37 - Impaciência

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Sayumi Aizawa

Estavamos em um galpão abandonado, dezenas de vilões rodeavam Shigaraki enquanto ele, pela décima vez, explicava o plano para invadir a UA. Em um canto, eu sentava no chão enquanto Toga sentava entre minhas pernas, apoiando a cabeça no meu ombro. Suas mãos inquietas brincavam com as minhas, passando as unhas afiadas dela pela minha pele. Além do tédio de mais uma reunião, o que mais a irritava era as pessoas da gangue do Overhaul, não tinha como não odia-los, por um momento tive vontade de mata-los só para alegra-lá.

- Baby, será que o Shigaraki não vai parar de falar nunca? - Ela disse com uma voz manhosa, algumas pessoas nós olharam desgostosas, fechei a cara para eles por um momento e depois me voltei novamente para ela.

- Ele já tá acabando, já tá na parte que explica onde ficam as rotas de fuga - dei um beijo leve na cabeça dela e voltei a ouvir Shigaraki, apesar dele fazer o mesmo discurso em todas as reuniões.

- Ninguém pode dar pra trás, esse é o início de tudo, entenderam? Vamos acabar com esse conto de fadas que os heróis criaram. Vamos destruir um por um até que nós sejamos os a lei

Ele disse com sua voz rouca, seu olhar era assustador para os outros, mas não pra mim. Na verdade, ele parecia mais uma criança que foi contrariada do que um vilão assustador. Nessas horas sempre lembrava das coisas que cresci ouvindo sobre vilões. Meu pai falava sobre como eles eram sujos e sobre a maldade infinita que os habitavam, mas agora, era simplesmente impossível acreditar nisso.

Toga não era suja, ela foi desprezada, machucada e precisou fugir dos heróis porque foram eles quem a excluíram. Shigaraki não era sujo, ele foi abandonado por quem devia proteger ele, tinha direito de estar tão bravo. Twice não era sujo e malvado, ele era a pessoa mais cuidadosa e afetuosa que eu conheci em anos e encontrou compreensão na liga. Dabi não era sujo e malvado, ele foi machucado e traumatizado pelo herói mais amado do país. Isso nem é sobre eles, é sobre mim. Não sou suja, não sou malvada. Eu mereço uma vingança, mereço pegar de volta o que foi tirado. Os heróis e a sociedade no geral podiam não entender, mas eu não posso controlar essa ânsia por justiça.

- Certo? - sussurrei sem querer, absorta em pensamento, não consegui controlar minhas palavras.

- O que, baby? - Toga disse confusa, ela tinha ouvido, só não entendeu sobre o que estava falando. Sorri levemente e balancei a cabeça.

- Nada, baby, desculpa

- Você tem estado muito avoada nos últimos dias, é por causa da individualidade?

- Não, eu já me adaptei a individualidade, não foi difícil - a pergunta me inquietou um pouco, Toga não sabia, mas tinha passado noites em claro treinando com Dabi, ele estava me ajudando a aperfeiçoar o que eu tinha ganhado, mas não era o professor mais gentil, afinal, ele aprendeu com Endeavor. Por sorte, a individualidade aumentou a rapidez da minha recuperação e na manhã seguinte os hematomas já estavam sarados ou podiam ser facilmente cobertos com maquiagem.

- É que eu fiquei meio preocupada, Shiggy me disse que seu coração quase parou lá no médico, parece perigoso demais pra minha baby!

- Não precisa se preocupar, juro, eu to completamente bem - menti. Voltei a prestar atenção na conversa, o grupo já estava disperso e Shiggy se despedia.

- Eu espero todos vocês aqui, quero todos armados até os dentes, nós vamos destruir aquele lugar! - Alguns gritaram concordando, Toga tampou levemente meus ouvidos, mesmo que aquilo não mudasse muita coisa, era carinhoso. Twice e Dabi se aproximaram de nós.

- Vocês passaram a reunião toda de pegação, todo mundo vendo! - Dabi disse.

- A gente não fez nada imoral, vocês que odeiam gays! - Toga protestou, mas um sorriso se formava em seus lábios.

I'm Still Here [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora