitos colaterais e, pela sua individualidade de nascimento, acho que você aguentaria.

- E se eu não aguentar? - Eu já tinha entendido, mas seria bom ouvir da boca dele.

- Você morre, mas é um preço pequeno em comparação a todo o poder que você vai ganhar. Sua velocidade vai aumentar, sua força bruta, você vai sofrer algumas transformações, mas como eu disse, é um preço pequeno. Com esse poder, você iria conseguir sua vingança, Sayumi, você só precisa aceitar.

- Eu nunca pensei em negar. Estou completamente entregue a liga, Shigaraki. Não me importo no que essa individualidade quase demoníaca vai me trazer.

- Você vai ver, o poder que você vai ter nas mãos vai ser incrível, não vais e arrepender nem por um segundo - Ele segurou meu rosto com alguns dedos, com cuidado para não me tocar com a mão inteira, seus olhos pareciam um abismo e seu sorriso não era amigável, era maléfico. Senti medo por pouco tempo, não tinha mais direito de me sentir assim. Não tinha mais direito de nada, a partir de agora, eu era uma pessoa tão ruim quanto Shigaraki e nenhum herói iria me salvar.

- Quando vamos fazer isso? - Perguntei, segurando no pulso dele e retirando sua mão.

- Sua animação me deixa tão feliz, nós vamos destruir esses vermes desgraçados que insistem em se chamar de heróis! Eu vou contatar o nosso médico, te aviso depois

- Eu tô saindo pra dar uma volta, se a Toga perguntar, diz que eu volto pra jantar com ela - Peguei um dos moletons fedidos dele emprestado, não era a melhor opção, mas precisava de um capuz para poder sair na rua. Não sabia exatamente onde iria, apenas queria me livrar um pouco do sentimento de culpa, ganhar uma individualidade para virar a arminha assassina de Shigaraki não era bem meu plano. Cada dia mais, a pessoa que eu era morria dentro de mim e a bondade ia desaparecendo. Tudo agora era tomado por dor, raiva e uma sede por vingança incontrolável. Minha mente e meu coração imploravam por uma pausa.

Sem ao menos perceber, eu já estava na casa dos Todoroki, procurando pela única pessoa que poderia me fazer sentir humana, nem que seja por 5 minutos. Rondei os pensamentos dali, ele não estava. Suspirei, era óbvio, eu deveria saber, a UA ocupava todo o tempo dele, assim como sempre ocupou a vida do meu pai. Era inevitável odiar aquele lugar, sempre roubando o afeto que eu achava merecer com suas missões e treinamentos estúpidos. Sempre. Em um ato impensado, invadi a casa dele, o sistema de segurança não era dos mais modernos e somente o irmão mais velho dele estava lá. Ele não precisava me ver. Seu quarto era frio e ainda guardava o cheiro doce dele. me deitei entre as cobertas perfeitamente arrumadas, era tão confortável que eu poderia dormir ali para sempre, abracei os travesseiros por alguns minutos antes de me levantar e ir para a escrivaninha dele.

Sinto sua falta, eu estou bem. Não faça nenhuma besteira só porque eu não estou por perto e, por favor, dê uma olhada no Bakugou, ele também tem um coração humano batendo dentro dele. Você também sente saudades? Espero que um dia você me perdoe por tudo que eu fiz com você. Tenho certeza que você vai ficar bem, Sho. Você merece ser feliz, mas eu não poderia te oferecer isso. Nada disso é sua culpa. Acho que esse é nosso último adeus. Continue guardando nosso segredo, ok?

O que era pra ser somente um bilhete quase se transformou em uma carta, engoli o choro, eu não tinha direito de chorar, era tudo culpa minha, tudo que estava acontecendo era consequência da minha loucura. Deixei a carta na escrivaninha dele e resolvi abrir o armário, procurando alguma coisa para levar de lembrança, era tão fofo o jeito que ele era organizado. Roubei um casaco dele, o único que não era produto de propaganda do all might ou do Endeavor. Me despedi do quarto dele e, de certa forma, dele também. Estávamos em mundos diferentes agora, eu não tinha direito de atrapalhar sua vida. 

I'm Still Here [Finalizada]Where stories live. Discover now